Divulgação do metal português

Entrevistas

Terror Empire

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   Terror Empire, banda de thrash metal formada em 2009 com localização em Coimbra, tem agitado as águas do nosso panorama underground, sendo de realçar o seu álbum de estreia “The Empire Strikes Black” de 2015 através da Nordavind Records. Antes já tinham apresentado o EP “Face the Terror” de 2012.

   Som directo, agressivo e com característica de murro no estômago, estivemos à conversa com o vocalista Ricardo Martins que nos abre às portas ao mundo de Terror Empire. A formação desta máquina trituradora é constituída por Ricardo Martins (voz), Rui Alexandre (guitarra), Rui Puga (baixo) e João Dourado (bateria)

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Viva Ricardo! É uma honra muito grande ter os Terror Empire, representados por ti aqui nas páginas da Ode Lusitana, ainda para mais quando editaram em 2015 o vosso fantástico primeira-longa duração “The Empires Strikes Black”. Muitos concertos dados, muitas entrevistas, muitas críticas positivas ao álbum, que já faz parte do vosso ADN e do público que assiste aos vossos concertos, marcaram este registo. Por isso vamos voltar ao ano de 2009 que é quando tudo começa. Como se dá a formação da banda? Já existia um contacto grande entre os elementos dos Terror Empire?

Boas Marco. Antes demais, a honra é toda minha. Agradeço em nome dos Terror Empire a entrevista.

Voltando a 2009… Eu, o Rui e o Puga somos amigos de longa data e já tínhamos tido uma banda. Nessa altura andávamos à procura de um baterista para começar um novo projecto. O Puga, entretanto, conheceu o Gonçalo e o Sérgio num concerto em Arganil. Começámos por seduzir (ahahah) o Gonçalo, combinámos uns ensaios e as coisas foram resultando. Pouco depois junta-se o Sérgio e as coisas começaram a ganhar forma de Terror Empire.

 

Os vossos ensaios eram completamente descomprometidos até se lembrarem que estava na altura de lançar algo sob a forma o vosso trabalho de estreia o EP “Face the Terror” de 2012?

Desde que formamos os Terror Empire que o objectivo passava por gravar algo e fazer as coisas como deve de ser. Claro que no início, os ensaios eram mais uma descoberta de entrosamento e de gostos. Após essa fase inicial, os temas começaram a surgir mais coesos e com um cunho muito nosso. Sabíamos que para sermos levados a sério e arranjarmos mais concertos teríamos de ter algo gravado. Gravámos, lançamo-nos às feras e foi o que melhor fizemos, chegámos a outros palcos, tocámos de norte a sul. Tem sido muito gratificante.

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Existem várias coisas que definem o som de uma banda, sejam as guitarras, secção rítmica ou as vozes. No teu caso como decorreu essa realidade de teres o posto de vocalista na banda? Foi uma grande luta até atingires este teu registo vocal? Quais são os vocalistas que mais admiras?

Foi simples, não sei tocar nenhum instrumento e curtia mandar uns berros ahahah. E acho que foi algo que decidimos em muito putos (eu e o Rui), eu era vocalista e ele guitarrista, tínhamos uns 11 ou 12 anos, mal sabíamos que isso iria mesmo acontecer ahahah.

O registo, e é aquela resposta que quase todos dão, é até ganhar calo. Foi tentar até chegar a um em que me sentisse confortável e o conseguisse sem esforçar e sem dar cabo da garganta.

Max Cavalera e Phil Anselmo, são dois dos que mais me influenciaram, mas sempre procurei achar o meu próprio registo.

 

Inspiração para a escrita das letras não te falta, já que basta olhar para o estado da sociedade, mas como é teu o processo de escrita?

Adoraria estar aqui com um grande paleio de um processo de escrita todo pseudo-intelectual, mas é muito terra a terra. Geralmente o que me leva a escrever prende-se com situações de injustiça social, com a degradação civilizacional a que assistimos e algumas situações pessoais. Há uma clara decadência do humanismo, estamos focados mais na posse, em jogos de poder e em lucros do que em cuidarmos uns dos outros. É como dizes, inspiração, ou motivos para escrever não faltam.

Despertando para um tema, escrevo sobre isso, fazendo posteriormente os arranjos para que se encaixe na música.

 

A vossa evolução e amadurecimento foi evidente ao longo dos anos até que se avizinhou um novo trabalho, mais propriamente o longa duração de estreia. Mas antes e em 2013 entra o João Dourado para a bateria. Como se deu o contacto e como foi a adaptação tanto da banda como dele? Ainda para mais quando a parte final de produção e mistura do álbum é feita nos Golden Jack Studios, pertença do João. No meio da agressividade, há também muita festa. Que recordações guardas da gravação do álbum e quais os momentos especiais que mais te orgulhas?

O Gonçalo, por motivos profissionais e pessoais saiu do país e tivemos de procurar baterista, o que aqui pela zona de Coimbra, na altura, não se estava a figurar um processo rápido, dada a escassez de bateristas disponíveis dentro do género. Lembrámo-nos do Dourado, mas não saberíamos se ele iria curtia a ideia, dado que o thrash não era a cena dele. Ele era o baterista de Antichthon (black metal). Falámos com ele, combinaram-se uns ensaios e o homem arrasou. Sentimos logo que ele era o ideal, para além de grande músico as suas qualidades humanas equiparam-se ao seu talento, o que levou a que a adaptação fosse um processo natural e rápido. O Dourado trouxe-nos uma agressividade ainda maior e com as suas influências do black metal permitiu outras abordagens mais extremas.

As gravações foram semanas intensas, com vários sentimentos experienciados, mas focados em conseguir um trabalho que nos orgulhasse e esse orgulho surge quando escutas o resultado final e te sentes concretizado e realizado.

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Após a edição do álbum houve uma azafama enorme com concertos presenciados por muita gente, as entrevistas e uma roda-viva que não parava. Nessa altura como sentiste o pulso ao underground nacional? Existem muito boas bandas dos mais variados géneros no país todo, mas ainda notas grandes diferenças de organização nos eventos de sítio para sítio?

Está bem vivo. Acontecem eventos todas as semanas. Temos bandas com enorme qualidade em Portugal e que dão grandes concertos. O público que se desloque a um qualquer concerto do underground não sairá frustrado com o que pagará, às vezes um valor bastante irrisório. As bandas comportam-se como profissionais, as condições para o público estão cada vez melhores, há um maior cuidado por parte dos organizadores em oferecer melhores condições ao público tal como às bandas.

Sou bastante grato a todos os que organizam tal como a todos os que aparecem e vão permitindo que o movimento viva e cresça.

 

O que ainda atraí os mais jovens a ouvirem Metal e que se vai notando com a presença de uma nova geração nos concertos?

O mesmo que nos atraiu. Satanás ahahah. Fora de brincadeiras, acho que é o mesmo que nos levou a gostar, seja pela agressividade, dinâmica, energia, musicalidade, letras, etc. É algo que nos toca e que fica. Não é moda, ou se gosta ou se odeia.

Eu acho que o pessoal mais novo, felizmente, é mais eclético. Não se limita a gostar apenas de uma vertente e tudo o resto é mau.

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Locais de concertos não tem faltado um pouco por todo o lado e Coimbra sempre foi conhecida como uma “maternidade de bandas” dos mais variados estilos, onde entre outras podemos considerar os M’as Foice, assim como os Tédio Boys uns dos grandes impulsionadores desta criatividade que se vivia em Coimbra. Concertos não faltavam e bandas também não. Para o lançamento do vosso álbum “The Empire Strikes Black” escolheram um local bem no centro de Coimbra, o Salão Brazil, com a participação dos Destroyers of All e Revolution Within, com uma casa muito bem composta. Mas tudo ficou por aqui. Existe uma quebra acentuada de concertos dedicados ao Metal em Coimbra (em Aveiro também aconteceu o mesmo, mas fica a análise para uma próxima), os espaços escasseiam, o movimento perde força e até vemos o Mosher Fest a se deslocar para os arredores de Coimbra. Consegues explicar o que se está a passar na cidade de Coimbra, ainda para mais quando temos boas bandas na zona e um público enorme devido a ser uma ‘cidade universitária’? O que é necessário para melhorar esta situação?

Sobre Coimbra, na verdade não posso opinar, não vivo em Coimbra e como tal desconheço a realidade da cidade. Sei que vão acontecendo alguns eventos, mas concertos de metal não tem havido muitos, para além do Mosher Fest.

Um facto é que há uma maior dificuldade em encontrar um local central em Coimbra, que ofereça as condições necessárias para a organização de concertos de metal. Por isso a tal deslocalização que falas. Não posso dar uma resposta mais fundamentada, porque não vivo o dia-a-dia da cidade.

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Tudo tem a sua origem e no teu caso, a viver na Lousã, como foi essa tua descoberta pelo Metal? Tinhas um grupo de amigos que se reuniam para comentar e ouvir as novidades ou procuravas conhecer por ti próprio as novas sonoridades? Ainda te lembras dos primeiros álbuns que te despertaram essa paixão? Quais foram esses álbuns?

A minha descoberta do metal na Lousã foi semelhante à de qualquer outra pessoa quer viva em Coimbra, Lisboa ou outro lugar do planeta.

Foi na Lousã que vi RAMP, ainda chavalito, graças ao meu irmão ser mais velho e eu colar-me a ele. Foi também através dele que tive acesso a muitas outras bandas. Embora os nossos gostos musicais sejam muito diferentes, ele tinha uns amigos que ouviam metal e eu ia ouvindo umas cassetes que ele ia lá tendo em casa (sim, sou do tempo das cassetes). Ainda sou do tempo em que havia programas na TV que passavam metal de vez em quando e ia-se descobrindo algumas coisas. Depois entre amigos íamos trocando música.

Tenho um sentimento especial pelo “Chaos AD” dos Sepultura, pois foi o primeiro álbum que comprei. O “Intersection” dos RAMP também é um que muito estimo e que já mal roda de tão gasto que está, tinha uns 15, 16 anos. Depois nas tais cassetes tinha lá Pantera, Metallica, Napalm Death, Ratos de Porão, Iron Maiden.

Foi por aqui que começou o meu interesse.

 

Estamos quase a chegar ao fim, mas não podíamos terminar esta entrevista sem saber que novidades é que nos podes dizer do novo álbum? Já tem nome e vão ter a participação de músicos convidados? Após a saída do vosso guitarrista Sérgio Alves estão a planear colocar um novo elemento?

Estamos a finalizar a composição do álbum. Em breve vamos divulgar várias novidades, mas podem esperar um álbum com a agressividade característica.

 

Agora sim Ricardo, é tudo e queria agradecer pela tua disponibilidade. Estas últimas palavras são tuas e ficamos a aguardar as novidades de Terror Empire.

Foi um prazer amigo. Obrigado por todo o apoio que dão às bandas, divulgando os nossos trabalhos. Grato a todos os que fazem o underground nacional pulsar. Vão estando atentos ao nosso facebook e site para saberem as novidades do próximo álbum e outras. Um abraço!


Cortina de Ferro

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   Cortina de Ferro é um programa radiofónico da autoria do Daniel Pacheco, com emissão na AVFM de Ovar, mas também disponível via streaming, que se dedica à divulgação do Som Eterno, com especial incidência no underground e que começou as suas edições em Julho do ano passado.

   Daniel Pacheco é um verdadeiro divulgador e nada melhor que conhecer o seu excelente programa, assim como as muitas histórias que nos tem para contar.

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Começas há quase 30 anos e por curiosidade na ‘mesma’ estação que estás actualmente, mas que na altura se chamava Rádio Atlântico, uma das muitas estações que existiam nesses anos, com o programa “Onda Forte”. Como surgiu esta tua paixão pela rádio e esta oportunidade em especial?

A paixão pela rádio não foi imediata, mas vou-te confidenciar uma história deveras interessante. Um determinado senhor de nome Eduardo Pereira, já na altura na casa dos 50 anos e penso que nem a 4ª classe tinha, era um “engenhocas” como nunca tinha visto. Ele era, e penso que ainda seja (apesar da Idade), um “macanudo” inveterado (Macanudo=Utilizador intenso de comunicações via Rádio CB), foi ele que construiu o primeiro emissor da Rádio Atlântico, era tão fraquinho que apenas cobria um raio de 1 Km, ou seja, apenas era escutada no centro da cidade de Ovar. Tudo era artesanal, sendo a mesa de trabalho composta por 2 “pratos”, mesa de mistura de 6 canais e 2 leitores de K7’s, tudo isto preparado por ele, e assim nascia a primeira Rádio Pirata do concelho de Ovar. Para que a mesma funcionasse das 7 da manhã à meia noite, era necessário ter pessoal suficiente para cobrir todas essas horas, pois como todos sabem, na altura não existiam computadores nem software que hoje em dia todas as rádios possuem, software esse que torna uma rádio moderna autónoma, pois pode funcionar 24 horas por dia sem qualquer supervisão humana. Mas na altura nada era assim, era preciso batizar muitos “maçaricos” quase diariamente, e numa certa altura através do já desaparecido presidente da Casa do povo de Ovar, onde estava e ainda está situado os estúdios da atual AVfm, presidente esse que tinha uma ligação de grande amizade com o meu pai, falou-lhe um dia na possibilidade de eu passar a colaborar com a Rádio Atlântico, e é assim que começa a minha aventura nas lides de animador de rádio. Basicamente todos os colaboradores eram bastante jovens, cada um “inventava” um programa dentro do seu gosto pessoal, todos tinham que carregar o seus discos e K7’s sempre que tinham uma emissão agendada, a rádio não possuía qualquer registo musical, queres fazer um programa de rádio?? Arranja musica para ele…e eu com os parcos recursos financeiros, lá ia comprando uns discos usados, e raramente uns novos, apenas as K7’s abundavam com gravações enviadas de contatos que já tinha na altura com pessoal de lisboa ligado aos Fanzines que faziam cópias, de outras cópias de bandas que se conseguia arranjar na altura. Com algum material em carteira que dava para 1 hora de emissão, então com 16 anos, nasce o primeiro programa de Metal no concelho de Ovar o “Onda Forte”, que curiosamente e até aos dias de hoje, não existiu mais ninguém no concelho a ter um espaço dedicado ao “som eterno” numa emissora, a partir daí a paixão foi crescendo, e o “bichinho” da rádio nunca mais desapareceu.

Já tinhas alguns programas de referência que seguias? Com que idade inicias estas tuas andanças e como foi o teu teste de fogo em relação a estares em frente a um microfone a falar, já que o ‘dom da palavra’ é bastante importante para um locutor?

Já agora para que todos se possam situar, nasci no dia 7 de Dezembro de 1969, comecei as lides radiofónicas em 1986, então com 16 anos. Escutava regularmente o programa “Som da Frente” de António Sérgio que emitia todos os dias à tarde entre as 16 e as 17 horas que mais tarde passou para horas improváveis… da 1 às 3 da manhã, também o “Rock em Stock” de Luis Filipe Barros que ia para o ar das 17 ás 18 horas e mais tarde passou a emitir das 00h à 01h, mas o grande influenciador foi sem duvida o carismático “Lança Chamas” de António Sérgio, que emitia aos Sábados à tarde. Relativamente ao teste de fogo frente a um microfone, não me recordo muito bem desse dia, a única coisa que me lembro perfeitamente, era as “bacoradas” que saia pela boca ao mencionar o nome das bandas, e não era o único, a maior parte não dominava bem o inglês devido à juventude, e o aperfeiçoamento da voz perante o microfone vai evoluindo naturalmente, ou seja, com o tempo moldamos a nossa voz mediante o que escutamos pelos headphones, é sem duvida um processo evolutivo.

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Daniel Pacheco com o programa “Poluição Metálica

Desde Julho do ano passado estás de volta à Rádio AVFM de Ovar, com o teu novo programa “Cortina de Ferro”. Como nasce esta tua amizade com o Zé Luis e como surgiu este convite dele para apresentares este teu programa? A chama estava acessa, mas deste uma resposta positiva logo de imediato? Tinhas uma ideia específica para o programa? Como te surgiu o nome “Cortina de Ferro”?

O Zé Luis é um grande amigo de infância, tal como eu também é fundador da Rádio. O Zé Luis ao contrario de mim, nunca mais largou as lides radiofónicas, tendo acumulado uma grande experiencia como locutor e produtor, liderou várias rádios no distrito de Aveiro, além de ser um DJ e produtor bastante conhecido, nos dias de hoje tem a sua própria empresa de publicidade, e acumula o cargo de vice presidente da AVfm bem como a direcção de programas em part-time. Depois da grande remodelação que a AVfm sofreu à cerca de 2 anos, com a anterior direcção a ser demitida e a tomada de posse da atual, a Rádio AVfm renasceu das cinzas e está em constante crescimento e sustentabilidade. Uma das prioridades da atual direcção foi vocacionar a rádio para aquilo que ela é na essência, uma rádio local e não uma cópia de outra rádio de grande projecção, o que infelizmente quase todas as rádios fazem, perdendo assim a sua identidade como rádio local. Existem neste momento programação para todo o tipo de gostos musicais e não só, existe diretos de várias modalidades desportivas praticadas no concelho, cobertura de eventos culturais, etc. Para isso a direcção convidou alguns colaboradores da “velha guarda” que foram acompanhando o crescimento atual da AVfm , claro que faltava algo na grelha, e o Zé Luis tinha a carta na manga pronta a lançar quando fosse o “timing” ideal. Ele sondou-me por diversas vezes para a possibilidade de ser integrado na grelha de programação um programa dedicado ao Metal em geral, pois era o único género que a grelha ainda não contemplava, confesso que na maioria das conversas fiquei sempre renitente, estava bastante “enferrujado” pois à anos que não olhava para o microfone, mas o “bichinho” da Rádio falou mais alto e a resposta positiva surgiu em Junho de 2016, começando as emissões regulares depois das férias em Julho de 2016. O nome para um novo programa foi decidido em conjunto, eu tinha 2 nomes em mente, mas um deles era apenas de uma palavra e o Zé Luis aconselhou-me o atual, pois com 2 nomes a pronuncia tornasse totalmente diferente e soa melhor, assim nasce a “Cortina de Ferro” inspirada na Guerra fria. Inicialmente procurava um nome que tivesse impacto e ao mesmo tempo desse para jogar com as palavras, e Cortina de Ferro encaixou na perfeição, pois podes simplesmente citar com impacto Cortina de Ferro, como jogar com ela como por exemplo: Abre-se a Cortina, vão rasgar a Cortina, entram pela Cortina, etc. Estou bastante satisfeito com a escolha e o consenso foi geral.

Tens o “Onda Forte” e o “Poluição Metálica” nos teus inícios radiofónicos. Como fazias as tuas pesquisas para os programas? Tinhas parcerias com algumas editoras, além da correspondência que recebias das bandas? Foram alturas talvez complicadas, mas ao mesmo tempo foi uma época de bastantes descobertas musicais. Como encaravas o metal nesses anos? Estavas em contacto com mais programas de rádio nacionais?

Esta pergunta vai ter uma resposta curta, a razão é obvia, pois é sabido que nessa altura a comunicação apenas era efectuada por telefone fixo o que era caro, ou então por carta via CTT, rádios piratas em contato com editoras nem pensar, correspondência com bandas?, como? se nem contatos delas existiam, não tinha-mos contatos com outros programas similares porque nem sequer conhecíamos as rádios, quanto mais os programas emitidos pelas mesmas, as informações que recebia eram apenas dos fanzines da altura vindos de Lisboa através de um primo meu fanático por Metal, e depois a muito custo comprava a Metal Hammer que era caríssima, o jornal Blitz, sim no inicio o Blitz era uma jornal antes de ser revista, que sempre trazia algumas noticias de Metal, e mais tarde surgiu a revista Portuguesa Rock Power. A divulgação e conhecimento de bandas nacionais e estrangeiras eram feitas praticamente através de cópias manhosas em K7’s e algumas gravações do “Lança Chamas” sempre a rezar para que o António Sérgio não falasse. Depois era escutar em reprodutores de K7’s a pilhas (Walkman), com as cabeças carregadas de metal, pois as K7’s de crómio eram muito caras, portanto toca a limpá-las com uma cotonete e álcool, velhos tempos…os anos 80 foram a época de ouro do Metal Internacional , e o despontar de muitas bandas nacionais, nessa altura foram lançados os maiores marcos do Metal mundial, que influenciaram e continuam a influenciar milhares de bandas um pouco por todo o mundo, som esse que ficou imortalizado e que perdura até aos dias de hoje.

Hoje em dia a informação abunda na internet, as bandas são bastantes, mais fácil de entrar em contacto com elas, com edições constantes a surgirem todos os dias. Como fazes a tua preparação dos programas? Como organizas os vários contactos que tens tido diariamente e de todas as partes do mundo? Tens a presença constante de alguém que te ajude?

A internet e mais propriamente as redes sociais, fizeram a “Cortina de Ferro” em pouco mais de 6 meses, atingir níveis de notoriedade e projeção nunca antes imaginados por mim, consegui colocar o programa num patamar de tal maneira elevado em 6 meses, do que qualquer outro anterior em muitos anos. Eu tenho a minha vida profissional (Comercial na área das TI), o que me consome largas horas do dia, e é à noite depois do jantar que me sento calmamente junto ao meu “Desktop”, onde faço a gestão diária das minhas 2 páginas, a pessoal e a oficial. Nunca vou dormir antes da 1 da manhã, pois tenho “timings” a cumprir com uma regra bastante simples; em primeiro lugar dou resposta a todas as mensagens que me enviam diariamente, sejam de ouvintes e amigos, ou de bandas, depois disto feito vou pesquisando através de Sites e Grupos da especialidade, noticias, novos lançamentos, etc., ao mesmo tempo vou descarregando “aço” que as editoras e bandas me enviam para divulgação.

Quando faço uma emissão especial, por exemplo, dedicada a um país especifico, essas são bem mais trabalhosas, ou já tenho algum material relativo ao país em questão, ou então tenho que entrar diretamente em contato com as bandas pretendidas, para que me enviem todo o material necessário, posso afirmar que me tem surpreendido este género

de emissão, o interesse e o envolvimento das bandas nos dias que precedem estas emissões deixam-me com vontade de fazer crescer a “cortina de Ferro” cada vez mais, tem sido extraordinário. A preparação da emissão começa sempre à 2ª feira e tem que estar concluída no máximo até 5º feira à noite, dia em que divulgo a “playlist” para sábado, pois a 6ª feira é dedicada a redigir toda a informação acumulada sobre as bandas que vão “rolar” nesse sábado. É um trabalho exaustivo que demora horas, tanto mais que sou apenas eu que faço todo o trabalho, para que a emissão vá para o “ar” todos os Sábados.

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A primeira e única festa de Metal organizada em Ovar até hoje, com o cunho do Daniel Pacheco

Hoje em dia a informação abunda na internet, as bandas são bastantes, mais fácil de entrar em contacto com elas, com edições constantes a surgirem todos os dias. Como fazes a tua preparação dos programas? Como organizas os vários contactos que tens tido diariamente e de todas as partes do mundo? Tens a presença constante de alguém que te ajude?

Quando comecei as emissões regulares da Cortina de Ferro, tive sempre como prioridade a divulgação do Underground, são as bandas inseridas neste cenário que necessitam de maior apoio e divulgação, o cenário do Mainstream já tem apoio quanto baste, não querendo dizer com isto que não passe bandas pertencentes ao Mainstream nacional e internacional. A dificuldade em encontrar registos para download de bandas não muito conhecidas é muito, daí só tenho uma hipótese, que é o contato direto com as mesmas, o que até hoje tem corrido na perfeição. Para quem escuta as emissões da Cortina de Ferro, sabe que as minhas “Playlist” englobam todo o tipo de sonoridades, sejam nacionais ou não, daí, normalmente começo as emissões com sons mais “suaves”, para com o decorrer da emissão ir “acelerando” até ao Metal mais extremo, são emissões para todos os gostos. Quanto à descoberta de novas bandas, tenho os amigos da “cortina de Ferro” que diariamente me enviam “link´s” para audição, a quem o faz, fica desde já aqui o meu agradecimento publico, pois o meu tempo é escasso e esse gesto é uma mais valia.

Uma das particularidades é disponibilizares o programa em streaming, o que facilita muito a divulgação dos teus programas e que se tem repercutido nas várias respostas positivas nacionais e internacionais. Para confirmar tiveste ainda há pouco tempo uma entrevista concedida à página colombiana “Solo para metal maníacos”, o que foi excelente. Que novas parcerias conseguiste criar com esta nova forma de contacto a nível mundial? Também existe interesse no nosso metal por parte das pessoas que entram em contacto contigo?

É precisamente aqui que as redes sociais desempenham o seu papel máximo, pode não parecer normal, mas não sou eu que procuro parcerias. As emissões dedicadas ao Underground de outros países é que me trouxeram esses contatos. As páginas, grupos no Facebook, Blogs e editoras de vários pontos do mundo, quando vêm a partilha que

as bandas que constam nas “Playlists” fazem nas suas páginas oficiais, e espalham pelas suas redes de amigos, entram em contato comigo, tão simples quanto isso, o que me deixa verdadeiramente orgulhoso, do trabalho feito nestes parcos meses. Relativamente ao interesse demonstrado pelo nosso Metal, infelizmente penso que não seja muito, e em certa parte compreendo, o interesse desses contatos é para que divulgue o seu próprio som, e nada mais, tirando uma solicitação de um Blog de Atlanta Midnight Children que me solicitou para que escolhesse 5 bandas de estilos diferentes do cenário Underground Lusitano, o que fiz e foi divulgado no mesmo Blog no inicio deste ano e que podem encontrar a publicação na página oficial da Cortina de Ferro.

 

Falando do nosso metal, observamos um movimento crescente, com o aparecimento de várias bandas com excelentes trabalhos, assim como bandas mais antigas que ainda se mantêm com a edição de novos trabalhos. Qual a tua opinião do ponto de situação actual do underground nacional, seja a nível de bandas, concertos, assim como público?

Penso que a generalidade do Undeground nacional está bem, tem qualidade e recomenda-se, pena é que os apoios por parte das editoras seja escasso, e que a maioria apenas tem umas “demos” ou apenas um EP gravado, muitas vezes gravações de qualidade duvidosa fruto das mesmas serem editadas pelos próprios meios. Segundo um estudo que li recentemente, Portugal é dos países que mais bandas de Metal têm “per capita”, o que leva a esta mesma situação. A maior parte das recém nascidas, pouco tempo duram, e as que vão subsistindo contam no seu line-up músicos com trabalhos paralelos com outras bandas, outras vão subsistindo com os concertos que felizmente vão acontecendo quase semanalmente nos sítios que todos conhecem, tocando quase sem retribuição alguma, ou seja, estão tal como eu, tocam por amor à causa sem receber nada em troca…Quanto ao publico, sempre que tenho oportunidade de ir ver um concerto, o que é raro devido à escassez de tempo, parecem quase sempre os mesmos, a “tribo” está a necessitar de sangue novo!!!

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O que é necessário para atrair mais pessoas para o género do metal, no meio deste caldeirão musical actual? E vamos um bocado mais à frente e pergunto-te o que é necessário para tirar do sofá algum pessoal da velha guarda para vir assistir aos concertos?

Para esta questão vou dar um exemplo mais pessoal, ou seja, o meu filho. Ele sempre soube da minha paixão pelo Metal, mas sempre lhe passou ao lado fruto da tenra idade, era mais virado para o som tipo Eminem, mas tudo bem, mais vale esse do que outros que por aí abundam. De à 3 anos para cá, começou a ter uma certa curiosidade pela minha biblioteca musical, daí, dei com ele a escutar sons mais industriais como Rammstein e Slipknot, para logo depois começar a escutar Iron Maiden e ficar fã de Cradle Of Filth. Hoje tem 15 anos e nunca lhe “massacrei” a cabeça com Metal, apenas começou a gostar por iniciativa própria. Têm uma banda de eleição Amon Amarth de quem é fã, e “decorou” um colete de ganga que tinha com Badges de bandas eleitas por ele. O ponto alto do seu gosto pelo Metal, foi acompanhar-me ao Coliseu do Porto para vê-los no ano passado, foi o seu batismo em concertos, estava tão “vidrado” no show que nem ao Wc foi em 3 horas de concerto, por isso apelo à velha guarda, peguem nos vossos, sejam filhos, sobrinhos ou mesmo netos (eheheh) e levem-nos a um concerto, nem que seja para testar a reacção deles e ao mesmo tempo revivam velhos tempos, não se deixem apagar, pois o nosso som é eterno.

Imagina que estás num final de dia de trabalho, não te apetece pesquisar e ouvir novas bandas e queres um momento de relaxamento, mas a ouvir alguns álbuns de metal. Indica três álbuns que ouvirias, de maneira a ficares com um sorriso no rosto e que consideras grandes edições do metal.

Para esta questão vai uma confidencia. Depois de muito Rock e Hard-Rock, o “Som Eterno” é um pouco como qualquer droga, começas com sons mais “softs” e lentamente vais querendo explorar sensações mais fortes, isso aconteceu comigo, gosto de todos os géneros e sub géneros do Metal, daí vou eleger 3 álbuns que rompi o vinil até parecerem crateras depois de um sismo de grande magnitude. O primeiro confesso, foi o que me despoletou para o Metal, “Powerslave” dos Iron Maiden lançado em Setembro de 84, o segundo foi lançado em Junho de 89, “Agent Orange” o 3º álbum dos Sodom, por acaso o ultimo antes da saída do grande guitarrista Frank Blackfire para os Kreator, e por ultimo para mim e para muitos, o melhor álbum de sempre dos Metallica lançado em 1986 “Master Of Puppets”, o primeiro álbum de Metal a ser certificado com Platina, 12 no total.

As últimas palavras são tuas e novamente muito obrigado pela tua participação na Ode Lusitana.

Marco, desde já agradeço o convite para esta entrevista que me deu um enorme prazer, e longa vida à Ode Lusitana, vamos mantendo contato.

Por ultimo vou deixar aqui um testemunho de algumas maluqueiras que se faziam na minha adolescência….

Naquele tempo comprar um LP era um acto religioso, até tirava fotocópias das capas para distribuir pelos amigos…
Aquilo que chamam agora pins naquele tempo eram crachás, não sei por que lhe mudaram o nome…
As notas de 100 escudos bem escondidas nos envelopes para comprar fanzines e merchandising…
Aquelas duas horas de lança-chamas…
E claro menos 30 anos\ menos 20 kilos eheheheh

Já la vão muitos anos mas é algo que não se esquece, e depois lembrar as calças elásticas o cabelo com beirinha e o colete de ganga carregado de crachás, e como sempre, lá andas á busca de uns trocos para a cervejola, para não estar no concerto a seco, e depois era a espera para comprar os vinis e grava-los para k7 para podermos ouvir na escola eram bons tempos… tempos em que comprar um álbum que acabava de sair era algo religioso, e lá estava a malta a poupar uns trocos para a próxima compra, muitas vezes era o “guito” do almoço da escola, e lá ia a casa da avó comer uma sopinha à “socapa” mas sabendo que logo que sai-se o álbum já era meu…
hoje em dia é tudo downloads de mp3, e acreditem que isso não substitui o cheiro de um disco de vinil novinho nas mãos.


Metal Soldiers Records

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Metal Soldiers Records é uma editora / distribuidora do Fernando Roberto, um grande apaixonado pelas sonoridades mais pesadas e que se dedica a divulgar uma grande quantidade de bandas e não só, através do seu vasto catálogo.

   Mas vamos à entrevista, onde ficamos a conhecer todo o seu trabalho, as suas ideias e os seus próximos desafios.

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Viva Fernando! Antes de tudo é um prazer teres aceite este meu repto para responderes a umas perguntas acerca da Metal Soldiers Records e dos teus trabalhos, já que és uma das pessoas com uma história fantástica no apoio e divulgação do Metal no nosso país. Ainda para mais quando ao longo destes anos ainda continuas nesta tua grande cruzada! O primeiro contacto que tive com um dos teus trabalhos, foi a aquisição do número 3 da tua fanzine Hallucination ‘Zine de 1994 que tinha a particularidade de ser uma split fanzine, juntamente com o número 3 da Dark Oath Magazine do João Carlos Monteiro e que excelentes leituras e novas bandas me presenteou durante a leitura. Mas vamos à Metal Soldiers Records! Qual o momento em que decides avançar com este teu projecto e qual era a tua ideia inicial? Tiveste o apoio de mais alguém neste início? Já tinhas vários contactos de bandas e editoras, nas quais tinhas tido conversas acerca deste teu trabalho?

Olá amigo Marco Santos, tudo bem? Espero que sim. Obrigado pelas tuas palavras e pelo teu reconhecimento. Tal como tu sabes o “bichinho” de fazer algo em prol do Heavy Metal esteve e estará sempre presente na minha mente e após alguns anos de silêncio, decidi começar este meu projeto em meados de 2009, no qual decidi chamar-lhe simplesmente Metal Soldiers. Inicialmente seria uma espécie de Fan Club 100% dedicado à edição e reedição de bandas antigas da década de 70 e 80 ou seja a ideia seria lançar sob o nome de Metal Soldiers Fan Club alguns LP’s & CD’s e tornar-me assim o órgão oficial de algumas bandas que me solicitassem apoio tanto na divulgação como na distribuição. Nessa altura contactei algumas bandas e as respostas não foram nada agradáveis porque a maioria das bandas (já para não dizer a sua totalidade) não concordou e nem compreenderam essa minha ideia… um Fan Club?!?! Uns acharam que isso iria gerar confusão porque seria o Fan Club de um “monte” de bandas, outros mencionaram o facto de necessitarem de uma entidade tipo editora porque daria maior projeção às bandas, etc, etc, ou seja perante tantas reações negativas eu vi-me obrigado a alterar o nome e a modalidade que ainda está em vigor ou seja Metal Soldiers Records.

No inicio faltavam-me alguns contactos, principalmente de fábricas e nessa área tive a ajuda do meu grande amigo Xico da Blood & Iron Records, editora inclusive com a qual efetuei várias parcerias.

Sim, antes de iniciar estas atividades eu falei com muita gente, tanto de editoras como de bandas e o “feedback” foi muito positivo. Aliás, uma das pessoas com quem troquei mais ideias até foi o Stefan Riermaier da editora alemã Karthago Records ou seja esta foi a editora que eu tomei como exemplo para iniciar as atividades. Claro que o Stefan disse logo que me ajudava no que fosse necessário.

A Metal Soldiers Records tem um enorme catálogo onde se inclui uma vasta gama de produtos desde CD, vinil, fanzines (da qual sou um cliente habitual destas pérolas escritas, adquirindo grande parte do material disponível!), material em segunda mão e muitos trabalhos sob o nome da Metal Soldiers. Como funcionam as parcerias para teres este material no teu catálogo, incluindo autênticas relíquias discográficas? Também é de salientar e louvar uma forte gama de bandas brasileiras, havendo uma estreita ligação com o que se faz do outro lado do Atlântico. Como surgiu esta colaboração com o Brasil e com quem estás ligado a nível de trabalho e divulgação?

Eu confesso que para fazer este tipo de lançamentos ou melhor como tu lhe chamas-te estas “pérolas escritas” é necessário ter muito gosto e acima de tudo muita paciência porque ao contrário do que as pessoas pensam nem sempre as bandas possuem em seu poder as suas próprias músicas, repara eu contactei algumas bandas que … após falar com todos os elementos da banda eles não tinham os originais dos seus próprios LP’s, … contactei bandas que nada me entregaram porque nada tinham e quando isso acontece é desesperante porque uma pessoa tem que se movimentar por outros lados. Bandas Brasileiras que tiveram que recorrer ao Mercado Livre para comprarem uma cópia em 2ª mão do seu próprio álbum, parece incrível mas é verdade! Outro dos grandes obstáculos neste tipo de lançamentos é também a dificuldade em localizar grande parte ou a totalidade dos membros de cada banda para que me possam autorizar o lançamento dos seus trabalhos. Já agora relembro que sempre que eu faço um lançamento eu tenho o cuidado de contactar todos os elementos da banda. Depois de localizados é necessário que todos os elementos estejam de acordo com o proposto o que (infelizmente!) nem sempre acontece, daí já me ter acontecido situações bastante constrangedoras como foi o caso de músicos que proíbem a publicação de suas fotos nos lançamentos…(aconteceu no lançamento por exemplo dos Metal Pesado) no qual tive que cortar a maioria das fotos porque o vocalista proibiu a sua publicação no CD ou no caso dos Inquisição que um baterista (músico convidado que nem pertencia ao line-up da banda) “simplesmente” proibiu a utilização das músicas de uma demo de 87. Mas muitas outras situações constrangedoras também aconteceram como no caso dos Raven onde a banda contactou a editora para me enviar os artworks originais dos dois álbuns e a própria editora, a SPV Records, respondeu que já não possuía os trabalhos originais ou seja pura “filha da put**se” e estamos a falar de uma grande editora. Como podes ver este tipo de lançamentos não são fáceis de conseguir.

Falando um pouco das parcerias e do material que distribuo, nos primeiros anos da editora eu necessitei ganhar nome no mercado e como tal vi-me obrigado a funcionar muito à base de trocas aceitando quase todas as propostas ou as contrapropostas que me chegavam. Claro que isso me permitiu criar um catálogo com muito material, aumentando assim a oferta de bandas para todos os meus clientes.

Bem, quanto à colaboração com o Brasil, a minha paixão pelo Metal Brasileiro já vem desde os longínquos anos 80, altura em que comecei a “devorar” as primeiras bandas Brasileiras, nessa altura fazia muito “tape trading” com os países da América do Sul, em especial os Brasileiros. Sempre mantive contacto com muita gente no Brasil por isso é que ainda hoje tenho lá excelentes colaboradores. Curiosamente, neste momento o meu principal distribuidor no Brasil é Português ou seja é o meu grande amigo João Pedro Sousa da Editora Your Poison Records / Route 55 Records que se mudou para lá há meia dúzia de anos.

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Apresentas um catálogo bastante completo, mas ainda estás a planear mais algo para a Metal Soldiers Records? O objectivo será cimentar cada vez mais esta tua distribuidora, mas passa também por diversificares mais a tua oferta? Como sentes o interesse de todas as pessoas que entram em contacto contigo para a compra de material? Além do pessoal da denominada ‘velha guarda’ há o interesse por parte dos mais novos em adquirir e conhecer novo material?

Sim, eu tenho sempre algo mais para acrescentar às minhas atividades, em relação à Metal Soldiers Records, eu estou a pensar e vou fazer algumas alterações para breve e a mais significativa é a divisão da editora consoante os estilos das bandas a lançar ou seja irei subdividi-la em Rock Soldiers Records, Metal Soldiers Records (atual nome), Thrash Metal Soldiers e Death Metal Soldiers e depois logo se vê se ficará só com estas subdivisões. Não me parece correto estar a encaixar bandas tão diferentes na mesma etiqueta, daí as subdivisões que já não é uma inovação uma vez que outras editoras também já o fizeram no passado como é o caso da editora alemã Pure Steel Records que é mais uma das editoras com quem trabalho e com quem tenho laços de grande amizade. É uma das minhas grandes referências. Outra das grandes novidades é que eu vou querer começar a apostar no Rock’n’Roll até porque existem muitas bandas, incluindo bandas Portuguesas que merecem ver os seus trabalhos reeditados, grupos antigos que foram muito importantes para todo o nosso movimento Rock’n’Heavy.

Os clientes que eu tenho são “poucos mas bons”, neste momento tenho pouco mais de 250 clientes ou seja eu costumo dizer em tons de brincadeira que isto é um pequeno núcleo de fans (aqui está outra vez a tal palavra Fan por isso é que eu inicialmente idealizei um Fan Club) que mantem todo este projeto vivo e (felizmente!) de perfeita saúde. A maioria (para não dizer a totalidade) é malta da “velha guarda” com a “velha escola” dos nossos anos 80 por isso fazem compras com muita paixão à base de bandas antigas e álbuns antigos. O interesse dos mais novos é quase “nulo”, ZERO.

 

Além da Metal Soldiers Records, também tens a NBQ Records, que se estreou o ano passado com o álbum “System Sickness” dos Baktheria, até ao mais recente “Overloaded” dos Booby Trap, passando entre outros pelos Buried Alive, Shivan e até pelos brasileiros Atacke Nuclear. Qual o conceito por trás da NBQ Records e qual o ideia com que foi criada? Tens mais algumas edições em vista e que possas já divulgar? Já agora, o que querem dizer as iniciais NBQ?

A decisão de fundar a NBQ Records foi como se diz em bom Português uma editora “a pedido de muitas famílias” ou seja foram imensas as bandas que me contactaram e que não se enquadravam nos moldes da Metal Soldiers Records, muitas delas com muita qualidade para serem lançadas. A criação de uma nova editora veio assim ao encontro dessa necessidade. É mais uma aposta ganha até porque está a crescer de vente em popa, alias outra coisa não seria de esperar porque é um projeto que mexe com bandas que estão 100% no ativo, tudo bandas com músicos novos que têm “sangue na guelra” e como tal o sucesso está a ser garantido.

Quanto a novos lançamentos, irei lançar já no inicio de 2017 os novos álbuns dos Portugueses Veinless – “IX” (NBQR008) e o Miss Cadaver – “Mänifestvm Raivus” (NBQR009).

As iniciais NBQR querem dizer Nuclear Biológico Químico Radiológico.

 

No início fiz referência ao teu trabalho como editor da Hallucination ‘Zine, em que na década de 90 se fazia uma grande divulgação através destas publicações, onde tomávamos conhecimentos de outras bandas, de fanzines, do que se fazia nos outros países, assim como as bandas portuguesas que iam aparecendo e marcando o seu cunho na nossa história. Hoje em dia as fanzines praticamente que desapareceram no nosso país, sendo a divulgação das bandas feita em alguns blogs, mas principalmente através do Facebook, o que por vezes torna a informação tão fragmentada, tornando difícil ter conhecimento do que se vai fazendo. Como explicas o desaparecimento destas publicações, quando no resto do mundo ainda dão cartas, adaptando-se às novas realidades? De tanta coisa que temos o que nos faz falta em Portugal para fazer crescer ainda mais o nosso movimento? E já agora como sentes o pulso do que se vai fazendo por cá, seja a nível de concertos, programas de rádio, salas de espectáculos, editoras, distribuidoras, gravadoras e até mesmo o público?

Bem uma coisa é certa, o papel escrito já dura há gerações e irá durar mais algumas gerações. Sabes que tudo é cíclico. Portugal nem sempre é dos melhores exemplos porque nós portugueses começámos por enterrar os gravadores de fitas áudio, depois enterra-mo o gira-discos e por fim enterrámos as publicações em suporte físico porque tudo isto dá trabalho. Noutros países mais desenvolvidos tudo isso ainda funciona e isso sim é maravilhoso por isso é que eu não compreendo a mentalidade da maioria dos Portugueses. Em Portugal faz falta acima de tudo profissionalismo, somos muito amadores e é por isso que estamos na cauda dos países da Europa, não é por acaso que andamos na boca do mundo ao lado de países como a Grécia ou a Itália até porque a nível de “trafulhice” somos países muito semelhantes. Repara eu tenho tido imensos problemas com editoras e distribuidoras que tentam injetar material da Metal Soldiers no mercado ao preço da “uva mijona” e adivinha qual é a nacionalidade desses “crápulas”??? Esses 3 países que já mencionei entre outros de quinto mundo como é o caso da Ucrania e da Russia. Felizmente existem algumas pessoas que lutam por um movimento mais forte mas não é fácil quando a maioria da malta “rema” para o outro lado ou até mesmo em sentido contrário. Há que acreditar e é por isso que eu tento sempre dar mais e melhor.

 

Na tua área tens um grande contacto de trabalhos de bandas, o que na actualidade se torna bastante difícil absorver tudo o que é lançado. Falo por mim que aproveito as viagens de carro para o trabalho para ir ouvindo as novidades, assim como o algum tempo disponível em casa para pesquisar o que se vai fazendo. Ainda continuas atento ao que se vai fazendo, ou gastas algum tempo para recordar/relembrar álbuns que te marcaram durante este teu envolvimento no Metal? Como foi descobrir estas bandas em meados da década de 80, onde qualquer lançamento trazia sempre novidades? Que bandas mais te cativaram na altura?

Sabes que eu costumo dizer em tons de brincadeira que parei no tempo dai eu ter criado a Metal Soldiers porque tudo o que gosto e tudo o que oiço remonta àquela gloriosa década de 80. Tento manter-me atento ao que se vai fazendo aqui e ali, mas cada vez é mais difícil surpreender-me com novas bandas ou novos projetos. Os clássicos das bandas dos anos 80 estão sempre a rodar tanto no carro, como no serviço bem como na aparelhagem lá de casa ou no computador. Bem foram muitas as bandas que me marcaram nessa década de 80 mas as mais sonantes foram os Kiss, Meat Loaf, Judas Priest, Anthrax, Megadeth, Testament, Sepultura, Necrodeath, Bathory, Voivod, Death entre outras…

 

E agora uma pergunta difícil, em que por vezes os entrevistados partem a cabeça para conseguir responder, mas do qual ouvimos sempre histórias fantásticas. Quais os teus cinco álbuns favoritos, que mais te marcaram e porquê?

É sempre difícil a escolha até porque vou ter que deixar de fora alguns bons álbuns mas aqui vai:

 

Judas Priest – “Ram It Down” (1988) um álbum e uma banda que passou muitas vezes no Rock’n’Stock, programa esse que eu seguia assiduamente. Os Judas Priest sempre foram o “patinho feio” do Heavy Metal ou seja a maioria do pessoal nos anos 80 detestava esta banda mas eu sempre gostei e sempre acreditei no som deles e hoje em dia, passados tantos anos ainda os vemos a crescer.

 

Sepultura – “Schizophrenia” (1987) com as fitas das gravações do “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” quase gastas, qual foi o meu espanto quando numa bela final de uma manhã de sábado, vinha eu da Feira da Ladra e numa das rotineiras visitas à Bimotor dou de caras com este grande abum, acabadinho de chegar a Portugal, foi compra certa! Uma das grandes pérolas de todos os tempos.

 

Bathory – “Blood Fire Death” (1988) … gostaria aqui de relembrar muita gente que nos anos 80 eram muitos poucos os seguidores que existiam dos Bathory, os discos passavam meses e meses nas discotecas a ganhar pó, porque ninguém os comprava só que depois deu-se o “boom” do Black Metal e pronto passou toda a gente a gostar ser fan de Venom, Celtic Frost, Hellhammer, etc, etc….a malta tem memória curta mas eu não…lembro-me de tudo ao pormenor, como se fosse hoje. Eu fui um dos fundadores da 1ª Editora em Portugal de música “obscura”, a antiga Dark Records (R.I.P.) no qual ainda efetuei vários lançamentos dos quais destaco o 7” dos Decayed – “The Seven Seals” (Um abraço para o meu primo Zé!!! Saudações primo!).

 

Death – “Leprosy” (1988) é um marco da música pesada, grande banda e grande álbum. Influenciou inúmeras bandas dentro do som mais pesado.

 

Megadeth – “Rust in Peace” (1990) este é para mim o melhor álbum de Heavy Metal de todos os tempos ou seja se me tens dito para escolher apenas um esta seria a minha escolha.

 

E assim chegamos ao fim da entrevista. Queria agradecer-te novamente pela tua participação, assim como quero dar-te os parabéns pelo teu trabalho e que se inicie uma ligação forte e interessante entre a Metal Soldiers Records e a Ode Lusitana. Estas últimas linhas são tuas para dizeres o que te vai na alma.

Eu é que agradeço. Tal como tu sabes eu sou um grande fan deste tipo de publicações e como tal irei querer sempre dar-te o meu contributo. Podes sempre contar comigo. Um grande abraço.


A Constant Storm

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   A Constant Storm é um projecto a solo do Daniel Laureano (Stormbringer), fundado no Porto em 2013 e que em 2014 contou com o lançamento da demo “Storm Born”, editando nesse mesmo ano o single “Love Crimes” (cover do tema dos Moonspell). Mas é com o primeiro longa-duração “Storm Alive” editado há poucos meses, que marcou definitivamente o panorama nacional, com uma diversidade musical fantástica, tornando este álbum um dos melhores editados a nacional.

   Estivemos à conversa com o Daniel para entrar no mundo de A Constant Storm, onde a nível musical tudo é permitido.

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Viva Daniel! Muito obrigado por esta tua presença na Ode Lusitana e é um prazer já que este teu projecto, A Constant Storm, veio trazer uma lufada de ar fresco ao underground nacional. Foi engraçado já que tive o primeiro contacto com o teu som através do tema “Pale March” editado na compilação “13 Portuguese Metal Compilation Vol. 7”, enquanto conduzia o carro paro o trabalho e fiquei bastante impressionado, entrando pouco depois em contacto contigo para adquirir este teu álbum “Storm Alive”. Já se passaram alguns meses do lançamento e as críticas e entrevistas tem chegado de todo o lado e bastante positivas. Como estás a reagir a todas estas respostas que tens tido deste teu trabalho?
Antes de mais, muito obrigado pelo convite e pelo interesse no projecto!

Até ao momento a resposta a este trabalho tem sido muito positiva, sendo que ainda não recebi qualquer review com pontuação inferior a 7/10. Confesso que estava à espera de receber críticas mais polarizadas, dada a natureza desafiante do álbum. Isto mostra que, ao contrário do que por vezes se pensa, os fãs de música neste país (e não só) estão dispostos a escutar propostas que não jogam pelo seguro e que fogem ao habitual.

 
Um projecto que começa com um “simples” Vendaval (primeiro nome proposto mas não foi avante) e que cresce para A Constant Storm, está a ser muito maior do que o primeiro conceito que criaste para este teu trabalho, iniciado em 2013? Qual foi o teu conceito original?
Este projecto nasceu sobretudo da necessidade que sentia em criar música, numa altura em que ainda não pertencia a qualquer banda ou colectivo. Na altura não me preocupei muito em pensar se isto poderia crescer e atrair a atenção de pessoas que não eu mesmo e foi nessa ordem de ideias que compus e gravei o primeiro EP, “Storm Born”. No fundo, fiz música por mim, para mim e fi-la recorrendo a meios rudimentares, que eram os que tinha à minha disposição.

 

Neste teu álbum “Storm Alive” tens a participação do Afonso Aguiar e do Ricardo Pereira, com quem fazes parte nos Moonshade e que também executam um excelente trabalho neste teu álbum. Como começou esta vossa amizade, que foi crescendo com o tempo e como foi a abordagem para este teu trabalho? É verdade que tens total autonomia já que é um projecto teu, mas em termos de gravações e ideias tiveste interesse em ouvir a opinião deles, ou serviram como suporte para transporem o que tinhas na tua mente?
Conheci o Afonso e o Ricardo quando entrei nos Moonshade no início de 2015, e eles, tal como os outros membros da banda, rapidamente se tornaram grandes amigos e pessoas que agora são como família para mim. Este excelente ambiente facilita tremendamente a criação musical e funcionamento entre todos, tanto na banda como em projectos paralelos como é o caso deste. Falando mais concretamente no álbum “Storm Alive”, apesar da composição musical ter ficado a meu cargo sempre estive receptivo às sugestões de ambos. Penso que as diferentes perspectivas só podem ajudar a fortalecer o resultado final e que essa variedade perder-se-ia se assumisse uma postura intransigente em relação a ideias que não partissem de mim próprio.

 

Ao fazer a pesquisa para esta entrevista houve algumas referências que fazes, que achei muita curiosidade e uma delas foi a alusão ao álbum “Nordavind” dos Storm (álbum único, lançado em 1995, que contava com a participação de Fenriz (Darkthrone), Satyr (Satyricon) e Kari Rueslatten (The Sirens)), pela que te marcou, pelo nome e acima de tudo pela variedade. És bastante receptivo a estas sonoridades diferentes? Estes músicos assim como outros como por exemplo Ihsahn (Emperor, Hardingrock, etc…), Garm (Ulver), mas principalmente (e um dos que mais respeito e sinto curiosidade) que é o caso do Fenriz, vieram todos de um meio mais black metal, mas tem uma visão muito mente aberta da música. No teu caso, também tens uma paixão forte pelo black metal, mas consegues explicar este viagem sonora que pelos vistos nasce neste género? O black metal é propício a este estudo por novas sonoridades?
Sou definitivamente receptivo e influenciado por todo o tipo de sonoridades, uma vez que acho que a música é demasiado rica e interessante para uma pessoa se prender a um só género, como compositor mas também como simples ouvinte. Sem artistas com mente suficientemente aberta para incorporar sonoridades diferentes esta arte nunca teria evoluído e, como tal, é extremamente agradável para mim poder apreciar Rotting Christ da mesma maneira que aprecio Queen, Ulver, The Sisters Of Mercy ou Kendrick Lamar, para dar alguns exemplos. Quanto ao black metal, penso que se trata de um estilo-base que de facto oferece muitas possibilidades de evolução. Existem vários casos de bandas e artistas com raízes neste estilo musical que levaram o seu som por caminhos tremendamente distintos e interessantes. Falo por exemplo dos já referidos Ulver à cabeça, mas também Ihsahn, Blut Aus Nord, Enslaved e por aí adiante.

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Agora vou ser um pouco mau, mas depois de ler todas as tuas influências musicais e que são das mais variadas possíveis, quero que indiques cinco álbuns que te marcaram e o porquê. A música sempre foi uma constante na tua vida desde que idade? Como surgiu o teu interesse por aprenderes um instrumento?

De facto, a dificuldade está na escolha!
– Bem, em primeiro lugar na minha lista coloco o “…And Justice For All” dos Metallica. É um álbum muito à frente do seu tempo, de uma banda também muito à frente do seu tempo e que é constantemente criticada por nunca se ter conformado a tocar o mesmo estilo durante 5 ou 6 álbuns seguidos. Os Metallica são, também, a banda que mais me fez apaixonar pela música da maneira como me apaixonei, portanto são uma influência seminal para mim.
– Depois, “Into The Labyrinth” dos Dead Can Dance, pela quantidade impressionante de diferentes sons e ideias musicais que eles conseguem fazer coincidir e combinar de uma maneira extremamente harmónica. O Brendan Perry é, também, uma das minhas maiores influências a título individual, tanto pelas suas composições como por ser um multi-instrumentista tremendamente capaz.

– De seguida, “Blood Inside”, dos Ulver. Um trabalho completamente impossível de confinar a um único género musical e que teve um impacto enorme em mim quando o ouvi pela primeira vez, pois veio redefinir toda a minha maneira de ouvir e pensar a música.
– Continuando, o já referido “Nordavind”, dos Storm, pela influência que teve neste projecto e pela qualidade absolutamente viciante e mestria dos arranjos que o duo Satyr/Fenriz aplicou a estes temas provenientes da tradição folclórica norueguesa.
– Por último, “Blind Scenes”, dos Soror Dolorosa, um dos trabalhos que mais me impressionou nos últimos anos, pela maneira perfeita como a banda mistura o gótico britânico clássico com uma melancolia muito própria e característica da cena coldwave francesa, sem nunca perder a sua identidade.

Respondendo à segunda parte da pergunta, comecei a interessar-me verdadeiramente por música por volta dos meus 11 anos de idade, através do meu pai e de alguns CD’s que ele tinha comprado ao longo dos anos, os quais acabou por me oferecer. Estes foram os primeiros álbuns que escutei por inteiro na minha vida: “Master Of Puppets”, dos Metallica, “Coma Of Souls”, dos Kreator e “Stained Class” e “Hell Bent For Leather”, dos Judas Priest. Juntamente com alguns ficheiros mp3 que havia reunido dos Scorpions, Iron Maiden e Nirvana e com alguns artistas cujos videoclips rodavam na MTV, como System Of A Down e Green Day, fui criando as bases para a minha exploração musical. Curiosamente já tocava guitarra há cerca de um ano, na altura por sugestão da minha professora de educação musical do quinto ano de escolaridade.
A vida é uma tempestade constante?
Definitivamente. Tudo acontece a um ritmo tão alucinante que é impossível escapar ao movimento e as mudanças trazidas pelos acontecimentos fazem com que a vida de cada um seja um turbilhão constante de momentos, tanto bons como maus.

 

Tens formação em audiovisuais e o teu objectivo é vires a trabalhar seriamente na área da fotografia. Como nasce essa tua paixão e quais as tuas referências ao nível de fotógrafos. Já tens apresentado alguns trabalhos teus ao público, ou em algum meio de comunicação? Qual a tua ideia de identidade visual para A Constant Storm?
A minha paixão pela imagem só floresceu verdadeiramente quando entrei na Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo para o curso de Tecnologia da Comunicação Audiovisual e entrei em contacto com artistas fantásticos, que trabalham vídeo, cinema, fotografia, instalação, performance e todo o tipo de combinações diferentes entre estas formas. Tenho maior afinidade pela fotografia e as minhas maiores referências têm sido sobretudo artistas que trabalham sobre a identidade do próprio, muitas vezes através do auto-retrato, como Francesca Woodman, Jorge Molder, Nan Goldin ou Jeff Wall, este último pelas complexas encenações que cria nas suas fotografias de enormes dimensões. Sou também muito influenciado por capas de álbuns musicais que contenham fotografias, particularmente as capas do projecto alemão Sopor Aeternus & The Ensemble Of Shadows, cuja influência é evidente na capa do “Storm Alive”.

 

E assim chegamos ao final da entrevista! Obrigado por tudo. As últimas palavras são tuas e podes dizer o que quiseres!

Muito obrigado à Ode Lusitana pela oportunidade de responder a estas perguntas tão interessantes e de dar a conhecer o meu trabalho a um maior público. Sigam o projecto A Constant Storm no Facebook, Bandcamp e YouTube e apareçam na sessão de lançamento do disco “Storm Alive”, na Bunker Store, no próximo dia 24 de Setembro!


Konad

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   Konad, banda de Vila Franca de Xira, está a festejar os 20 anos de existência, tendo começado em 1996 ainda sob o nome de Konad Moska. Praticantes de uma mistura entre os mundos do punk e do thrash metal apresentam um crossover agressivo, que não deixa ninguém indiferente.

   Depois de algumas demos editadas é no ano de 2012 que editam o seu primeiro longa-duração de nome “Café Beirute”, mas é em 2015 com o seu segundo longa-duração, “Irae Dei” que vemos essa mudança na sonoridade dos Konad a enveredar por um caminho mais dentro do metal, mas não esquecendo as suas raízes.

   Com Kampino (voz), Pedro Frazão (guitarra), João Litrona (baixo) e Nuno sousa “China” (bateria) temos banda para muita animação e energia em palco. Foi com o Pedro Frazão que fomos saber mais dos Konad.

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Viva Pedro! Muito obrigado pela tua resposta positiva para esta entrevista à Ode Lusitana e da qual agradeço. Mas vamos ao início de tudo. Ainda te lembras de como começou esta tua paixão pelas sonoridades mais pesadas? Quais as bandas que te despertaram esse interesse? Tinhas um grupo de amigos onde partilhavam essas novas descobertas?

Boas Marco!! Sem dúvida que são memórias inesquecíveis. Aquela partilha adolescente com os amigos que (alguns) mais tarde viriam a ser colegas de banda. Iron Maiden, Wasp, Sepultura, Metallica, Slayer foram bandas marcantes para mim e para muitos dos jovens da época. Foram a porta de entrada num mundo simplesmente brutal!

 

Com o passar do tempo como nasceu essa tua vontade de tocar guitarra? Por vezes as pessoas ligam a paixão de tocar um instrumento com algum ídolo que se tem. No teu caso foi assim que aconteceu? Eras um assíduo frequentador de concertos na altura?

Mais tarde sim, tornei-me num frequentador de concertos. Em 1988, quando comecei a tocar guitarra, não havia muito acesso a material fonográfico nem os eventos em Portugal eram o que são hoje em número ou em qualidade (por vezes quantidade) de acesso à informação e facilidade de publicitar os mesmos. Quanto à guitarra, desde cedo me liguei com a sonoridade deste instrumento, mas a descoberta de Death e Chuck Schuldiner provocou um grande impacto naquilo que a música se tornou para mim, enquanto consumidor e músico.

 

Com início em 1992 fazes parte de Encancrate, banda de death metal melódico, mas que no ano de 1996 ao editarem a demo de estreia “A New Cicle of Fear”, também se torna o ano de fundação de Konad Moska, que mais tarde mudariam de nome apenas para Konad. Como surgiu a ideia junto com o Kampino, na altura também baterista dos Encancrate, enveredarem por um projecto dedicado na altura a uma veia mais punk? Sentias alguma saturação ligada ao Metal ou tinhas interesse neste movimento punk? Quais as bandas do estilo que te marcaram?

Algures no seu percurso Encancrate “bateu numa parede”. Tínhamos editado uma demo com boa aceitação, participámos em vários concertos e concursos, mas do ponto de vista de composição algo estava bloqueado. Assim, nos ensaios começámos a compor e tocar alguns temas (“Dá-lhe Gás”, “Kasal Ventoso”, “Vaka Louka”) num ambiente de descontração. Na altura as minhas referências seriam Exploited e Ratos de Porão. A coisa foi ficando interessante e acabámos por nos estrear ao vivo numa festa de Carnaval no extinto Lusideia Bar em Samora Correia. Mais tarde os Encancrate separam-se e o Kampino manteve viva a chama de Konad Moska. Ele sempre foi o mais punk de nós os dois (Eheheh). Apesar de, do ponto de vista social me identificar com o movimento, na época o punk enquanto música não estava na minha wishlist, ainda havia muito metal para devorar e era essa a sonoridade que me deslumbrava.

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Após uns anos iniciais conturbados em 2007 tens um retorno à banda e com esforço e dedicação vão ganhando uma notoriedade diferente, onde os lançamentos vão acontecendo e entre outros é de salientar o vosso primeiro longa-duração “Café Beirute” em 2012. Mas neste vosso último álbum “Irae Dei” a viragem para o metal, mais propriamente o crossover, é bem evidente. Como se deu esta evolução dentro da banda? As entradas do Márcio e Litrona (baixo) e André e China (bateria), tendo a passagem do Kampino apenas para a voz teve também influência na vossa sonoridade?

Sempre houve uma dualidade dentro das nossas bandas. Eu e o Kampino entrosamos de forma singular como pessoas e músicos. Somos amigos de longa data e o trabalho em conjunto tem sido pautado pela gratificação, sinceridade, partilha e uma busca por uma melhoria constante. Eu mais metal, ele mais punk. As bases de construção de ambos foram as mesmas, ele é um dos amigos do início da minha vida musical no rock pesado. Obviamente que o nosso percurso musical foi diferente após a génese, mas isso é, na nossa opinião, uma mais valia deste projeto, a possibilidade de misturar os dois mundos e a nossa abertura para o fazer. Quanto às mudanças de alinhamento, na questão do baixista deu-se à saída do Karmo por questões pessoais. O assumir da voz pelo Kampino era algo que já era tema de discussão há algum tempo. Com o trabalho de desenvolvimento do “Irae Dei” mostrou-se notório que o trabalho de voz e bateria se tinha tornado incomportável de executar em conjunto. Decidimos não comprometer o álbum e sim fazer o que nos ia na alma. Foi um passo natural.

 

As vossas letras, cantadas em português, versam a crítica social, o que dá ainda mais força à ideia expressa pelo vosso som. Estamos numa sociedade sem retorno, onde faltam os princípios e os valores? JJ Janiak dos Discharge refere que a “humanidade não está preparada para uma verdadeira anarquia porque as pessoas não conseguem viver em paz e coexistirem sem se matarem e roubarem umas às outras”. Concordas que esta visão caótica já se encontra entrada nos genes humanos?

Epá, o sociólogo é o Kampino, eu sou um homem da ciência (Eheheh). Mas parece-me evidente que estamos numa sociedade muito decomposta, não só em termos de valores, como em separação de classes e racial, assim como com uma grande componente de corrupção ativa, sem escrúpulos e tão in your face como os nossos temas. Considero o ser humano destrutivo por natureza. E atualmente essa agressividade até passa para as redes sociais. Cada vez mais as pessoas se separam do real e se mostram “heróis” ou demonstram aquilo que realmente são atrás de teclados. Estamos num caminho negro…

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Qual a reacção que tens tido deste vosso lançamento, assim como dos concertos que tem efectuado? Portugal é um país onde o punk e o metal na generalidade tem partilhado os mesmos palcos com boas reacções de parte a parte. Como consideras esta abertura por parte destes dois estilos? Afinal temos mais em comum do que muita gente pensa?

Temos tido reações muito positivas. No geral o álbum é bem recebido e agrada a gregos e a troianos. Na verdade a sonoridade mais crust que injetámos no “Irae Dei” teve esse efeito. É verdade que por motivos organizacionais é útil catalogar as bandas, mas na realidade entre metal e punk não existe um fosso assim tão grande quanto se possa por vezes imaginar, especialmente quando enveredas por géneros mais extremos do punk. Para quem realmente gosta de boa música, ver ao vivo num mesmo evento, bandas de ambos os estilos é até enriquecedor.

Pedro, por aqui termino a entrevista. Novamente muito obrigado! Estas últimas palavras são tuas, por isso estás à vontade para dizeres o que te vai na alma. Ficamos a aguardar novidades breves de Konad!

Obrigado Marco e Ode Lusitana por proporcionarem esta possibilidade de falar um pouco de Konad e daquilo que é uma das minhas paixões de vida. Celebramos, em 2016, vinte anos de banda e estamos a preparar uma surpresa engraçada para o pessoal que nos acompanha. Em breve haverão notícias mais detalhadas. E a todos que têm paixões persigam-nas avidamente e não deixem nunca que essa chama morra sem que se sintam realizados… Abraço!!!

 


Basalto

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   Basalto, banda de Viseu fundada em Fevereiro de 2015 praticam uma mistura de stoner / doom / metal, onde no meio deste caldeirão de influências proporcionam-nos uma viagem fantástica transmitida pelas sonoridades que podemos ouvir no primeiro trabalho divulgado em Abril deste ano.

   Banda constituída por António Baptista (guitarra), Nuno Mendonça (baixo) e João Lugatte (bateria), foi com o Nuno que partimos à descoberta de uma das revelações deste ano no nosso panorama nacional.

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Viva Nuno! Muito obrigado por teres aceite este convite para uma entrevista na Ode Lusitana. Foi com muito agrado que ao adquirir o vosso trabalho, me deparei com uma edição muito sólida e que faz jus ao nome da banda.
Como se deu o início da vossa banda no final do ano passado e como foi o teu contacto com os restantes elementos, o António Baptista e o João Lugatte? Como os conheces ou já é uma ligação que vem de longe? A ideia desta sonoridade muito característica é uma paixão que une vocês os três?

A banda começou em Fevereiro de 2015 e nasce, como sempre, da vontade de tocar. A ideia de fazer qualquer coisa já existia há algum tempo. Eu já conhecia o Tó (António Baptista) há alguns anos e costumávamos falar dessa ideia mas sempre em tom de brincadeira! Ele é que conhecia o João e decidiu falar com ele. Depois foi uma questão de combinar um ensaio e no fim ficamos realmente com a sensação que a coisa poderia resultar!
A nossa sonoridade foi algo que foi aparecendo de forma natural. Julgo que resulta do facto de termos influências e gostos muito abrangentes e diversificados mas que acabam sempre por se encontrar em algum momento. Nunca tivemos aquela ideia de tocar um estilo e não sair daí! Se o som final é mais para o Stoner ou para o Doom é resultado disso mesmo!

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Do surgimento da banda ao vosso primeiro registo foi um passo muito rápido. Qual tinha sido a vossa experiência musical antes dos Basalto? A captação, gravação, mistura, masterização e tudo o mais foi feito por vocês, tendo as gravações decorrido no Villa “L Dourado” Resort. Como funcionou este contacto, assim como com a editora Fuck Off And Do It Yourself, do qual vocês foram o primeiro lançamento? Como se pode resumir estas sessões de trabalho no estúdio para o lançamento do álbum?

Sim, do nascimento da banda à gravação do primeiro registo demoramos um ano. Mas não foi algo forçado, as 6 músicas que gravámos já estavam prontas e ensaiadas e a decisão do momento da gravação foi unânime e consciente.
Anteriormente a Basalto todos nós tivemos projectos e bandas mais sérios ou não e o João ainda continua activo em outras bandas como os Amaterazu. Eu já estava parado e afastado de bandas há muito tempo e o Tó também não tocava a sério desde o final dos Angriff, por isso a vontade era mesmo muita!
A escolha do local para a captação e gravação (Villa “L Dourado” Resort) também foi simples e natural, uma vez que é onde sempre criamos e ensaiamos. A decisão de fazermos tudo nós deveu-se principalmente ao facto de o Tó se interessar muito por essa vertente do trabalho de estúdio. Ele e o João fizeram a captação e a gravação das seis faixas e posteriormente o Tó fez a mistura e a masterização nos seus Fuck Off and Die Studios. Por isso foi juntar o útil ao agradável, poupamos algum dinheiro e ele teve a possibilidade de explorar mais esse mundo e pôr em prática os conhecimentos que vinha adquirindo! E honestamente fiquei plenamente satisfeito com o resultado final… aquilo é Basalto. Relativamente à editora, foi uma necessidade. Não tínhamos grande vontade ou interesse em andar à procura e/ou à espera de editoras. O álbum estava gravado como queríamos, com o som que queríamos, com o design que queríamos e o passo seguinte foi o Tó criar a editora (Fuck Off And Do It Yourself Records).

 

Uma das particularidades é a ausência de vocalista que independentemente das opiniões não tem um impacto menos bom na vossa sonoridade. Foi uma opção vossa, nenhum de vocês tinha jeito para cantar (desculpem o apontamento! ah!!), ou podem rever futuramente esta situação?

Essa é de facto a questão que mais nos colocam! Mas na verdade nunca sentimos a necessidade ou a obrigação de ter vocalista. Para nós nunca foi realmente uma questão. Começamos a criar sem voz e sempre nos sentimos bem assim. Chegamos a tentar integrar uma vocalista e até soava bem, mas não complementava a música da forma que entendemos ser útil.
Eu sinceramente nunca poderia cantar porque esse sim, seria um passo de gigante para a ruina imediata da banda! O João também não é bem a área dele e o Tó… pode ser que ainda cante alguma vez! Mas repito, não temos isso como um objectivo ou uma obrigação, se alguma vez acontecer, aconteceu. Terá sempre de ser natural. Neste momento, as 6 músicas que gravamos soam-nos bem assim e não alterávamos nada!

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Como dizem no press release podemos ouvir vários elementos na vossa sonoridade que vão do “Thrash ao Stoner, do Psicadélico ao D-Beat”, mas temos uma componente stoner bastante musculada no vosso som decididamente marcado pelos riffs de guitarra, o baixo verdadeiramente ritmado e a acompanhar a bateria pujante. É um estilo que te atraí pela mistura de vários estilos que podemos aqui encontrar? Quais as bandas de stoner que te marcaram profundamente?

Se eu for 100% honesto tenho de admitir que o Stoner nunca foi um som que eu consumisse muito! Claro que existem aquelas bandas incontornáveis que gosto e já conhecia… Orange Goblin, Kyuss, Spiritual Beggars, Corrosion Of Conformity, etc. Mas muito sinceramente acho que o nosso som embora vá claramente beber influências aí, foge também muito para outras sonoridades um pouco diferentes. E é aí que nos sentimos realmente bem, nessa mistura de estilos e influências.

 

Com horizontes alargados a nível musical, como se deu o início da tua paixão pelo metal? Ainda te lembras dos primeiros álbuns que adquiriste? A descoberta de novas bandas eram feitas através dos teus amigos ou sempre procuraste descobrir por ti?

A paixão começou sem dúvida muito por influência do meu irmão! Era bastante novinho, não me recordo bem, mas talvez com Iron Maiden, Halloween, AC/DC… por aí! Lembro-me bastante bem de comprarmos 2 Lp’s em particular: o “Somewhere In Time” dos Iron Maiden e o “Epicus Doomicus Metallicus” dos Candlemass e curiosamente ainda tenho os dois!
Depois já maior ia descobrindo as bandas novas com os amigos! Através de programas de rádio e fanzines (religiosamente encomendadas por correio) descobríamos as novidades e depois era gravar nas cassetes velhinhas quando alguém tinha o que procurávamos ou então era mandar vir as tapes e os discos/cds. Comprei muita coisa sem ouvir uma única nota… era pelo nome e pela descrição!

Actualmente moras em Viseu, mas as tuas raízes são açorianas. Tens acompanhado o que se passa a nível do metal underground nos Açores? Hoje em dia não se passam as dificuldades que existiam há uns anos em chegar às novas sonoridades, mas mesmo assim acreditas que é um movimento que tem problemas para se expandir? Sei que as pessoas continuam a fazer esforços para a divulgação deste estilo e a comprovar está o “The Unborn Fest” que decorreu em Março em Angra do Heroísmo, com a participação de algumas bandas da Ilha Terceira. O que pensas que é necessário para se consolidar este género nos Açores?

Pois, efectivamente sou um orgulhoso Açoriano, mas há já algum tempo que ando um pouco desactualizado sobre o que se faz por lá! O que me tem dito é que o pessoal quase todo tem optado por integrar bandas de covers, deixando um pouco os originais para segundo plano. Mas não sei se será mesmo verdade. Agora, de uma coisa tenho a certeza, pelo menos na minha ilha (S. Miguel), não existem metade das bandas que existiam em meados dos 90’s / inicio dos 2000. Quer queiramos quer não, ter e manter uma banda numa ilha é muito mais complicado do que aqui no continente, só a nível de concertos a diferença é abismal! Felizmente que ainda existem os “teimosos” como os Morbid Death, por exemplo, que ao fim de 25 anos ainda continuam a batalhar! Agora era preciso era começarem a aparecer (ainda mais) bandas novas e malta com vontade para os acompanhar!
Relativamente ao “The Unborn Fest” na Terceira julgo que já foi a 2ª edição e este ano até tiveram bandas internacionais. É sempre bom ver que existem coisas a acontecer e que o underground não está morto! Julgo que o caminho é exactamente esse, realizar festivais, concertos e/ou concursos para tentar “criar o bichinho” na malta mais nova!

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Aqui no continente temos visto um salutar aumento de bandas e de lançamentos de álbuns, com vários locais de concertos e promotoras a fazer um excelente trabalho. Ou seja bandas não faltam, mas o que é necessário para atrair mais o público? Achas que as mentalidades mudaram assim tanto comparando com a que eu e tu por exemplo vivemos nos anos 90? Viseu e toda a zona envolvente tem tido uma efervescência enorme no meio underground nacional, como se pode ver pelos concertos organizados desde a associação “Fora de Rebanho” até as “Rocha Produções”, entre outros, com muitos espaços para eventos. Do teu ponto de vista o que pensas de todo este movimento em Viseu? Ainda há espaço para crescer mais?

Sim, actualmente existem muitas bandas dos mais variados estilos e com muitíssima qualidade, muitos discos a serem gravados e boas salas de concertos! Claramente o trabalho está a ser bem feito! Se o público é pouco ou não adere em massa… deduzo que seja muito mais interessante ir ao “Rock” in Rio! As mentalidades mudaram a todos os níveis como é normal, algumas para melhor, outras nem tanto. Nos 90 talvez não existisse tanta mediatização do “Rock” e o underground unia-se mais.
Aqui por Viseu a situação felizmente está saudável. Por exemplo, a associação Fora de Rebanho já leva 3 anos de trabalho com concertos mensais e sempre em apoio ao underground e à cultura alternativa e a “Rocha Produções” além do Mangualde HardMetal Fest que já vai com mais de 20 edições está a organizar festivais em Tondela, Penalva do Castelo ou Viseu! E são apenas dois exemplos. Julgo que o underground em Viseu está efectivamente vivo e a crescer!

 

O underground não se pode resumir só às bandas, necessitando de todo um apoio por trás desde promotores, fanzines, fotógrafos, rádios e acima de tudo público. Concordas com esta minha opinião? As novas tecnologias trouxeram muitas coisas positivas, mas actualmente existe muita informação que está dispersa. O que retiravas do espírito underground que se viveu e que podias aplicar hoje em dia?

O underground é tudo isso! As bandas sozinhas não resistiam, é necessário o publico, são necessários os promotores, as zines, os fotógrafos, as rádios, etc. Todos necessitam uns dos outros, e todos tem o seu valor, o importante é apoiarem-se mutuamente sem ninguém se achar superior!
As novas tecnologias claro que vieram ajudar em muitas coisas, hoje em dia temos a facilidade de descobrir e conhecer bandas de todos as formas e feitios. Antes, como já disse, comprava dezenas de tapes só pelo nome da banda e por uma breve descrição… agora podes ler sobre a banda, ouvir, ver vídeos e depois se não quiseres comprar podes apenas fazer um simples download! Ainda assim, também tem o lado mau, eu comprava qualquer coisa e ouvia-a até à exaustão, lia e relia os booklet’s e voltava a ouvir! Agora às vezes tenho tantas coisas novas para ouvir que acabo por não ouvir metade ou oiço com um terço da atenção que devia!
Em relação ao espírito que se vivia, acho que não devemos fazer grandes comparações, tudo mudou, por isso temos de aceitar. Mas se fosse possível, gostava que o pessoal voltasse a aderir mais aos concertos do underground.

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Assim chegamos ao final desta entrevista. Muito obrigado pelas respostas e pelo tempo dispendido. As últimas palavras são tuas para deixares o que te vai na alma e tudo o que quiseres! Até uma próxima e ficamos a aguardar novidades dos Basalto.

Eu é que agradeço em meu nome e em nome dos Basalto a disponibilidade e o apoio à banda! É um prazer ver zines como a Ode a recriarem-se e a sobreviverem na era digital!
Continuem a apoiar as bandas nacionais como puderem e a ir aos concertos! E apoiem as fanzines, porque isto dá muito trabalho!!!

E já agora… comprem o cd de Basalto se ainda não o fizeram!


Pedra de Metal

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   Pedra de Metal é um blogue nacional dedicado à divulgação do que vai acontecendo no Metal, com grande incidência no Metal nacional. Um projecto inicialmente fundado em 2009 prima pela qualidade, dedicação e nada melhor do que estar à conversa com o seu fundador, o Paulo Eiras.

   Numa altura em que os canais de informação abundam temos visto um decrescer a nível nacional de sítios destinados ao que se passa no nosso meio e é com trabalhos como este que temos que tentar contornar esta situação e aumentar o aparecimento destes projectos.

10330387_10208620161212015_5258617118962639297_n-4 Viva Paulo! Muito obrigado pela tua disponibilidade para participares neste número da Ode Lusitana, ainda para mais quando é um enorme prazer para mim entrevistar pessoas ligadas à divulgação do metal, especialmente o que se faz no nosso país e no teu caso através do blogue Pedra de Metal. Mas como tudo, houve sempre um início no teu gosto pelo Metal. Como surge essa tua paixão?

O meu gosto pelo heavy metal começou quando eu tinha para aí 12 anos. Aliás o primeiro álbum de metal que ouvi foi o Wolfheart que o meu amigo Ricardo Silva me emprestou. Já ouvia muito hard rock, como os Led Zeppelin, Bon Jovi (qd ainda faziam rock), isto para dar alguns exemplos. Basicamente depois passei a ouvir as bandas mais tradicionais do metal como os Iron Maiden, Judas Priest e Metallica. Depois a partir dai foi passar para uma fase do Metal mais pesado até chegar aos Emperor e Dimmu Borgir duas bandas que adoro.

 

Tens alguns álbuns desse tempo que ainda continuas a ouvir e que te trazem emoções como se fosse a tua primeira vez?

Ainda tenho varias coisas, tenho a coleção toda de uma banda que pouca gente ouve os Notre Dame, também tenho uma caixa dos MetallicaLive Shit: Binge and Purge”, toda a minha coleção de Iron Maiden a claro cds e mais cds em mp3 de tudo e mais alguma J Confesso que ouço ainda com alguma frequência o cd ao vivo dos RAMP, um dos álbuns que mais gosto.

 

Uma das tuas paixões são os Iron Maiden, que por acaso foi a primeira banda que ouvi através do álbum “Live After Death”. O que achas deles como exemplo de uma das maiores instituições do Metal que existem e que transmitem o prazer de estar em palco e tentar fazer sempre um espectáculo para agradar aos ouvintes e a eles próprios?

A verdade é que os Iron Maiden são únicos e possivelmente a banda mais respeitada por todas as vertentes do Metal. O caminho deles teve alguns percalços no entanto mesmo quando existia polémica à volta da banda, eles nunca perderam muitos fãs e agora estão mais fortes do que nunca para mim.

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Com este teu início no Metal e passado uns anos de maturação enveredas pelo caminho da escrita. Como se iniciou esse processo?

Eu quando entrei para a faculdade tinha muito tempo livre J Basicamente pensei em fazer um blog de heavy metal, o que não aconteceu de imediato, cheguei a ter um blog meu, que nada tinha haver com música, relatava os meus dias da faculdade, em que eu era um lobo, numa alcateia, e pronto existiram muitas estórias por aí de lobos que organizavam caças (aka jantaradas) foi uma fase da minha vida bem interessante, que no fundo fazia contos com lobos, lobas e outros seres, numa floresta, para “relatar” o meu dia a dia. Começa ai a escrita, sendo que depois passei para música.

 

Eras leitor assíduo de publicações de metal tanto em formato de revista ou até mesmo de fanzines ou já optavas pelo acompanhamento de alguns blogues? Que publicações seguias? Já tinhas participado em algo antes do “Heavy Rock News”?

Confesso que não acompanhava muitos blogs, nem fanzines, eu ia mesmo aos sites das bandas e ao myspace (muito myspace mesmo) ver as novidades e era assim que me mantinha informado. Tambem comprava a LOUD! e ainda o Blitz enquanto este se manteve em formato jornal porque tinha sempre algumas páginas dedicas ao heavy metal. Nunca fui de participar em fóruns sempre me mantive muito low-profile nesse aspecto. A minha participação na Heavy Rock News foi bastante interessante. Entrevistei uma bandas brasileira os Mindflow os nacionais Dapunksportif, no entanto alguém decidiu que o Heavy Rock iria terminar e foi ai que decidi criar o Pedra de Metal.

 

Em Abril de 2009 dá-se o surgimento do Pedra de Metal, onde dizes que devido à tua paixão pela escrita decides criar este projecto de divulgação do Metal. Era uma ideia que já estavas a desenvolver há algum tempo?

Eu já estava a pensar criar o meu blog e sair de um projecto fez-me avançar com o meu. Comecei sozinho a fazer umas pesquisas aqui e ali e pronto foi começar a andar para a frente.

 

No início foi um hobby, mas que fizeste uma entrega de corpo e alma, com muitos colaboradores e parcerias que ajudaram a crescer o vosso nome. Como funcionava o processo de trabalho naquela altura?

Foi um hobby e continua a ser um hobby, nunca foi uma tentativa de ganhar dinheiro e muito menos de entrar de borla em concertos. Existiu uma fase que tinha vários colaboradores, mas as vezes quantidade não siginifca qualidade. Tive sempre do meu lado o Bruno Sousa e neste momento o Pedra de Metal mantem-se assim, apenas os dois e assim irá ficar esperemos que desta vez por muito mais tempo. As parcerias foram algo que surgiu naturalmente, e com elas vieram mais bandas nacionais, mais eventos nacionais divulgados, mais projectos de escrita divulgados (Versus, Iron Maiden Sanctuary Fanzine, etc etc) e posso dizer que aí sim se deu o “boom” do Pedra de Metal. Apesar de continuar a divulgar algumas notícias internacionais, o que me deu mais orgulho foi chegar à fase em que só divulgava cenas nacionais, concertos, cds, ep’s e por aí fora. As parcerias foram e são importantes porque são eles que nos ajudam a “divulgar a cena nacional” e que nos fazem chegar mais e mais notícias para publicarmos, para além de divulgarem o Pedra de Metal nos seu espaços. O Pedra de Metal é um simples blog, queremos divulgar o nosso heavy metal, e pronto. Nas parcerias feitas muitas vezes convidavam-me a aparecer nos concertos (se fosse no Porto tentava ir, mas mais longe não dava os €€€ não permitem essas aventuras), e poucas vezes pedi credencial, que não fosse de malta que eram nossos parceiros (pois eram foram sempre recusadas), até que um dia pedi credencial para o Rock In Rio (ano em que Rammstein, Megadeth, Motörhead e Soufly partilharam o palco principal) e para meu espanto deram-nos credencial. A minha primeira credencial foi para o Rock In Rio, eu so pensava como é que era possível, um blog conseguir isso. Ainda pude entrevistar More Than A Thousand e RAMP, e a partir daí mais portas se abriram para o Pedra de Metal, que antes do Rock In Rio, estavam fechadas. Digamos que o Rock In Rio acabou por ser um empurrão para mostrar que estávamos cá para divulgar tudo o que fosse possível do nosso metal nacional, dos nossos eventos nacionais e que não eramos apenas “uma brincadeira de miúdos”, como me chegaram a dizer uma vez.

 

Lembro-me de seguir atentamente o blogue e foi com uma grande mágoa que fiquei ao anunciares o fim deste projecto em Outubro de 2012. Anuncias as razões, principalmente devido à falta de tempo, para o “Pedras” e a disponibilidade que como é óbvio dedicaste à família, mas também a outras coisas. Sei que não foi de ânimo leve, mas como foram essas semanas a seguir a este fim? Desligaste-te completamente de tudo?

Confesso que eu estive mesmo para desativar completamente o blog e ele só ficou ativo porque todos os que lá escreveram não mereciam isso. A decisão não foi fácil, nada mesmo, e andou a marinar muito tempo antes de anunciar o fim do projecto, tanto que a minha ideia era ter terminado o Pedra de Metal, no dia a seguir à entrevista que publiquei ao Fernando Ribeiro dos Moonspell, estava com aquela ideia, “vamos acabar em grande”. Não o fiz, mas em novembro teve que ser, era muita coisa apenas para duas pessoas, e os projectos pessoais precisam de mais tempo meu, tempo esse que eu dispendia no Pedra de Metal. Ou seja o hobby estava a deixar de ser um hobby e começava a afetar a minha vida pessoal, foi nesse momento que parei. Quando terminei, estive uns tempos sem ir ao blog, acho que foi o melhor, mas por vezes regressava para reler varias coisas que estavam por la.

 

Há coisas que não morrem, nem ficam obsoletas, mas que evoluem. Foi o que aconteceu com o renascimento do “Pedras” em Novembro de 2015, com uma frase muito interessante no vosso blogue: “O Pedra de Metal nunca desapareceu completamente. É uma pedra que não vai ao fundo”. Resumindo, foste atrás desta tua paixão e não desististe. Como voltou a amadurecer essa tua ideia de voltares ao activo?

O principal motivo para regressar ao activo, foi infelizmente a morte daqueles que para mim foram os meus segundos pais, os meus avos maternos. Em cerca de um ano perdi o meu avô e a minha avó e eles sempre me apoiaram em tudo, e sempre disseram para nunca desistir do que gostava de fazer. Não foi uma fase boa, nem fácil, num ano perdi os meus dois melhores amigos. E o bichinho da escrita nunca morreu.

Estou numa fase em que penso começar novamente o “blog dos lobos” num formato tipo diário, enfim, nunca deixei de escrever.

Outra factor são os parceiros. A verdade é que existiram dois parceiros que nunca deixaram o Pedra de Metal morrer, são eles o Luis Lisboa do Vimanares Metallium e Ricardo Nora da Bulldozzer On Stage, que nos                        cartazes sempre até aos dias de hoje colocaram lá o nosso banner e só posso agradecer-lhes por isso.

 

Uma pessoa também importante neste renascimento foi o Bruno Sousa, que já tinha feito parte da vossa equipa e colaborado. De onde vem essa vossa amizade entre ambos, especialmente pela escrita e como entra nele nesta nova fase?

O Bruno está comigo desde o início, foi a primeira pessoa que convidei para o Pedra de Metal, esteve em todas as fases, sempre foi um excelente amigo e até conselheiro e neste regresso ele tinha que estar presente, o Pedra de Metal é tanto meu como dele, eu pelo menos considero assim. A nossa amizade surgiu num chat de uma rádio online de metal e já tem uns anos. É um amigo para a vida.

 

Aqui temos então o vosso projecto novamente e em força. Como tens visto a evolução da informação nestes últimos anos? Acompanhas alguns blogues/sites estrangeiros? Ainda continuas a seguir as publicações editadas em papel?

Deixei completamente de seguir as edições nacionais em papel, talvez mesmo por desleixo meu, e foi mais ou menos na fase em que terminei o Pedra de Metal. Afastei-me do mundo das notícias. Agora existe o facebook em que tudo é lá publicado. O que noto é que informação está cada vez mais disponível a todos, e admiro-me ter cada vez mais contactos de bandas da América do Sul, que me pedem para divulgar os seus projectos.

Neste momento estamos numa fase que a informação pode ir para sites, blogues etc etc, mas também tudo fica no facebook, twitter e outras redes sociais. Basicamente a informação está disponível a toda a gente de forma imediata, portanto é bastante mais difícil teres visitas no teu blog ou site comforme tinhas a uns anos atras.

 

Nos últimos anos temos vindo a observar um decréscimo das publicações dedicadas ao Metal no nosso pais. Os lançamentos em papel são muito poucos, temos apenas uma revista editada a nível nacional e os blogues/sites portugueses são também escassos. Esta situação não vemos em muitos outros países a começar pela nossa vizinha Espanha. O que nos falta em Portugal para haver mais gente a optar por iniciarem um trabalho que seja um meio de divulgação do que se faz no nosso pais?

Eu acho que falta é tempo e claro, tens que ter gosto pela escrita, isso é fundamental, mas a verdade é que se não tiveres tempo para publicares, tratares do teu “espaço”´, não consegues avançar com nenhum projecto. Depois, lá está, a informação já está bastante divulgada devido as redes. Por isso é que considero que projectos como o Pedra de Metal, a Ode Lusitana e muitos outros, devem-se é manter unidos e não criar “guerras estúpidas”, como por vezes meia dúzia de “atrasados mentais” tentam fazer.

 

Temos uma imensidão de bandas com trabalhos excelentes, muitos concertos a acontecer, mas pouca gente a optar pela escrita. Que dicas poderias dar a quem quiser começar? Qual seria o impulso inicial?

O impulso inicial é “se gostas de escrever, força, escreve”. Não nos podemos preocupar se vai resultar ou não, no primeiro mês de Pedra de Metal não pensava chegar as 1000 visitas e cheguei. Se escreverem sobre Heavy Metal, não entrem em guerras com ninguém, cada um divulga o nosso metal como pode, e principalmente nunca desistir no primeiro contra tempo. A nossa comunidade metaleira já é tão pequena, que temos é que todos divulgar, se possível, o que é nacional em grande quantidade.

Um dos trabalhos que mais respeito e tenho orgulho de desfolhar é a “Breve História do Metal Português” do Dico, já que é a nossa história, o nosso meio, a nossa paixão escrita neste livro. É uma base para o nosso futuro. Qual é o teu ponto de vista do Metal em Portugal a todos os níveis, desde as bandas até ao público? Qual o papel e o contributo que o Pedra de Metal poderá ter e o que esperam fazer nos próximos tempos?

O livro do Dico para mim foi uma excelente surpresa porque nunca pensei que fosse tão completo e com tanta qualidade, quer na escrita, quer no conteúdo. Um bem haja ao Dico por este resumo histórico do nosso Metal nacional. Quanto ao público do metal, epá, eu acho que o público do Metal português está envelhecido, está mais maduro claro, já não há aqueles “trues” de antigamente (e ainda bem), no entanto eu noto que estamos velhos. Não sei bem como te explicar isto, mas eu tenho 34 anos, e não vejo malta muita mais nova que eu nos concertos, ou ate mesmo na página do facebook do Pedra de Metal. Mesmo a nível de bandas não aparecem tantas bandas coma frequência que apareciam antigamente, e mesmo algumas cenas mais recentes já é de malta que já tem um ou dois projectos.

E assim chegamos ao fim. Muito obrigado Paulo pela tua disponibilidade. Eu como mentor da Ode Lusitana também estarei disponível para qualquer coisa que seja necessária e que divulguemos o que se passa no nosso pais. As últimas palavras são tuas, por isso estás à vontade!

Quero primeiro agradecer à Ode Lusitana esta experiência, normalmente quem faz as perguntas sou eu J Continuem com o vosso excelente trabalho e divulguem o Metal Nacional. A todos os que lerem se possível visitem o Pedra de Metal, podem deixar os vossos comentários e sugestões, estamos sempre abertos a novas ideias, que nos ajudem a divulgar o que é nosso e a novas parcerias. Um grande abraço para todos.

Podes também visitar o blogue aqui

 


Lunah Costa – Headbang Solidário

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   Numa época em que as dificuldades e diferenças sociais aumentam, é sempre de realçar quando há quem dedique parte do seu tempo a tornar as coisas um pouco mais simples. O Headbang Solidário surgiu para através de eventos solidários, onde se inclui concertos de Metal, tornar possível esta angariação de fundos para estas causas nobres.

   Lunah Costa, foi a mentora deste projecto que irá para a quarta edição a decorrer no Metalpoint a 17 e 18 de Junho.

   Esta entrevista, fala disto e de muito mais, mostrando que é uma das pessoas do Norte que tem feito um esforço enorme na divulgação do metal, sendo uma das criadoras da mais recente produtora Cthulhu Productions. Mas vamos à entrevista!

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Olá Lunah! É com enorme prazer que temos a tua presença neste número da Ode Lusitana. Para começar nada melhor do que o grande trabalho que se tem vindo a fazer e que é o Headbang Solidário. Como surgiu a ideia deste projecto da organização de eventos para a angariação de fundos para causas sociais? Quem é que constitui a equipa do “ Solidário”?

Muito obrigada desde de já pelo convite, é um prazer ser entrevistada pela Ode Lusitana. O Headbang Solidário surgiu quando uma amiga minha de longa data, a Vera Pentieiros, pediu ajuda para angariar fundos para o seu projecto Noites Solidárias que auxilia os sem-abrigo e famílias carenciadas, porque estavam sem dinheiro para comprar comida. Eu até a data nunca tinha organizado nenhum concerto mas aceitei ajudar. Como correu bem, decidi continuar com o Headbang e ajudar várias associações e causas. Não tenho como ajudar monetariamente as associações, por isso é esta a minha forma de ajudar. Em relação à equipa do Headbang, basicamente sou eu. No entanto, tenho o Fábio Pinto que elabora os cartazes do Headbang e tenho o Hugo Rajado que no dia dos eventos ajuda no que for necessário.

Como se processa a ligação entre vocês e as várias associações que apoiam?

Quando escolho uma associação ou projecto, tenho que conhecer bem a forma como trabalham e verificar se estão com dificuldades. Marcamos reuniões, as associações ou projectos apresentam provam das suas dificuldades, recibos, dividas, gastos e visito os espaços destas. No caso por exemplo da associação Senhores Bichinhos, eu sei e conheço as clínicas as dividas que a associação tem por salvar e cuidar dos animais. Para além que era voluntária da associação e hoje faço parte como membro da mesma. Conheço os animais, conheço o local e sei como a associação funciona. E é igual para o projecto Noites Solidárias, já assisti a entregas, todos os meses publicam os gastos e os recibos e conheço pessoas que este projecto auxilia. E é isso que faço. Tento ter a certeza que o dinheiro é bem entregue. No dia do evento, o valor angariado é entregue directamente do Metalpoint a um membro da associação ou projecto.

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O primeiro festival foi realizado em Maio do ano passado. O que mais tens notado de evolução entre esse festival e o último, realizado em Fevereiro deste ano? Já notas que as pessoas conseguem reconhecer facilmente o vosso trabalho e a apresentação deste festival?

O que tenho notado é que algumas bandas se disponibilizam para participar, enquanto no primeiro evento eu entrei em contacto com todas as bandas, neste momento, tenho bandas a contactar-me para ajudar e participar. Tenho recebido mais propostas de parcerias e de apoios. Tal como tenho associações a pedir ajuda. Acho que sim, acho que o nome Headbang Solidário já é reconhecido, não por todos claro, mas tenho recebido palavras de apoio de várias pessoas que não conheço pessoalmente, bandas que querem tocar neste evento e associações que pedem ajuda, mas ainda há um longo caminho a percorrer, é ainda algo recente.

Como nasceu a hipótese de utilizarem o Metalpoint como sítio dos concertos? Há a hipótese de quererem efectuar estes concertos em outras cidades ou espaços?

O Metalpoint foi o meu primeiro contacto. O Metalpoint não é apenas um local com excelentes condições. É o local que manteve o metal nacional vivo durantes estes anos, sem nunca desistir apesar das dificuldades. Se há algo que posso garantir, é que no Porto, o Headbang será sempre no Metalpoint. O Headbang não é apenas um projecto de festivais, é a representação do que eu acredito. E eu acredito na gratidão. E estou eternamente grata ao Hugo Almeida do Metalpoint, por ter abrido as portas a alguém que nunca fez nada do género, que acreditou em mim e que ainda hoje, é um grande apoio. Mas não está excluída a hipótese de alargar para outras zonas do país.

Em Junho próximo teremos a 4ª edição, desta vez associado à ajuda às crianças. Como a Associação Sorrisos de Criança ‘participa’ neste evento?

Eu decidi abraçar uma causa que me diz muito: as crianças. E tenho amigas que colaboram com essa associação. A Sorrisos de Criança, tal como qualquer outra associação, tem apenas que estar presente no dia dos eventos para promover o seu trabalho, tal como receber o valor angariado. No entanto, é necessário também um contacto regular entre mim e a associação, caso uma destas condições não se verifique, tenho que procurar outra associação ou projecto dentro deste âmbito.

Já se encontra o cartaz fechado ou poderemos ter mais algumas bandas?

Ainda poderá haver surpresas. O cartaz está fechado, mas é sempre possível haver algumas alterações. As bandas que participam, têm músicos que infelizmente não vivem da música, têm empregos, e como tal, por algum motivo profissional ou até de saúde, podem levar à alteração do cartaz.

 

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Como se efectua a escolha destas bandas, que tem sido uma surpresa para muitas pessoas, já que algumas são menos conhecidas ou ainda em início de actividade?

Digamos que tento colocar as bandas que admiro e gosto, o máximo que pode acontecer é receber um “não” ou até não obter resposta. Também penso no que o público gosta porque, sinceramente, um dos objectivos principais é angariar fundos. No entanto, sim, arrisco em bandas que nunca tocaram ao vivo, que nunca tocaram no Porto ou no Metalpoint, porque defendo que essas bandas têm o direito de mostrar o seu trabalho e claro que peço sempre material para ouvir.

Também é por isso que tento fazer cartazes com bandas de estilos diferentes, porque todas têm o direito de mostrar o que valem, independentemente do estilo de metal que tocam e já ouvi comentários deste género” não gosto do estilo, mas até gostei bastante da banda”. O Headbang tem sempre as portas abertas para qualquer banda, desde que tenham qualidade para oferecer ao público.

As pessoas que assistem a estes concertos conseguem ter um espírito solidário? Consegues explicar alguma da insensibilidade das pessoas perante estas causas, seja relativamente aos sem abrigo, aos animais, ou mesmo às crianças? Cada vez mais se perdem os valores morais nesta sociedade actual?

Como costumo dizer: os metaleiros são uns fofos (risos). Em todos os estilos musicais, em toda a sociedade, há sempre boas e más pessoas, tal como há pessoas solidárias e outras nem por isso. No entanto, um dos objectivos do Headbang Solidário é também diminuir a visão da (ainda) maioria das pessoas, que os metaleiros são todos uns porcos, feios e maus (risos) e tenho conseguido. As associações ficam muito admiradas com a solidariedade das pessoas que vão as eventos: levam comida, roupa, compram sempre alguma coisinha nas bancas para ajudar. Estou muito mas muito orgulhosa de todos os que vão aos eventos. É um ambiente lindo.

Mas sim, acho que os valores morais estão a regredir. As pessoas colocam o dinheiro à frente de tudo: da amizade, da gratidão, da humildade. Mas no caso da adesão do publico aos eventos, só tenho a agradecer a presença de todos.

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Tens uma presença bastante forte no que toca ao movimento underground e entre as tuas várias participações, estás agora na Cthulhu Productions. Da tua parte tens a organização de eventos e o agenciamento de bandas. Como nasce esta produtora, tendo uma variedade enorme de campos a que está ligada?

Não acho que tenha uma presença forte no movimento underground, ainda tenho um longo caminho a percorrer e muito a aprender. A Cthulhu nasceu nas profundezas das sugestões que tenho recebido (risos). Várias pessoas sugeriram que eu criasse algo a ganhar algum dinheiro, porque o trabalho que tenho feito no Headbang está a ser bem feito e que poderia investir em algo assim. E o facto de estar próxima das bandas, alguns laços de amizade foram criados, e fui-me apercebendo que as bandas poderiam necessitar de alguns serviços, a um preço simbólico para conseguirem alguns objectivos, como tocar em todo o país e no estrangeiro. Esse é o meu trabalho: levar as bandas aos quatro cantos do mundo, a começar por Portugal.

Em relação aos outros serviços, tenho amigos que sabem dar aulas de música, o Hugo Rajado, o Dabid Pinto e Tiago Gomes e têm muitas pessoas que querem aprender mas que não podem pagar o que geralmente as escolas pedem, logo, criei uma escola de música com pessoas que sabem dar aulas e que gostam, a um preço o mais baixo possível e com as melhores condições possíveis.

A nível de gravação de vídeo, tenho amigos que neste momento estão a criar um projecto nesse sentido, visto que a pareceria com a ISFrame não tinha como continuar.

Ou seja, nasceu entre amigos e irá permanecer entre amigos.

Quem compõem a Cthulhu Productions? Uma das primeiras parcerias foi com a banda portuense Thorvus. Como surgiram os contactos com eles e como as bandas e as pessoas podem entrar em contacto com vocês?

A Cthulhu Productions é basicamente composta por mim, para além dos professores, o Hugo Rajado, o Dabid Pinto e Tiago Gomes, e colaborações que ainda estão a ser analisadas.

Em relação aos Thorvus, conheço os Thorvus à 3 anos, por motivos pessoais, namoro com o Fábio Pinto, guitarrista e vocalista. Sempre gostei do trabalho deles, acompanhei-os ao longo destes anos como manager e amiga. Foi por causa deles que ganhei amor ao metal nacional de forma que hoje dedico-me a esse “amor” (risos). Só sabendo as dificuldades das bandas nacionais de metal, é que se ganha paixão pela causa.

Podem contactar por email: productionscthulhu@gmail.com , por facebook: https://www.facebook.com/CthulhuProductions e por tlm: 915 880 324.

O nome Cthulhu, remete ao imaginário do mestre norte-americano H. P. Lovecraft. Como foi a tua descoberta deste autor? Tens mais autores que despertam a tua curiosidade? O que achas da situação nacional em que vemos os jovens cada vez mais a se afastarem da leitura? O que se poderia fazer para alterar esta mentalidade?

Desde de muito cedo que adquiri o âmbito de ler. O meu irmão mais velho sempre me deu grandes obras para ler e H.P Lovecraft foi o primeiro génio do terror que fiquei grande admiradora até aos dias de hoje, porque na sua obra ele, ao mesmo tempo que ele cria personagens míticas como o Cthulhu, insere elementos de fantasia e ficção cientifica que são géneros que aprecio bastante, para além da sua escrita fria, detalhada e mórbida. A obra dele diz-me muito, ao ponto de escolher este nome para o projecto e de futuramente, tatuar uma homenagem ao escritor e à sua obra e assim começo a responder a outra questão: tenho imensos escritores que despertam a minha curiosidade e mais que isso, a minha admiração. Tenho um braço tatuado com Edgar Allan Poe, Florbela Espanca e Oscar Wilde, e ainda falta tatuar o H.P Lovecraft e o José Saramago. Os livros, a leitura, sempre foi a minha grande paixão. Em relação aos nossos jovens, sinceramente, não estou a par das suas escolhas de leitura, mas é percetível que na sua maioria não têm sequer hábitos de leitura e sim, isso preocupa-me, por acredito que há escritores, há livros, há simples frases, que podem mudar a nossa maneira de ser, quem somos. Que nos podem tornar melhores seres humanos. Não sei como alterar esta mentalidade. Mas acredito que a família tenha um papel essencial. No entanto, cada um tem os seus gostos, as pessoas são livres de não gostar de ler, mas, sinceramente, acho que deveriam ler pelo menos um livro por mês.

 

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Entre as várias coisas, também efectuas entrevistas a bandas. Como é o teu processo de preparação das mesmas? O que achas do aumento destas publicações e porque não surgem mais?

Infelizmente, já não faço à imenso tempo. Felizmente, a Som do Rock, apoiam-me nos meus projectos e entende que não tenho como fazer entrevistas neste momento. Criei o festival Som do Rock Fest para agradecer esse mesmo apoio.

Tudo teve um início, por isso como começou a tua paixão pelo Metal e com quais bandas? Tinhas um grupo de amigos na secundária em que davam a conhecer novas sonoridades? Quais os álbuns que ouvias no início e ainda gostas de ouvir?

Começou na barriga da minha mãe (risos). O meu irmão mais velho já ouvia metal, então colocava os phones na barriga da minha mãe (risos). A medida que fui crescendo, fui sempre ouvindo metal, simplesmente porque gostava mais desse tipo de música do que o restante que a minha irmã e amigos ouviam. Os únicos metaleiros que conheci eram os amigos do meu irmão que com o tempo seguiram a vida deles e fiquei sozinha (risos). Basicamente, cresci em uma aldeia muito reservada em que fui maltratada por me vestir de preto todos os dias e com t-shirts de bandas que as vezes são “agressivas” (risos) . É duro crescer numa aldeia que és a única a ouvir este género de música. Não tinha amigos que ouvissem o mesmo, até o meu 9º ano em que conheci três pessoas que ouviam metal da minha idade. No secundário, conheci apenas o Marcelo, que faleceu com 18 anos, logo, a nossa amizade foi demasiado curto, a vida dele foi demasiado curta. As primeiras bandas que ouvi e que me recordo foram: Iron Maiden, Metallica, Manowar, Sepultura, Pantera, Black Sabbath, Megadeath. Não posso escolher um álbum (risos) é impossível, ouço vários de várias bandas. No entanto, por motivos pessoais, há um álbum que sempre me vai acompanhar : “Black Album”, dos Metallica, era o álbum que o meu irmão usava para me adormecer e que alguém muito especial que já partiu, tocava guitarra para mim. De resto, não consigo escolher.

E assim terminamos esta entrevista. Quero agradecer-te pela tua disponibilidade! Muito obrigado! E estas últimas linhas estão à tua disposição para dizeres o que quiseres.  

Muito obrigada pelo convite pelo apoio. E obrigada a todos os que têm dado o seu apoio aos meus projectos, farei sempre o meu melhor.


Web

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   Web são uma das bandas que durante mais tempo tem espalhado a palavra do Metal por terras nacionais, com o seu thrash metal e que este ano fazem 30 anos de carreira.

   Fundados em Outubro de 1986 no Porto, editaram até ao momento três longa-durações, “World Wild Web” (2005), “Deviance” (2011) e o mais recente “Everything Ends” (2015). Formados actualmente por Fernando Martins (voz / baixo), Victor Matos (guitarra), Filipe Ferreira (guitarra) e Pedro Soares (bateria), conseguiram evoluir ao longo dos anos e monstram o seu potente som.

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Vamos conhecer um pouco mais de Web em entrevista com um dos músicos mais reconhecidos a nível nacional, o Victor Matos, membro fundador do grupo.

 

Olá Victor! É uma honra ter-te neste número da Ode Lusitana pela importância que tens mo metal nacional, seja em cima do palco, ou a assistir a muitos concertos e festivais pelo país fora. E a cereja acima do bolo é a edição deste álbum “Everything Ends”, passados quase 30 anos da formação da banda. Ao princípio o título do álbum podia levar a uma situação mais drástica, mas aí temos Web, a percorrer o país de lés a lés. Como tem sido as reacções ao álbum e o que as pessoas te tem dito? Qual a fórmula de manter o vosso som actualizado, levando a uma evolução constante da banda?

Antes de mais Viva! E obrigado por te teres lembrado dos Web.

O titulo do álbum insere-se no contexto do próprio álbum, nas letras, no artwork e no clima que pretende criar, mas como é obvio “Everything Ends” é um dado adquirido, não vale a pena tentar fugir disso, mais tarde ou mais cedo acontece!

As reacções ao álbum têm sido muito positivas, quem já conhece o percurso e o trabalho de Web fala em evolução técnica e sonora conseguindo sempre soar a Web. Aqueles que ouvem ou vêm Web pela primeira vez e já conheciam de nome costumam dizer-nos que não faziam ideia que a nossa sonoridade fosse esta e dão-nos parabéns! Os “virgens” mediante aquilo que ouvem ou vêm costumam ficar muito admirados quando se apercebem que a banda celebra agora 30 anos e que nunca esteve parada.

A fórmula para mantermos o som actualizado é simples e tem a ver com a nossa maneira de ser. Em termos de novidades acompanhamos sempre o meio nacional quer internacional, porque gostamos e esta é a nossa paixão! Não nos fechamos no passado, porque já passou e também não recusamos a novidade sem primeiro a conhecermos.

Penso que é esta atitude que naturalmente nos dá a tal evolução constante de que falas.

11224019_884125248327891_7182193790142624165_nEste álbum serviu de mote à “Everything Ends Tour” com vários concertos ainda na calha como o Moita Metal Fest, SWR Metal Fest, Bulldozer Fest, Viseu Rock Fest, ou mesmo em espaços mais pequenos. Tive a oportunidade de os ver em vários sítios e é evidente a energia em cima do palco. Como tem corrido estes concertos? É notária a evolução nas condições e nas salas de concertos? És observador atento das bandas que partilham o palco com vocês? Tem previstas mais datas nesta tour?

Os concertos têm corrido muito bem! A parte I da tour com todos aqueles fins de semana seguidos foi excelente em termos de convívio com as outras bandas e com o público!

A parte II está agora a decorrer, em termos temporais é diferente, uma vez que é mais espaçada no tempo.

Posso desde já dizer que em termos de convívio está a acontecer a mesma situação atrás descrita, em termos de participação do público, está a ser brutal! Boas casas com muita participação do pessoal, notamos que muitos já cantam os temas do novo álbum e apercebermo-nos que temos muita malta nova lá presente, nova em termos de idade e nova por serem a primeira vez que assistem a um concerto de Web.

Este facto deixa-nos muito contentes

Todos sabemos a vossa história, mas como é que tu e o David Duarte começaram por ser roadies dos Tarantula? Podíamos dizer que já existia um aglomerado forte de pessoas na década de 80 que se interessava pela música mais extrema? Onde é que se juntavam e procuravam descobrir novas edições de bandas?

Sim mas eramos muito menos! Geralmente juntávamo-nos na escola secundária, nas casas de cada um, partilhávamos as revistas, (a maior parte em Alemão o que dificultava ainda mais), em dois ou três “tascos” no Porto, e claro, nos poucos concertos de que de vez em quando aconteciam! Em termos de frequência estamos a falar de cerca de meia dúzia por ano de bandas internacionais, e igual ou menos ainda de nacionais, e se estivermos a falar mesmo só de som extremos sem o “Rock”, eu diria mesmo que eram ainda menos…

Para terem uma ideia, mais de 80% dos vinis que adquiri na última metade dos anos 70 e da primeira dos anos 80 vieram de fora de Portugal, sobretudo do Corte Inglês de Vigo 😛

Depois abriu a Tubitek, mais tarde a Bimotor, pontos de referência no Porto, e já se trocava muita correspondência, com a particularidade do pedido da devolução do selo (lol), e as coisas já passaram a ser diferentes.

Em 1986, começam o vosso longo e saudável percurso, que foi interrompido por uma das coisas que a juventude de hoje em dia não tem conhecimento e que limitou algumas das bandas do nosso meio e que era o S.M.O. (Serviço Militar Obrigatório). Mas em 1992 fazem parte da compilação nacional “The Birth of a Tragedy”, e em 1994 editam a vossa primeira demo. A partir daí foi sempre a subir. Como definiram o som que queriam fazer no início? Havia alguém na banda que indicou que o caminho era o thrash metal? Como era o ambiente que se viva no meio da década de 90 a nível de concertos, público e bandas?

Nascemos em 1986 e a nossa estreia deu-se em 1987 no Rock Rendez Vouz. Foi muito auspiciosa e voltaríamos lá um ano mais tarde. De facto, na altura o SMO atrasou um pouco o nosso percurso. Devido à nossa idade ser em “escadinha” começamos a ir à vez, e quando um estava para sair entrava outro, na altura, o tempo médio foi de ano e meio.

Nunca nos preocupamos muito com o dito estilo, a principio, talvez devido aos temas serem mais arrastados fomos conotados com uns certos sons que estavam a proliferar na Europa mas por cá ainda eram pouco conhecidos, estou a falar de Black Metal e Death Metal. A partir da “Evil Tape” começamos a ser decididamente conectados com o Thrash Metal.

No meio da década de 90 houve um boom e começaram a haver muitos mais concertos, fanzines, salas e bares abertos ao dito som extremo. Enfim, o meio começou a proliferar e como é logico os Web pertencendo a este mesmo, e já na altura sendo considerada como uma banda veterana também começamos a tocar com muita mais frequência, editar demos, partilhar palcos com bandas estrangeiras, etc.

Já na altura em que o underground estava a regredir o David teve de abandonar a banda (finais de 1997), devido a doença, que 4 anos mais tarde nos retiraria a sua presença física… Eu e o Fernando tivemos de “levar o barco” por diante, não vou dizer que tivemos de recomeçar tudo de novo, uma vez que o nome Web já estava praticamente consolidado no meio Metálico Português, mas tivemos de “enterrar e expurgar velhos fantasmas” o que podem crer foi muito pior mesmo…

Passado menos de um ano, depois de muitos ensaios já com a nova formação, lá conseguimos dar um concerto e continuar a andar com a causa prá frente.

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Como surgiram as tuas ligações com o Fernando Martins e o Pedro Soares? E já em 2005 como surge o Filipe Ferreira? Todos tem gostos musicais diferentes, ou partilham as mesma influências. Pelo que já vi, o teu gosto musical é bastante variado.

O Fernando conheci-o através do David, na altura era assíduo cliente/frequentador da Halloween, (para quem não sabe uma das primeiras lojas dedicadas inteiramente ao Heavy Metal que era da pertença do David e da esposa e se situava no C.C. Stop), na altura estávamos com uma remodelação na banda, saíram 3 elementos e entrando outros 3, e foi com este novo line up que gravamos a “Promo Tape”.

O Pedro respondeu a um anuncio que viu precisamente na Halloween, isto em Outubro de 1997 quando houve a última grade remodelação nos Web.

O Filipe também se candidatou ao lugar vago de guitarrista, na altura para podermos começar a promover o “World Wild Web” que tinha acabado de ser editado.

Nós partilhamos mais ou menos os mesmos gostos com umas certas diferenças nas preferências de bandas ou estilos. No meu caso consumo um leque muito variado de Metal, Rock e Blues, depende muito do momento e da oportunidade, não me preocupo com rótulos, o que gosto, gosto o que não gosto, não quer dizer que não preste, apenas que não gosto, o problema até pode ser meu, por isso paciência…

1933385_1027232944017120_818947595101649164_oActualmente temos a teia da internet que se tornou parte do nosso dia-a-dia, tornando possível aceder a muita informação e muita música. Utilizas as tecnologias para descobrir novas bandas, ou és mais selectivo na quantidade enorme de bandas que se descobrem todos os dias. Este meio facilitou a divulgação das bandas, ou limitou-o devido a essa mesma grande quantidade de informação? O que é necessário para singrar no nosso meio?

Sim utilizo bastante, muitas vezes opto por ouvir bandas de países não muito comuns e bandas que nem sequer tinha ouvido falar nelas, e isso agrada-me muito, dá-me muito prazer conhecer cenas novas e ficar a gostar delas.

Penso que a quantidade enorme de informação apesar de ter aspectos negativos, os positivos se forem bem aproveitados superam e de que maneira os negativos, não curto nada a frase “no meu tempo é que era”, não era já foi, por isso já passou, agora se o soubeste aproveitar ou não isso já é outra história.

Para singramos no nosso meio, é preciso perseverança, gosto, empenho e disponibilidade, mas isso é como tudo na vida, o resto com certeza que mais tarde ou mais cedo irá aparecer, por algum motivo se costuma dizer que a sorte protege os audazes!

E terminamos por aqui esta entrevista. Queria-te agradecer pelas tuas respostas e bebemos um copo num próximo concerto algures pelo país. As últimas palavras são tuas!

Eu é que agradeço quer a entrevista, quer o teu modo de estar e apoiar o nosso meio, e como últimas palavras convido o pessoal a aparecer num concerto qualquer num sítio qualquer a juntar-se a nós e bebermos o tal copo juntos.

IIN METAL WE TRUST!!! IN UNION WE STAND!


Dico – Breve História do Metal Português

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Na sequência do pré-lançamento de uma obra literária icónica do movimento nacional está de regresso através de uma nova edição revista e aumentada a “Breve História do Metal Português” da autoria do Dico (Eduardo José Almeida).

Nada melhor do que recordar uma entrevista dada pelo Dico à Ode Lusitana em Abril do ano passado.

   Jornalista e músico, Dico tem deixado a sua marca na história do underground nacional. Dos vários trabalhos realizados, até projectos que ainda estão em gestação ficamos a conhecer o excelente empenho demonstrado.

10941830_397395457107654_3757071436482432474_nViva Dico! Desde já queria agradecer por teres aceitado responderes a estas perguntas e queria começar por que nos contasses como foi a tua introdução ao “Som Eterno”? Ouvias os álbuns sozinho em casa ou existia a partilha com os amigos?

Olá, Marco. Eu é que agradeço o convite. O primeiro tema pesado que me recordo de ter ouvido foi o “Bohemian Rahpsody”, dos Queen, aos 7 anos. Na época, por influência dos meus irmãos, também ouvia a Suzi Quatro e, mais tarde, o hit single dos Survivor, “Eye of the Tiger”. Estes foram os primeiros artistas de Hard Rock que ouvi. Tinha eu 11 anos, em 1982, quando o meu irmão me deu a ouvir o “The Number of the Beast”, dos Iron Maiden, e a partir daí fiquei definitivamente enfeitiçado pela música pesada. Comecei a ouvir Van Halen, UFO, AC/DC, Saxon, Deep Purple, Huriah Heep, Motörhead, bandas que o meu irmão e os amigos dele me mostravam. Cedo comecei, também eu, a levar lá a casa os meus amigos para os endoutrinar no Heavy Metal (LOL).

Tinhas lojas em que procuravas as novidades que iam surgindo?

Sim. Passei inúmeras tardes com amigos a descobrir novos discos nas míticas discotecas Motor (mais tarde Bimotor) e One-off, bem como numa loja de música que havia no Centro Comercial do Lumiar.

Como começou o teu fascínio pela bateria? Ainda te lembras da tua primeira aquisição?

Lembro-me de ficar absolutamente fascinado com a forma de tocar do Nicko McBrain, dos Iron Maiden. Por isso, aos 12/13 anos comecei a “tocar bateria” em caixotes de papelão com as agulhas de tricot da minha mãe (LOL). Depois, passei a “tocar” com colheres de pau viradas ao contrário em caixas tupperware fechadas com ar dentro, para dar mais estrondo (LOL). Só aos 18 anos comprei a minha primeira bateria, uma Superstar (LOL) que custou 80 contos (400€) e me foi oferecida por uma tia. Na época, não sabia nada do hardware do instrumento. Lembro-me que a dada altura o lojista que me vendeu o kit disse: “Vou buscar a chave da bateria” e eu perguntei-lhe: “As baterias também têm chave?” (LOL) Na época, era este o meu grau de desconhecimento.

Ao longo do teu percurso musical passas por várias bandas (Paranóia, Powersource, etc), mas fala-nos da tua passagem pelos Dinosaur, desde a gravação da demo auto-intitulada, ao aparecimento do tema “Accident” na compilação “The Birth of a Tragedy”, assim como da tua passagem pelos Sacred Sin e do lançamento do “Darkside”.

A minha passagem pelos Dinosaur não foi isenta de problemas e conflitos, mas prefiro recordar os bons momentos, que foram muitos. Adorava os Dinosaur. Evoluímos e crescemos em conjunto. Nos dois anos que estive no grupo tivemos vários pontos altos: a participação no 1º Concurso de Música Moderna da Câmara Municipal de Lisboa, o concerto no Cais do Sodré na final do concurso, a 1º parte dos Censurados na Bobadela, a gravação da demo-tape e dos telediscos, a participação na compilação “The Birth of a Tragedy” com o tema “Accident”…Tenho orgulho daquilo que alcançámos. Fazíamos música genuína, com paixão, de forma inocente. Sabíamos que tínhamos bons temas, mas só percebemos que estávamos a fazer algo relevante quando chegámos à final do referido concurso e fomos objecto de uma exposição mediática pouco habitual na época para um grupo de Metal underground. Vivi nos Dinosaur momentos mágicos. Também foi um enorme privilégio tocar com os Sacred Sin e tive a sorte de gravar com eles o “Darkside”. Estive com a banda menos de um ano, mas esse período temporal, apesar de breve, foi também extremamente profícuo. O ambiente interno era impecável, mas na época estava a atravessar uma fase complicada a nível pessoal, o que me impediu de aproveitar melhor a minha estadia na banda. Além disso, tecnicamente não estava preparado para tocar num grupo como os Sacred Sin.

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Um dos motivos porque és reconhecido no meio é pela tua escrita. Desde a participação em várias revistas a blogues, ao longo dos anos tens demonstrado esse interesse. Como surge essa paixão? O que te tem motivado ao longo dos anos a participares nesses projectos todos?

O que me motiva é um profundo amor pelo Underground. Tenho sempre de estar a fazer algo relacionado com o Metal. Sempre. Desde há muitos anos que essa necessidade irreprimível se manifesta na escrita sobre música. Muitas vezes não consigo ter tempo para todas as publicações nas quais colaboro. Sempre adorei escrever, portanto foi natural aliar esse gosto à minha paixão pelo Metal. Em 1989/1990 elaborei o projecto de uma zine intitulada No More Denial, que nunca chegou a ser publicada, mas a primeira vez que efectivamente escrevi sobre música foi em 1991, para a Metal Trail Zine.

Em 2013 é editado o livro “Breve História do Metal Português”. Confesso que quando o adquiri o li de uma ponta a outra, com os headphones metidos na cabeça e com o youtube ligado à procura de bandas que apareciam e que não tinha sequer conhecimento da sua existência. Foi um projecto bastante difícil de fazer?

Já várias pessoas me disseram que pesquisavam na Internet as bandas presentes no livro à medida que o liam. Essa é, efectivamente, a melhor forma de apreciar o “Breve História do Metal Português”. É uma descoberta constante. Não foi propriamente difícil de fazer, até porque foi um processo progressivo. Só a dado momento, quando já tinha um significativo volume de informação, percebi que fazia sentido dar-lhe a forma de livro. Assim foi, apesar de, à época, me debater com problemas de saúde. O que correu pior foi a relação de trabalho com a editora. As propostas de paginação que me apresentaram eram desastrosas, pelo que tive de tomar as rédeas ao projecto e encontrar quem paginasse o livro. Desvinculei-me da editora, pelo que a segunda edição foi da minha inteira responsabilidade.

Também ficaste surpreendido por algumas bandas? Que bons momentos guardas deste trabalho?

Surpreendeu-me o facto de músicos como o José Cid ou o Júlio Pereira terem tido um papel, embora fugaz, na génese do Rock pesado nacional durante os anos 70. São artistas a quem não associamos uma abordagem musical mais pesada. As melhores recordações que guardo são do processo de investigação, da descoberta constante de novas informações. Foi um percurso fantástico, descobri imensas bandas e adquiri muito conhecimento. Outra boa recordação prende-se com o facto de todos os músicos que entrevistei se revelarem bastante acessíveis e humildes. Foi uma surpresa. Por fim, é inesquecível a sensação de tomar nas mãos, pela primeira vez, um exemplar do livro.

Um dos blogues que eu seguia curiosamente era o “A a Z do Metal Português”. E aqui a pergunta: para quando uma compilação deste material que estava todo reunido? Estarias disponível para lançar este material via ebook?

Para minha desagradável surpresa descobri diversas vezes textos oriundos do blogue publicados noutros locais, sem a minha autorização. A dada altura, havia 4 ou 5 biografias da minha autoria a circularem livremente pela Internet, sem a minha assinatura. Tive de ameaçar os responsáveis com um processo judicial. Após esses tristes episódios entendi que o blogue não podia ser, de forma alguma, uma livre fonte de recolha de informação para ladrõezecos da propriedade intelectual alheia. Por outro lado, houve músicos que ficaram melindrados com as biografias que publiquei no blogue sobre as suas bandas. Não gostaram de ver relembrados episódios reais que quiseram negar e esquecer. Esses músicos envergonhavam-se do seu passado musical e queriam negá-lo, mas a história não desmente os factos. Eram pessoas que não mereciam o meu empenho e investimento de tempo a redigir as biografias dos seus grupos. Por todas estas razões, decidi eliminar o blogue. Nessa medida, embora a ideia de publicar esse material seja extremamente atractiva, não sei até que ponto seria sensato fazê-lo, pelo menos a breve/médio prazo. Antigas refregas ressurgiriam e não tenho paciência para conflitos desnecessários.

 

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Tens em mente a edição de mais algum trabalho? O que gostarias de lançar?

Antes de mais, estou a procurar condições para fazer uma nova impressão do “Breve História do Metal Português”. Há muito que o livro esgotou e tem havido imensos pedidos, pelo que se impõe uma nova edição. Contudo, financiar o projecto não é fácil. Por outro lado, gostaria de escrever a história do Metal feito num país com ligações históricas a Portugal mas cujo nome ainda não posso revelar. As ideias para esse projecto ainda não passam disso mesmo. Estou também a compilar informação para escrever a minha autobiografia musical. Talvez haja 1 ou 2 pessoas interessadas em lê-la. (LOL)

E assim terminamos esta entrevista onde as últimas palavras são por tua conta, mas antes disso queria saber a tua opinião acerca do estado ‘literário’ do nosso país em relação ao metal e o que aconselharias a todos para se iniciarem neste mundo da edição, desde os livros às fanzines.” Obrigado e abraço!

Em relação a livros sobre Metal publicados no nosso país ainda estamos numa fase embrionária. Além do meu livro e da biografia dos Moonspell nada existe. No entanto, sei que a biografia de outra banda está para ser publicada há mais de um ano. Em termos literários destaco a corajosa fundação das Publicações a Ferro e Aço, editora que lançou a versão portuguesa da biografia dos “Metallica …And Justice for All: The Truth About Metallica” e prepara o lançamento de mais obras do género. Ou seja, o mercado está a mexer, mas ainda de forma incipiente. O meu conselho é que quem deseje publicar um livro o faça como edição de autor. Ao contrário do que muitos dizem este género de edições não são desprestigiantes. É sempre melhor ser o próprio autor a ter controlo absoluto sobre todo o processo, desde a publicação à promoção, do que depender de editoras. Trabalhei com duas no âmbito do meu livro e ambas as experiências foram autênticos flops. Em regime de edição de autor a distribuição da obra pode ficar circunscrita à meia dúzia de lojas em que o autor consegue disponibilizar o livro, mas as vendas por correio são extremamente eficazes e suplantam essa dificuldade desde que a promoção seja eficaz.

Relativamente às fanzines também é necessário encontrar boas formas de divulgação e distribuição. Um bom grafismo, escrita de qualidade e uma periodicidade cumprida à risca são fulcrais. Estas regras aplicam-se igualmente às webzines, e-magazines, newsletters e formatos análogos.

Para terminar, dêem ao Metal o vosso melhor contributo, seja através da formação de grupos, da promoção de concertos, da publicação de zines ou da realização de programas radiofónicos. Ajudem o Underground a desenvolver-se. Sejam persistentes e felizes.

 

Como comentado, fazem as pré-encomendas do seu novo livro através do mail livrobhmp@yahoo.com.

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Também disponível para descarga a compilação para download gratuito “Breve História do Metal Português – Banda Sonora Infernal”aqui.

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Cruz de Ferro

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Cruz de Ferro é uma das bandas únicas no nosso panorama musical nacional e que nos tem mostrado que é possível utilizar a língua portuguesa com um acompanhamento rítmico feroz, onde as guitarras ganham vida neste heavy metal proveniente de Torres Novas, constituídos por Ricardo Pombo (voz / guitarra), Rui Jorge (guitarra), João Pereira (baixo) e Bruno Guilherme (bateria).

   Formados em setembro de 2009, editam em Dezembro de 2012 o seu EP de apresentação “Guerreiros do Metal”. Desde o início mostraram que vinham para marcar a diferença e as letras provam isso mesmo (“Guerreiros do Metal / somos nós e tu vais ver / incendiamos palcos / tudo o que vier”).

   O primeiro longa-duração é lançado no final de 2015, com 10 temas cantados em português “Morreremos de Pé” mostra a razão de prestar muita atenção à Cruz de Ferro. Ricardo Pombo, músico fundador, fala desta excelente banda.

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Viva Ricardo! Muito bem-vindo a estas páginas da Ode Lusitana e para mim é uma honra trocar estas palavras contigo e dar a conhecer um pouco mais a Cruz de Ferro. Não assisti ao concerto de lançamento do vosso CD “Morreremos de Pé”, mas pelas imagens divulgadas foi festa autêntica. Em compensação, adquiri o vosso trabalho e tem rodado alto e bom som aqui por casa. Já gostava bastante do vosso som no lançamento do EP, sendo o meu tema favorito o “Glória ao Rey”, mas com este primeira longa-duração mostram que são uma das bandas que marcam a diferença no panorama nacional. Como foi essa festa de lançamento do álbum? Como tem sido a resposta dada pelas pessoas a este trabalho? Que tem achado das boas críticas que tem vindo de outros países, mesmo cantando na nossa língua portuguesa?

Bom dia, primeiro de tudo quero agradecer a oportunidade desta entrevista a Ode Lusitana, uma fanzine da qual eu próprio costumo seguir e por isso a honra é toda minha. No que diz respeito ao concerto de lançamento em Lisboa, correu muito bem, tivemos o RCA muito bem composto e duas grandes bandas a tocar connosco, os Shivan (Ed.: heavy metal – Loures) e os Leather Synn (Ed.: heavy metal – Lisboa). Foi uma noite memorável! Em relação ao álbum, estamos a ter excelentes reviews e tenho inclusive muita gente a falar comigo pessoalmente a dar-me os parabéns pelo trabalho realizado, o que me deixa muito feliz. O álbum deu muito trabalho e demorou cerca de dois anos a ser composto, por isso ouvir boas criticas leva-me a querer que esse tempo não foi um desperdício. Em relação as criticas de outros países, tem surgido muito da América do sul e também do Brasil, temos também algumas criticas de países da Europa e parece que afinal de contas a língua não tem sido uma barreira.

Essa particularidade da língua foi bem definida por ti desde o início da formação da banda e à qual eu dou o total apoio. Foi uma questão de facilidade de transmissão da mensagem ou também és da opinião que a nossa língua tem bastante musicalidade? Podes contar-nos como surgiu a tua amizade com o Eurico Gomes Dias e como ele se torna um dos principais escritores das letras deste vosso trabalho?

Em relação a língua teve mesmo a ver com o tentar preencher uma lacuna que havia, e ainda hoje há no nosso underground, heavy metal cantado em português. A nossa língua torna a composição das musicas mais difícil, mas acaba por nos dar um outro alento e energia. O facto de estarmos a fazer algo que mais nenhuma banda arrisca fazer, faz do nosso trabalho único, por isso será sempre algo que vai fazer parte do ADN da banda, orgulhosamente cantar em Português! Também acho que nos conseguimos expressar melhor na nossa língua. O Eurico é meu amigo de infância, fomos criados na mesma aldeia, perto de Torres Novas, e para alem de ser um grande escritor e historiador é um grande amigo e metálico também.

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Portugal tem uma história riquíssima a todos os níveis, sendo motivo de orgulho de todos os portugueses. Mesmo assim, não temos a tendência para conhecermos mais essa mesma história e os nossos vários símbolos. Por vezemos vivemos ainda sob a nuvem do Estado Novo, em que palavras como ‘Nação’ e ‘Pátria’ foram “apropriadas pela ditadura e demonizadas pela revolução (do 25 de abril)”. Salazar sempre teve interesse em elevar os valores nacionais a todos os níveis e talvez seja por isso que não queremos ver esses valores. Qual a tua opinião acerca desta situação da nossa história não ter a divulgação merecida? Ou achas que ela existe, mas não é divulgada? Com quais figuras proeminentes da nossa história gostavas de ter uma conversa?

Acho que acima de tudo todos damos valor a nossa história, fico um pouco triste quando me apercebo que a palavra pátria e nação hoje em dia são muito associadas a certos extremismos (Nacionalismo; Xenofobia, etc), os próprios Cruz de Ferro já tiveram a certo ponto da carreira de mostrar que não existe nada de politico na nossa ideologia, já fomos erradamente conectados como nacionalistas só porque gostamos de contar historias de bravura do nosso povo. Mas entretanto as pessoas aperceberam-se que não temos nada a ver com esses ideais e já não nos chateiam, sabem que o que queremos mesmo é heavy metal e cerveja!!! Uma figura com o qual eu gostaria de conversar seria sem duvida com D. Duarte de Almeida, o decepado, que nós metemos na capa do álbum! O acto de bravura dele foi mesmo único, e acabou por infelizmente morrer na miséria.

Em entrevistas anteriores falas que não tens tido muita curiosidade pelo lançamento de novos trabalhos, sendo um fã das antigas sonoridades como Saxon, WASP, Judas Priest e Iron Maiden. Como nasce essa tua paixão pelo metal quando eras uma criança? Quais os 5 álbuns de metal que considerarias levar se tivesses que ir para um sítio isolado?

Nessa entrevista talvez não tenha sido muito bem interpretado, obviamente que ainda tenho muita curiosidade e consumo bastante novos trabalhos, mas mais dentro de outros géneros como death metal e thrash metal. O que disse em algumas entrevistas foi que existe muita banda nova apenas a fazer o que os antigos fizeram e com uma qualidade inferior, mas de vez em quando lá vão aparecendo bandas novas com excelentes trabalhos de heavy metal mais old-school. A minha paixão pelo Metal surge com 10 anos, quando comprei um vinil de Iron Maiden, o “Piece of Mind”! Tenho um irmão mais velho que já me tinha mostrado estas sonoridades mais pesadas. Desde que comprei esse vinil, nunca mais fui o mesmo! Bem, 5 álbuns de metal para levar para um sitio isolado será sem duvida a questão mais difícil que já me fizeram, mas olha, talvez levasse o “Painkiller” de Judas Priest; o “Animal House” de U.D.O.; o “Keeper of the Seven Keys Part II” de Helloween, o “Killers” de Iron Maiden e o “Port Royal” de Running Wild. Mas Fico com a sensação que faltam muitos…

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Quando frequentavas concertos com os teus amigos, o que é que te atraia mais? Foi aí que começou o teu interesse por ser músico, ou como é que apareceu?

O meu interesse em ser músico surge muito antes de ver o meu primeiro concerto, como sou de Torres Novas acabei por ver o meu primeiro concerto já com 16 ou 17 anos, e na altura já tinha uma banda. Sempre tive a paixão pela composição e quando era ainda puto (Com 12 ou 13 anos) em vez de brincar com carrinhos ou bonecos, brincava com um teclado a compor musicas e dar nomes fictícios a bandas para cada musica que compunha. Entretanto comecei a aprender a tocar guitarra e surgiu também a paixão pelo instrumento em si, não me gosto de ver como guitarrista, prefiro que me vejam como compositor, mas a guitarra foi uma paixão que levou anos e acabei por meter a composição de lado para andar a tocar como freelancer. Mas hoje em dia apenas vejo a guitarra como uma ferramenta para as minhas composições. Finalmente estou em paz comigo mesmo.

Um dos álbuns que dou muito valor é o “Kingdom of Lusitania” dos Tarantula e lembro-me que quando o comecei a ouvir em programas de rádio e depois quando comecei a ler as letras me ter trazido uma satisfação enorme. A temática deste álbum é muito semelhante à Cruz de Ferro. Também é um álbum do qual tens interesse? Que achas da evolução do metal nacional ao longo dos anos a todos os níveis? Actualmente temos uma grande quantidade de bandas e até de sítios para tocar, mas em relação à divulgação, desde programas de rádio até às fanzines o número de elementos de divulgação tem diminuído bastante. Consegues perceber qual a razão?

Na altura em que saiu o “Kingdom of Lusitania” comprei-o logo, e lembro-me de andar de casa em casa a mostrar o álbum a todos os meus amigos. Foi sem duvida um álbum que me marcou muito também. Não só pela temática mas também pela sua musicalidade. Hoje em dia já tive a honra de privar com eles e para alem de serem uma grande banda são todos pessoas cinco estrelas. Em relação ao metal nacional, hoje está com muita qualidade e muitas bandas, felizmente. Com o boom da internet as bandas hoje têm que estar sempre a fazer algo, têm que gravar com alguma regularidade, têm que ter vídeos, etc. E isso requer muito mais tempo dispendido, mas em compensação existe mais editoras e mais publico para ver o nosso trabalho. Eu ainda sou do tempo em que andava um ano a ensaiar e não se gravava nada nem se tocava ao vivo, e quando se tocava não havia grandes condições. Hoje em dia tudo mudou, temos condições, estúdios, etc. Mas como disse, será sempre preciso trabalhar mais e melhor para nos mantermos `a superfície. Em relação a divulgação está mais digitalizada, já não existe tanto em formatos físicos, mas a coisa tende a mudar porque as pessoas apercebem-se que nada chega ao papel. Eu pessoalmente não gosto de estar muito tempo a ler no computador ou no telefone, cansa-me muito mais a vista. Talvez seja da idade…

E assim terminamos a entrevista. Quero-te agradecer pela tua disponibilidade! Finalmente, podes dizer as últimas palavras e terminar então esta entrevista. Muito obrigado!

Eu agradeço todo o apoio, terei sempre em consideração todos aqueles que apoiam o nosso underground. Os Cruz de Ferro vão estar na estrada com o nosso espectáculo a partir de Março, por isso vão ficando atentos as datas e cidades onde vamos estar! Oiçam o nosso álbum e acima de tudo apoiem o metal nacional.

Para alguma informação podem contactar-nos através do mail: Cruzdeferro666@gmail.com

CHEERS

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Cruz de Ferro – “Morreremos de Pé” CD 2015 (Non Nobis Productions)

Primeiro lançamento de Cruz de Ferro, depois da excelente estreia com o EP de 2012 “Guerreiros do Metal”. Sim, há uma primeira coisa que salta à vista e que é as letras serem em português, o que torna o resultado final em algo bastante interessante! Apresentam um heavy metal sem compromissos onde as guitarras indicam a direção seguida durante a música, com vários solos que unem as músicas. Sobresai a voz do Ricardo Pombo que no seu tom ‘guerreiro’ vai dando voz aos nossos heróis nacionais, ou às nobres causas guerreira e não só da nossa história nacional. “O Decepado”, “Nova Aljubarrota”, “Santiago”, “Quinto Império”, são alguns dos temas que nos demonstram esta ideia. Resumindo, um bom álbum para ouvir e gritar bem alto as letras!

 


Buried Alive

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Buried Alive é uma banda nascida já nos idos anos de 1991 em Vila Nova de Gaia, ou seja que passados 25 anos ainda mostram a sua perseverança de querer mostrar o seu trabalho e provar que ainda estão activos para mostrar o seu thrash metal.

   A sua demo de estreia surge em 1996 com o nome “The Fisrst Burial” a que se segue a promo-tape de 1998 “El Niño”. Após a participação em algumas compilações surge o primeiro longa duração “Spoils of War” em 1999, seguido por “Welcome to Reality” de 2001.

   Após uma grande paragem surgem em 2015 com o terceiro longa-duração “Exploding Ashes”. E que grande trabalho de regresso tiveram! A banda actualmente é constituía por Jorge Fernando (voz / guitarra), Ricardo Sousa (guitarra), Ricardo Vieira (baixo) e Hugo Almeida (bateria).

   Foi com o Jorge Fernando que ficamos a conhecer um pouco mais dos Buried Alive.

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Viva Jorge! É um prazer ter-te neste número da Ode Lusitana, especialmente porque se trata do ressurgimento destas edições, após uma pequena pausa e nada melhor do que iniciar com uma entrevista a Buried Alive. Foi com bastante satisfação que assisti ao lançamento do vosso álbum “Exploding Ashes” no Metalpoint, assim como o concerto já este ano de 2016 no Hard Bar em Bustos. Antes de avançarmos com a entrevista, queria saber o que é que te faz ainda subir a um palco para tocar, quando à semelhança de muita gente podias estar em casa no sofá ou numa esplanada algures por aí? O que te faz mexer e continuar a tocar este estilo de música?

Boas, Ode Lusitana! Ainda bem que gostaste, o que me faz subir a um palco para tocar, ao fim de tantos anos, é uma paixão enorme que tenho pela música, comecei a aprender música cedo, com 7 anos e a ouvir Heavy Metal e não só, para aí com 8 ou 9, portanto, imagina, mas não é só tocar é também ir ver concertos de outras bandas. 

O objectivo inicial da formação da banda em 1991 junto com o José Pereira foi de tocarem a música que gostavam. Como foi que se dá o início de começares a ouvir metal? Juntavam-se em casa de alguém para verem as novidades ou já andavam pelas lojas? Como conheces o José Pereira e dão início aos Buried Alive?

A ideia inicial de formar uma banda surgiu ainda antes de 1991, o Pereira era meu vizinho e da mesma idade do meu irmão, que desde muito cedo me iniciou no mundo do Heavy Metal, juntávamo-nos em casa dos meus pais e em casa dos pais do Pereira a ouvir grandes bandas, Iron Maiden, Judas Priest, Van Halen, etc. e a ver vídeos sacados do Headbangers Ball e outros como VH1. Depois como eu andava a aprender música foi só convencer-mos os nossos pais a comprar as guitarras e foi assim que começou.

Depois de lançamentos de alguns trabalhos e de uma paragem de 6 anos, regressam em 2009 e até previram o lançamento de um EP. No entanto mais mudanças na banda e para este álbum temos o Ricardo Vieira, o Ricardo Sousa e o Hugo Almeida. São amizades que já vem de longe? Existe muita diversão e loucura em cima do palco, mas nota-se que funcionam perfeitamente a nível musical. O objectivo será sempre o prazer de tocar para as pessoas?

As paragens que temos tido até hoje têm sido sempre por motivos profissionais, e como nenhum de nós vive da música, à excepção do Hugo, que é dono do Metalpoint, quando o trabalho interfere com a banda, infelizmente é necessário tomar decisões. O Pereira, juntamente comigo era elemento fundador, mas por questões de trabalho teve de abandonar e com ele o nosso baixista da altura, o Filipe Raimundo. O Ricardo Vieira já tinha gravado a nossa 2ª maquete “El Niño” e gravou o nosso 1º álbum, “Spoils of War”, por isso já era conhecido, o Ricardo Sousa, apesar de nunca ter tocado connosco já era conhecido da banda e a química entre todos resultou muito bem, e não é só a nível musical mas também a nível pessoal, que para mim é muito importante, ale de quatro membros de buried alive somos também quatro amigos e enquanto continuar assim iremos tocar até não dar mais, até o corpo não deixar.

Ao fim de 14 anos sem edições apresentam este novo álbum. Como surgiu a hipótese da edição ser feita pela Firecum Records? O Pedro Junqueiro além de pertencer à esta editora também é vocalista nos Booby Trap, tendo actuado com vocês. Qual a sensação de teres passado em palcos em que te reencontras com este pessoal que também anda a longos anos pela estrada e que continua a tocar por gosto? Muita troca de histórias entre vocês?

A ideia era gravarmos um EP, mas o incêndio no estúdio do Bruno Silva, fez-nos perder as gravações, por isso continuamos a compor e fizemos músicas para um álbum. Entretanto o Pereira e o Filipe saíram e tive que ensinar as músicas todas aos Ricardos e voltar a treinar a minha voz. A edição ia ser feita por nós, uma edição de autor ou disponibilizar de borla on line, mas através de um amigo comum, o Pedro Branco da Bunker Store, entramos em contacto com o Pedro Junqueiro e chegamos a acordo para a edição do álbum e cá está ele, ao fim de tanto tempo. Os concertos que demos juntos foram fantásticos porque houve uma cumplicidade muito grande entre as duas bandas, talvez pelo amor que todos temos pela música, por andarmos cá à tantos anos, não sei, o que me interessa é o bom ambiente que tivemos nesses concertos…venham mais.

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Buried Alive fez este ano 25 anos de carreira. Imagino que não estarias à espera desta longevidade? Como olhas para a passagem destes anos todos? Que achas do grande número de bandas que a cena nacional actualmente possui?

Sinceramente, não mas, olhando para trás no tempo, a paixão pela música, enquanto durar e como já disse, o corpo deixar eu vou cá andar, seja com esta ou outra banda, com este pessoal ou outro, o que interessa é a diversão, nossa e do público que vai aos nossos concertos. Acho que por um lado é bom termos tantas bandas no activo, algumas novas, alguns regressos, mas como em tudo, isso gera também muita competitividade entre as bandas, mas desde que seja saudável, é na boa. Estamos cá é para tocar e como eu costumo dizer, eu só estou bem é em cima do palco.

Ora bem, álbum lançado e acredito que o que vocês querem será vir para a estrada tocar! Mesmo assim, deixo aqui este espaço para as tuas últimas palavras nesta entrevista e agradecer a tua disponibilidade e ajuda. Muito obrigado!

Sim, agora queremos é tocar, e tocar, e tocar……

É uma honra estar a ser entrevistado por vós e quem tem de agradecer sou eu e a banda por ainda haver pessoas como vocês com este tipo de iniciativas. Obrigado também aos fãs e todas aquelas pessoas que vão aos concertos, nossos e de outras bandas.

Obrigado por tudo e continuem assim.

Apoiem o Metal Nacional. \m/

Abraço

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Buried Alive – “Exploding Ashes” CD 2015 (Firecum Records)

Passados 14 anos desde a edição do seu último registo, ficamos absorvidos com o lançamento deste trabalho dos Buried Alive. Com a sua sonoridade vincadamente thrash, mantêm as influências sonoras do género da década de 90, com guitarras bem balanceadas, acompanhadas por uma secção rítmica que parece uma autêntica trituradora. As guitarras não se limitam a descarregar riffs, mas combinam para criar ambiências agressivas e pesadas, que nos influenciam para ter atenção ao trabalho que está a ser feito. As gravações, misturas e masterizações foram feitas no Metalpoint pelo Hugo Almeida, baterista da banda, sendo o trabalho de produção da banda toda. Um som final muito bem conseguido! Para os apreciadores de thrash metal é um álbum a ter em atenção e para os curiosos e interessados também.

 


Extreme Unction

Captura de ecrã 2015-11-1, às 11.37.20O nome Extreme Unction está ligado à nossa história da música mais pesada, sendo uma das bandas que marcou o movimento underground no início da década de 90 do século passado.

   A banda é formada em 1987 com o nome Guilhotina, sendo Koja o único membro que se mantêm desta fase. Em 1990 a banda muda o nome para Extreme Unction, em que conta com Pedrada nas vozes e que ainda se mantêm na formação. Em 1992 lançam a demo com o tema “Insane Procreation” e depois de vários lançamentos editam em 1995 o álbum “In Limine Mortis” através da Monasterium. Em 2008 lançam a sua última gravação, com um tema de nome “Cold Breeze of Winter”.

   Passados estes anos voltam a mostrar a sua sonoridade death / doom metal através do álbum “The Last Sacrament”. Actualmente a banda é constituída por Pedro Gonçalves “Pedrada” (voz), Koja Mutilator (baixo), Marco Marouco (guitarra), Sérgio Marcelino (guitarra) e Pedro Almeida “Tosher” (bateria).           

   Estivemos à conversa com o Marco Marouco que nos levo ao universo dos Extreme Unction, mas também que nos apresentou um pouco dele e que é um grande apaixonado pelas sonoridades mais extremas.

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Viva Marco! Primeiro do que tudo queria agradecer-te pela tua disponibilidade para responder a estas perguntas, especialmente quando estás no meio da preparação do álbum “The Last Sacrament”, que marca o regresso dos Extreme Unction. Como surgiu a ideia de se voltarem a reunir e preparar este álbum?

Boas Marco!!! Hahahaha. A ideia do “The Last Sacrament” surgiu quando estávamos a gravar Festering em minha casa, tenho aqui um estúdio montado, então foi fácil, eu tinha uns riffs o Koja também, decidimos falar com os membros que gravaram o “In limine Mortis” e todos aceitamos gravar o que seria ou será o último disco da banda 20 anos depois do primeiro e único hahahaha.

O Bruno esta em NYC ele disse que gravava as baterias lá e enviava, mas isso demorou muito tempo e ao fim de uns meses ja tinhamos o disco composto e gravado e nada de respostas, decidimos falar com o P.Tosher para gravar as baterias, ele ouviu as músicas parece que curtiu e aceitou o disco ficou como queriamos, um som fodido, muito rock.

 

O objectivo é manter a sonoridade anterior de Extreme Unction ou irem por caminhos diferentes?

A gravação foi muito expontânea, inventava riffs, curtíamos, gravávamos, o Sérgio inventava a guitarra dele por cima do meu riff ate gostarmos todos e gravávamos… saiu o que saiu. Eu só componho para Extreme Unction, em todas as outras bandas nunca compus, fiz umas letras mas musicalmente nunca fiz nada, a não ser inventar os solos que por acaso são todos improvisados hahaha. Por isso os Extreme Unction têm muito do passado. Em termos de composição nóss sabemos o que falta e o que não falta numa musica de Extreme Unction, mas como todos fomos ouvindo outras músicas ao longo de 20 anos isso aparece no disco… Eu puxei pelos Thin Lizzy e Rainbow, o Sérgio pelos noruegueses o Koja pelos putrefactos que por ai andam… tem doom, heavy, death…

 

Todos vocês são já conhecidos de há longa data, mas como foi estarem todos na mesma sala a ensaiarem?

Para mim que não estou habituado a ensaiar foi fixe estar ali com o pessoal a curtir a tentar tocar as músicas todos juntos porque foi a primeira vez que tocamos todos juntos, nao suou bem mas foi um momento muito bom pegar nas guitarras e abanar as gadelhas

Com vários anos de experiência e em várias bandas o que pretendem transmitir com este regresso e o que esperam quando voltarem aos palcos sob o nome de Extreme Unction?

Não queremos transmitir nada de transcendental, apeteceu-nos fazer musica nova e ja que faziam 20 anos da edição do “In Limine Mortis” era giro conseguir editar músicas novas, falamos com algumas editoras e o Luis Lamelas da Chaosphere decidiu apostar no novo disco, em relação aos palcos, se quiserem ver Extreme Unction mandem mail para extremeunctionpt@gmail.com eu vou lá para abanar a gadelha e siga, eu curto de certeza hahaha.

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Como surgiu a oportunidade de ingressares na banda em 1994?

Epá a ver se me lembro, eles só tinham um guitarrista o Mantus de Moonspell e andavam a procura de outro guitarrista mais melódico…acho, aprendi as músicas em casa do Koja e lá demos um concerto que correu bem.

 

Já conhecias alguns elementos da banda?

Com o Mantus estudei um ano no liceu e outro no conservatório de musica, o Koja e o Pedrada conhecia-os da escola de trocar discos, coisas que se faziam antes..

 

Antes da tua entrada ocorre a situação do Koja deixar o baixo para ser guitarra ritmo , devido à necessidade da banda, passando Pedrada para o baixo e voz, mas como não consegue fazer tudo ao mesmo tempo decidem convidar a Cláudia para a voz! Era sempre comum estas alterações ao longo dos anos?

Sim, isso era muito comum. O pessoal que tocava era pouco, éramos chavalos e não tínhamos muita experiência, então nem sempre os músicos se aguentavam muito tempo. Havia quem não tivesse grande talento para a música, outros sem disponibilidade e grande vontade para continuar. No início é muito fixe tocar numa banda, depois começas a ensaiar e a seres obrigado a dedicar algum tempo a isto, e aí é que as cenas começam a complicar. Até achares um line-up estável era lixado. Depois uns curtiam tocar umas cenas, outros preferiam outras e nem sempre se conseguia conciliar os gostos musicais de cada um. Pelos Extreme Unction, passou muito pessoal que foram para outras bandas: Moonspell, Ravensire, Sacred Sin, Gritos Oleosos, Desire… olha o meu caso, que toquei e toco em várias bandas e projetos. Só aí dá para se ter uma ideia do que já se passou durante estes anos.

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Como consideras esses primeiros anos dos Extreme Unction, que tem o ponto alto o lançamento do único longa duração “In Limine Mortis” de 1995?

Foram anos de muitas mexidas, entradas e saídas. Devido a isso as cenas da banda terem demorado a sair e tão espaçadas umas das outras. Se os Extreme Unction tivessem mantido uma formação mais ou menos estável, de certeza que a coisa podia ter dado mais frutos e não tivesse ficado só por estes lançamentos. Mas a banda mesmo sem músicos fixos, ia tocando ao vivo, com músicos emprestados, ex-membros que faziam uma perninha… ou seja, a banda mantinha-se viva e activa, mas precisava de mais estabilidade para mandar cá para fora mais material, fazer mais lançamentos.

 

No início deste século, decides rumar aos Sabatan, banda madrilena de heavy metal, da qual participas inicialmente como baixista, gravando o álbum “Fire Angel” em 2006 e também fazes parte da icônica banda de thrash metal madrilena Omission aqui sim, como guitarrista e do qual participas entre outros lançamentos, no “Thrash Metal is Violence” de 2009 e “Merciless Jaws from Hell” de 2011. Como surgiu esta oportunidade por terras espanholas?

Fui para Madrid por motivos profissionais. Fui saindo na noite madrilena e conhecendo o pessoal, ao princípio era complicado falar com eles mas com o passar dos tempos já me fazia entender hahaha.

 

Como foi o teu contacto inicial com Sabatan e mais tarde com Omission?

Foi muito fixe, os Sabatan conheci-os pelos bares em que tocavam, ia ver ensaios e no fim dos ensaios tocava guitarra. Com o baterista gravámos uma demo, um EP e um disco nos quais participei com algumas letras. Os Omission ensaiavam ao lado e precisavam de um guitarrista, como ja lá andava o baterista de Sabatan a fazer uma perninha ele convidou-me para ir tocar guitarra, e lá fui eu.

Que achas da cena underground espanhola e quais os seus pontos fortes?

A cena underground espanhola está muito bem de saúde apesar das queixas, há bandas aos pontapés e muito boas, desde o hardrock dos Tequilla Sunrise ao heavy dos Ciclón, Leo, Frenzy, Wild ao thrash Omission, Hellraisers, Agresiva, Angelus Apatrida, death metal e grind aos pontapés com Haemorrage, Gloom, Embloodyment, black metal tambem há… têm sitios onde ensaiar, apesar de caros eles existem, muitas salas para concertos e uma associação que junta isso tudo, a Pounding Metal Union de Madrid depois cada cidade tem uma coisa do género, Metalcova em Barcelona, em Múrcia também há algo do género, Pais Basco, Badajoz… e ainda têm os festivais grandes para levar algumas bandas novas, o ponto forte sao as associações de Metal que existem em cada província…e os bares!!!!!

 

De regresso a Portugal e em parceria com o Rick e o Paulão, preparam um dos melhores álbuns de thrash metal nacional de 2014, o grande “Thermonuclear Epiphany” de Perpetratör. Houve uma necessidade tua de procurar uma banda em que pudesses transmitir a tua energia, ou o contacto foi feito por eles?

O Rick já me andava a chatear há uns anos para gravar essa porra mas faltavam as músicas, quando o Paulão nos apresentou as músicas ficamos um bocado baralhados com tanta qualidade, só com bateria e guitarras o que nos deu muita pica para continuar o caminho, os solos para variar foram inventados na hora, gravei uns 8 solos por música e o Paulão depois escolhia, depois o Rick gravou o baixo e a voz e a coisa funcionou, ficámos muito contentes com o resultado final.

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Um dos teus grandes prazeres é estares acima de um palco e desde o ano passado também participas ao vivo nos concertos de Filii Nigrantium Infernalium. Qual o conselho que darias aos músicos das novas bandas que ainda não tem muita rodagem em cima do palco?

Não se metam nisto hahahahaha… se for para curtir, siga, é ir para o palco e principalmente curtir o momento, esse já fica para ti, mesmo que depois tentem não pagar o cachet hahaha. E não fiquem paradinhos a mostrar que sabem tocar, quem é que curte paradinho??? Se derem pregos, azar! Para a proxima sai melhor.

 

Antes de acabarmos, como foi a tua iniciação na audição deste som eterno?

O meu irmão passou-me uma tape com o “Piece of Mind” de um lado e o “The Number of the Beast” do outro… foi o verão todo a partir brita… depois vieram os Venom, Twisted Sister, Motörhead, Celtic Frost e a thrashalhada toda tanto alemã como Bay Area como brasileira.

 

Ainda te lembras dos primeiros álbuns?

Sim… o primerio disco que tive foi subtraido numas eleições para a associação de estudantes na escola… Foi o “Peace Sells”… depois comprei uma colectânea dos Motörhead em cd… A partir dai foi sempre a comprar vinil tudo o que era da Noise Records… tive que vender tudo para ir para Madrid hahahaha…pobres.

 

O thrash metal tem uma grande influência na tua formação ao longo dos anos?

Sim mas não é a principal, eu sou mais do Heavy, aprendi muito com os guitarristas de thrash mas gosto mais dos do Heavy, Dave Murray, John Sykes e o grande Van Halen.

 

Agora sim, terminamos a entrevista e ficamos a aguardar “The Last Sacrament”, um dos retornos mais esperados dos últimos tempos. Muito obrigado por tudo Marco e as últimas palavras são tuas.

Obrigado pela entrevista e pela oportunidade de dar a conhecer os Extreme Unction comprem o disco na Chaosphere Recordings / Glam-o-rama e mandem mails a convidar o pessoal para tocar.

DOOMED WE LIVE…IN DEATH WE TRUST


My Enchantment

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My Enchantment, banda do Barreiro formada no ano 2000 e praticante de black metal / melodic death metal com componentes sinfónicos, edita em 2005 o seu primeiro longa duração “Sinphonic”. No ano passado voltam as edições, desta vez com o EP “The Death of Silence”, do qual faz parte o single “The Fallen”. A banda é constituída por Alex Zander (voz), João “Grande” (guitarra), Pedro Alves (guitarra), Rui Gonçalves (teclado), Fernando Barroso (baixo) e Ricardo Oliveira (bateria).

   Estivemos à conversa com o vocalista Alez Zander, onde nos mostra a razão de ser uma banda em que todos necessitamos de estar atentos.

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Olá Alex Zander! É um prazer teres aceite o convite para responderes a estas perguntas para a Ode Lusitana.

Para começar, como se dá a tua entrada nos My Enchantment no ano de 2012? Já conhecias bem a restante formação?

Boas Marco, obrigado pelo convite .
Está agora em “Outubro” a fazer 3 anos que fiz um casting para o lugar de vocalista, eu não conhecia ninguém da formação actual ou anterior mas conhecia a banda e algumas músicas.

Em 2005 editaram o único longa duração, “Sinphonic” e devido a vários problemas, que envolveram uma alteração profunda na formação da banda, editam em 2014 o EP “The Death of Silence”.

Nós já estávamos na gravação do nosso 2º álbum, quando faltava gravar a voz, então o vocalista decide sair da banda, como um efeito colateral houve também algumas alterações quer na guitarra e teclas, o que dificultaram o progresso e o retorno de forma estável aos palcos e gravações.

 

Esta edição foi para mostrar ao público que estavam de regresso às edições, em vez de se prepararem para lançar um segundo longa duração?

De certa forma sim, a banda delineou que voltaríamos aos palcos e durante isso iriamos compor e preparar a gravação de um ep com temas inéditos compostos pela nova formação, logo no início de 2013 começamos a tocar ao vivo e durante esse ano gravamos e colocamos disponível para venda o ep nos nossos concertos durante 2013/2014.

Regressamos com um EP para quem esperou muito tempo, um álbum levaria mais tempo.

Como foi trabalhar nestes temas?

Foi muito bom, estivemos muito empenhados na composição, e a preparar tudo cuidadosamente para que corresponde se às nossas espectativas, trabalhamos muito com maior frequência de ensaios e juntar as várias ideias de cada um.

12074684_1177623998920327_1799310105832355252_n-2Qual a importância desta edição para ti?

Confesso que foi um verdadeiro desafio e responsabilidade, a banda tem uma grande reputação no underground nacional e mais de uma década e meia de vida, bons músicos com objectivos bem definidos que iam ao encontro dos meus, a dedicação e empenho de todos contra as adversidades que fomos encontrando ao longo do tempo fez com que o “The Death of Silence” fosse muito especial por todos os desafios e objectivos realizados .

Como surgiu a parceria com a Music In My Soul para a reedição deste trabalho?

Em meados de 2014 houve uma proposta da MIMS que na altura parecia interessar aos objectivos da banda , o ep estava a ser vendido de forma promocional, para mais tarde editarmos uma versão final que fosse distribuído para venda nas lojas, íamos precisar disso e apareceu alguém com uma proposta para que tal acontecesse.

Podes adiantar-nos alguma coisa do novo álbum a editar no primeiro semestre do próximo ano?

Estivemos a tentar para que isso acontecesse no final deste ano mas não está a ser possível por isso esperamos, que muito antes do verão tenhamos o álbum na mão.
O álbum instrumentalmente é a continuação do EP, no conteúdo lírico será bem diferente . Ainda não definimos bem o número de temas que irá conter, pois temos material que excede o tempo de um CD.

Conta com temas muito agressivos com a sua melancolia sinfónica que já conhecem no EP.

My Enchantment tem participado em vários concertos nos últimos tempos e brevemente estarão no VI Festival Irmandade Metálica.

Os concertos ao vivo são um dos vossos principais objectivos com a banda?

Este último ano e meio tem sido bom tocamos quase todos os meses em diferentes sítios e festivais e tem sempre havido uma boa reacção tanto das pessoas como dos locais onde actuamos.
Mas neste futuro próximo (2016) essa rotatividade não tende a abrandar muito, queremos tocar ao vivo o máximo possível e tencionamos preparar tudo para o nosso próximo álbum, criar o cenário e ambiente adequado para o que acreditamos ser o início de algo que será muito bom para a banda após o lançamento.

O que achas desta enorme quantidade de eventos que tem surgido nos últimos tempos?

Muito bom e talvez mau (risos) temos tendência a criticar ou por ser em excesso ou por falta dele.
Actualmente são alguns, quero ir ver concertos diferentes e no fim descubro que são no mesmo dia e em locais completamente distantes um do outro (risos).
500x500O público tem respondido ao surgimento destes eventos, assim como da enorme quantidade de bandas que tem surgido?

Varia muito do local e do tipo de evento que se realiza, de certa forma nota se diferença de concerto para concerto na adesão.

Que achas da situação actual do metal nacional?

Tem evoluído ao longo dos anos em umas coisas e regredindo em muitas outras.

Como nasceu esta tua paixão pelo metal e que banda ouviam no início?

Para ser sincero nem me recordo de ano ou altura que tal aconteceu eu acho que já nasci a ouvir metal (risos), foi sem dúvida pela minha irmã mais velha ouvir thrash/death metal que eu comecei a ouvir música e a ter juízo.
Ouvia e ouço muito death metal americano e nórdico até que no inicio da década de 90 conheci bandas de black metal escandinavo e comecei a seguir religiosamente até aos dias de hoje , assim como outros géneros de metal.

Também eras um adepto dos concertos e do ambiente transmitido?

A partir do momento que fui a um concerto e gostei fiquei viciado, e claro que tudo o que proporcionar um bom “ambiente” é mais um dos motivos porque se gosta tanto de ir a concertos.

Como surge o teu interesse pela participação como músico nas bandas?

Eu era mais um dos que ouvia musica e desenvolvi curiosidade por estudar, tentar tocar o que ouvia das bandas que eu gostava, depois de conhecermos a música queremos progredir e aplicar o nosso conhecimento e sentimento junto de outros ou individualmente, fazer aquilo que ouvíamos outros fazer.

Eu ia a muitos concertos, assim que dei o meu 1º concerto gostei tanto que não quero parar.

Algo que começa como um gosto pessoal e depois queremos mais, a música faz parte de mim e do meu quotidiano, para os bons e maus momentos faz me sentir bem.

No último número da Ode Lusitana, realizamos uma entrevista com o Rui Vieira dos Baktheria, banda da qual fazes parte como baterista. Como surges nesta banda e como nasce este teu contacto com o Rui Vieira?

Eu tinha deixado de tocar bateria em um projecto anterior e estava disponível para voltar a tocar, conheci o Rui por um anúncio há procura de baterista para um projecto que ele já tinha, ainda ensaiamos umas vezes até que um tempo mais tarde ele quis formar uma banda e falou comigo, começamos então a trabalhar no álbum pouco tempo depois entra o Rui Marujo e foi assim que se instalou o caos e a desgraça.

O que nos podes dizer do novo trabalha que tens de nome Cisne Negro?

Projecto diferente dos meus outros, que se está a revelar no bom caminho, agora é só uma questão de estar cá fora e de tempo.

E assim chegamos ao final desta entrevista, da qual agradeço novamente a tua colaboração. Estas últimas palavras são tuas e podes dizer o que quiseres!

Obrigado Marco pela tua vontade e dedicação há divulgação do metal assim como há Ode Lusitana pela sua existência e contributo.
Obrigado a todos os que colaboram e contribuem para o Metal \m/


Cape Torment

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Cape Torment, colectivo do Porto formado em dezembro de 2011 com um nobre objectivo: “recuperar a brutalidade que os fez homens nos saudosos anos 80: Death Metal!”.

Com uma forte participação ao vivo, tem previsto para este último trimestre de 2015 o lançamento do EP homónimo de estreia e que aguardamos com ansiedade!

A banda é constituída por Bombeiro (voz), Paulo Voivod (guitarra), Ary Elias (guitarra), Luís Botelho (baixo) e Patrick (bateria). Foi com Ary Elias que tivemos esta entrevista e que nos mostra a vivência dos Cape Torment, assim como o envolvimento dele no meia musical extremo.

 

– Olá Ary! É um prazer e sê bem-vindo a este número da Ode Lusitana e queria agradecer a tua disponibilidade para 

10153874_757605787597179_8120691294108102787_n-3responderes a algumas perguntas. Como és o elemento mais recente dos Cape Torment, entrando para a banda há poucos meses, diz-nos como é que conhecias os restantes membros e como surgiu esta oportunidade? Acompanhavas as apresentações da banda? Como decorreram os primeiros ensaios e como correu com o Patrick, o novo baterista?

Eu é que agradeço a oportunidade e o interesse demonstrados pela Ode Lusitana.

Todos os elementos dos Cape Torment são da chamada velha guarda do metal portuense e já os conhecia há vários anos, desde o tempo em que tocavam em bandas comos os Lacrima ou Invert, ainda nos anos 90.

Com a criação do grupo facebook “Amigos da Bimotor e Tubitek anos 80/90” (que reúne os veteranos da cena que, nas referidas décadas, se reuniam nas referidas lojas de discos) pelo Paulo (guitarrista de Cape Torment), do qual todos nós fazemos parte, e consequentes convívios, jantares e concertos, os laços e amizade estreitaram-se.

Inclusive, os Cape Torment e Assassinner chegaram a partilharam palcos e quando estes últimos tocaram no Hard Club, o Paulo foi o DJ escolhido para animar as hostes.

Ou seja, não eramos desconhecidos uns dos outros. Muito pelo contrário.

Talvez por essa razão, o convite para integrar os Cape Torment surgiu de forma natural.

Os Assassinner tinham suspendido as actuações ao vivo, fruto da ausência do Alexandre (vocalista/baixista) que emigrou por razões profissionais, os Cape Torment estavam à procura de um guitarrista e o Paulo sugeriu o meu nome ao resto da banda.

A faixa etária é sensivelmente a mesma, o background é similar e o gosto pelas sonoridades mais old school com que crescemos também.

Após um primeiro ensaio confirmou-se a química entre todos, juntamos o útil ao agradável e aqui estamos.

O Patrick foi recrutado antes de mim, penso que no início de 2015. Já o conhecia dos Dethmor e Burn the Strain, com que também já tinha partilhado palcos. Quando entrei já estava perfeitamente integrado.

Nesta fase da vida, em que a família e profissão muitas vezes limitam a nossa disponibilidade, uma banda não pode ser apenas uma banda. Para além da parte musical propriamente dita, tem que haver algo mais que una e motive os vários membros. E penso que nos Cape Torment é esse o motor primordial.

– Cape Torment tem a sua fundação em 2011, mas passados estes anos é que temos a informação de que está previsto o lançamento de um EP homónimo constituído por cinco temas e uma intro. Participaste nas gravações deste trabalho? O que nós podes dizer do lançamento deste trabalho?

Há algum tempo atrás os Cape Torment chegaram a gravar alguns temas com vista à edição de um EP, mas por várias razões, o mesmo não chegou a ser concluído e editado.

Relativamente ao homónimo, quando entrei para a banda, as gravações estavam praticamente concluídas, pelo que o meu input nas mesmas foi nulo. Participei activamente noutras questões relacionadas com a sua edição, nomeadamente no que concerne ao artwork.

Com excepção da bateria, que foi registada nos Dethmor Studios pelo próprio Patrick, tudo o resto foi gravado nos Sonic Studios, com o Carlos Barbosa (Final Mercy, Ex- Cycles), que também irá misturar e masterizar o EP.

A edição está prevista para este último trimestre de 2015 e terá duplo formato, digital e CD, sendo que este último terá uma tiragem limitada.

O imaginário da banda prende-se com os descobrimentos portugueses e vai estar presente na parte musical, lírica e artwork do EP.

Os cinco temas que fazem parte do alinhamento do EP estão, na minha opinião, ao melhor nível do que se faz cá e também lá fora, dentro das sonoridades Death Metal mais old school.

As composições são coesas, com pés e cabeça e de fácil audição. Aliás, entranham-se muito rapidamente na nossa mente e dificilmente saem de lá tão cedo. Foi isso que aconteceu comigo lol

12144670_889504277797695_2531121898135627586_n– Temos vindo a assistir nas últimas semanas a um aumento dos vossos concertos ao vivo e que se estende até ao final do ano. Achas que os concertos são a melhor maneira de chegar às pessoas? Qual é a tua opinião acerca do crescente número de locais para concertos/festivais? Através disto é possível aquele circuito de bandas / público / promotores que há tanto andamos a apregoar?

A partir do momento que a formação é estável e o set está assimilado, o passo seguinte são os concertos.

Existem, de facto, muitas formas de se chegar às pessoas, seja através das gravações, streaming, vídeos, facebook, etc., mas os concertos serão, na minha óptica, o meio egoísta por excelência e que mais satisfaz os músicos envolvidos.

Acresce que, a energia que flui invariavelmente em todas as actuações é passível de contagiar todos os presentes e, como tal, causar um impacto imediato e muito mais forte nas pessoas que a simples audição das gravações.

E depois, como é costume dizer, é no palco que as bandas mostram o que valem. Em estúdio, os meios tecnológicos tudo possibilitam. No palco é a raça que conta.

O facto de se verificar um crescente número de locais para concertos, indiciam a existência de um circuito alargado para as bandas poderem mostrar os seus trabalhos é excelente.

Já é possível fazer verdadeiras tournées de âmbito nacional, não só pelos grandes centros urbanos, mas também por localidades mais pequenas, o que possibilita uma promoção mais alargada do nosso trabalho e ao mesmo tempo, manter a motivação.

Para mim é frustrante tocar sempre nas mesmas cidades, nas mesmas salas, para as mesmas pessoas.

– Ainda não tive a oportunidade de vos ver ao vivo, mas através de alguns vídeos demonstram a vossa dedicação ao 10270541_616514765096649_9192592401302855994_n-2death metal old school. Ora bem, são todos apaixonados deste género, ou é o vosso escape ao dia-a-dia, sendo este um dos géneros que até ouvem de vez em quando? O que achas do death metal produzido em Tampa Bay na Florida e que era gravado nos Morrisound Studios?

Todos nós somos uns privilegiados pois vivemos na época áurea da música dita extrema. Acompanhamos o surgimento do Death Metal, o tal oriundo de Tampa, Florida, gravado nos Morrisound Studios e, naturalmente, ficamos deslumbrados com a agressividade deste sub-género do metal.

Continuo a ouvir com regularidade os estandartes old school do Death Metal, mas não me limito aos mesmos.

Aliás, provavelmente ouço diariamente muito mais thrash, hard core e punk do que death propriamente dito.

Mas, neste campo, acredito ser a excepção da banda. Todos os outros membros são deathsters de sete costados lol

– Quais são os teus 3 álbuns favoritos de death metal?  

No meu top está o “Leprosy” dos Death, que considero a obra-prima do género e da banda em questão. Isto apesar do “Individual Thoughts Pattern” e o “Symbolic” figurarem igualmente nesse top.

Não sendo propriamente um estandarte deste estilo, os Napalm Death são uma das minhas bandas de eleição. E como, em certas fases da sua discografia, revelaram despudoradamente a sua costela death metal, não posso deixar de referir o álbum “Harmony Corruption” como um dos meus preferidos.

Por último, elejo o “Heartwork” dos Carcass, que mistura de forma sublime velocidade, peso e groove.

Mas podia nomear muitos outros. Benediction, Bolt Thrower, Gorefest, Cannibal Corpse, Obituary ou Entombed, todos têm álbuns dignos de figurar nesta lista.

– És um veterano da cena underground portuense e histórias não faltam. Como surgiu a tua paixão pelo metal e o que ouvias em miúdo? Como era o teu processo de descoberta de bandas?

É uma história caricata, que revela a falta de informação e divulgação que havia nessa altura.

Tudo começou por volta de 1986, quando assisti na RTP2 a um concerto de uma banda conectada com o movimento gótico. Algumas das músicas tinham guitarradas a abrir e os membros tinham cabelo comprido. Gravei em VHS e andava sempre a ver e ouvir aquilo. O meu irmão mais velho um dia disse-me que eram heavy metal e que tinha uns amigos na escola que curtiam esse som e que se quisesse pedia para me gravarem umas K7s.

Bendito erro! lol

A primeira K7 que me gravaram consistia numa compilação de bandas e temas que são hoje clássicos. “We are the Road Crue” dos Motörhead, “Motorbreath” dos Metallica, “Show no Mercy” dos Slayer, “Pleasure to Kill” dos Kreator, “Breaking the Law” dos Judas Priest, “The Rime of the Ancient Mariner” dos Iron Maiden, eram algumas das faixas que fizeram parte da minha estreia auditiva e que continuam a integrar a minha playlist.

Mas acima de tudo foram o ponto de partida para descoberta do universo do Heavy Metal.

A partir desse momento, não só continuei a cravar os tais amigos do meu irmão que, pouco tempo depois, fundaram uma das primeiras bandas de thrash da zona do Porto, os Hardness, como também comecei a frequentar a Bimotor e a Tubitek, que eram as únicas lojas de discos do Porto onde se encontravam vinis deste estilo, sendo também um local de convívio dos metaleiros.

Numa altura em que não havia internet e as publicações escritas praticamente ignoravam este estilo, o boca-a-boca era o meio de divulgação e descoberta por excelência de novas bandas.

O facto de toda a gente frequentar os mesmos locais, ir aos mesmos concertos facilitava a amizade e consequente troca de K7s e discos.

A propósito a banda de rock gótico eram os The Mission.

11707345_849915008423289_4724442659173433883_n– Fizeste parte de várias bandas, como Silêncio Extremo, Morbid Minds, Str@in (ex-Crackdown). Como nasceu a tua paixão pelas guitarras e como te englobavas nas bandas já que os estilos eram tão diferentes? Que achas da cena underground actual no Porto e arredores?

Sempre gostei de música e de vários instrumentos em geral. O facto de ter optado pela guitarra teve única e exclusivamente a ver com o acaso.

Na secundária, nos finais dos anos 80/início dos anos 90, já tinha no meu círculo de amizades algumas pessoas que, como eu, eram metaleiros. E a certa altura alguns deles começaram em falar em formar uma banda. Faltava um segundo guitarrista e eu fui escolhido para ocupar esse lugar. Foi assim que surgiram os Silêncio Extremo.

O som era cru e imaturo, pois estávamos todos a aprender a tocar. Apesar de espelhar um pouco todas as nossas influências, curiosamente aproximava-se mais do death metal que era a novidade da altura.

Os Morbid Minds, Crackdown e Str@in são, no fundo, a mesma banda. Os nomes foram-se alterando com as mudanças de line-up, evolução técnica e/ou sonoridades que ouvíamos e nos influenciavam. Mas o núcleo duro e criativo nestas três bandas sempre foi o mesmo: eu, o Alexandre (que fundou comigo os Assassinner) e o outro guitarrista José Farinha.

Actualmente, a cena underground é muito diferente. Há muitas mais bandas. O acesso a instrumentos de qualidade está generalizado e a aprendizagem dos vários instrumentos e técnicas é facilitado pela internet. O que tem influência na qualidade do produto que apresentam.

O facto de haver mais locais/festivais, com boas condições, também é óptimo para a divulgação do seu trabalho.

No entanto, penso que, na sua generalidade, a afluência do público está aquém do que vivenciei nos anos 80 e 90. Talvez pelo excesso de oferta ou quiçá pela falta de espírito ou de comunidade em sentido restrito.

Não querendo cair no saudosismo típico do português, do “antigamente é que era bom”, a verdade é que há duas décadas atrás cada concerto era um evento a não perder. Toda a gente do Porto e arredores (Maia, Matosinhos, Gaia, Gondomar, etc.) se esfalfava para comparecer. Apanhava um ou mais autocarros/camionetas, comboio ou simplesmente fazia kms a pé para poder ir a determinada actuação.

Isto porque ir a concertos não só era o meio primordial para conhecermos as bandas nacionais, como também se consubstanciava numa oportunidade para revermos amigos e convivermos um pouco com os nossos iguais. Isto numa altura em que não tínhamos facebook, youtube, messenger, nem sequer computadores ou internet lol

Actualmente o comodismo leva muitas vezes a melhor. O que é pena. Contra mim falo. Após uma jornada de trabalho, muitas vezes é o cansaço ou vontade de estar com família que vence.

– Também tens outra banda, chamada Assassinner praticantes de thrash metal / groove. Que novidades nos podes dizer acerca desta tua banda? Está prevista a edição de algum material nos próximos tempos? Como é a maneira de trabalhares com o Alexandre (voz e baixo), em que já o conheces pelo menos dos tempos de Morbid Minds, há mais de 20 anos?

Os Assassinner são a banda onde dou maior vazão àquilo que sou, musicalmente falando. Não só por ter sido um dos seus fundadores/mentores, mas também porque, desde sempre, optamos por não nos restringir a um sub-género de música extrema. Como gostamos de rock, thrash, death, grind, hard core, punk, etc. etc., é possível encontrar um pouco disto tudo no nosso som. Na prática, Assassinner é uma súmula das minhas influências e gostos e das do Alexandre.

Sucede que, a crise económica que assolou o país obrigou o Alexandre, companheiro de longos anos nestas lides musicais, a emigrar para abraçar melhores oportunidades profissionais. Como tal, suspendemos as actividades ao vivo dos Assassinner, mas a banda não terminou. Continuamos a compor novas ideias musicais, com todas as dificuldades inerentes à distância que nos separa.

Estando previsto o Alexandre vir a Portugal no final deste ano, queremos aproveitar a sua presença para registarmos dois temas novos, inéditos, para mostrar que estamos vivos e melhores que nunca. Será a primeira gravação da banda enquanto quarteto, com dois guitarristas. Até agora o nosso percurso tinha sido sempre no formato power trio. A edição será, em princípio, exclusivamente digital e gratuita.

Apesar de nos conhecermos há mais de 20 anos, nem sempre é fácil conciliar ideias, vontades ou egos. Por vezes, temos opiniões divergentes sobre o caminho a seguir, seja musical ou outro. Mas com um pouco de paciência tudo se resolve. Ao fim de tanto tempo de amizade, não será certamente a música, que esteve na sua origem, a acabar com a mesma.

– É tudo Ary e muito obrigado por teres respondido. As últimas linhas são tuas em que podes dizer o que bem entenderes!

Quero agradecer, mais uma vez, a amabilidade e interesse da Ode Lusitana em entrevistar-me e dar a conhecer um pouco o meu percurso e trabalho. Da minha parte, manifesto a minha inteira disponibilidade em colaborar naquilo que precisarem.

Contém com o exemplar do EP de estreia dos Cape Torment ainda em 2015 e, mais para o início do próximo ano, aguardem o novo registo dos Assassinner.

Grande abraço e até breve!

 


Antiquus Scriptum

Logo - JpegAntiquus Scriptum, é um projecto nascido em Almada em 1998 e tem em Sacerdos Magus o seu mentor na divulgação desta sonoridade “unorthodox symphonic black / folk / thrash metal com influências ambientais”. A demo de estreia tem data de 1999, com o título “Tales From the Past Millenium”. Depois de mais algumas demos lança em 2002 o seu álbum de estreia “Abi in Malam Pestem”. Ao longo da sua existência a discografia conta já com 5 álbuns, sendo o último o álbum “Recovering the Throne (Tribute Album)”, mas está prevista a edição de um Best Of intitulado “… Outrora, Quando As Águas Choravam… e do seu novo trabalho Imaginarium“.

   Para conhecer este fantástico projecto estivemos a falar com Sacerdos Magus.  

Olá Sacerdos Magus! Desde já é um prazer enorme teres aceite este pedido para uma entrevista e de fazeres parte com o teu projecto desta Ode Lusitana. Ainda te lembras de como começa esta tua paixão pelo Metal? Tinhas um grupo de amigos onde trocavam as edições das bandas e faziam tape-trading? Que lembranças tens dessa altura?

Olá Marco. O prazer é meu, amigo, infelizmente são poucos os convites para entrevistas a Antiquus Scriptum em zines e revistas, pois aqui em Portugal são sempre os mesmos a serem apoiados, são sempre os Filii Nigrantium Infernalium, os Corpus Christii, os Switchtense, os Holocausto Canibal, os PussyVibes, os Midnight Priest, enfim… Sempre os mesmos de sempre! Lá fora é a mesma tanga, são sempre os Moloch, os Xasthur, os Drowning The Light, Satanic Warmaster, etc… Infelizmente são sempre os mesmos a ser apoiados e é quase preciso andar a pedir por favor à entidades responsáveis para nos fazerem uma entrevista ou uma review, uma tristeza! Isto não é nada pessoal contra ti, Marco, mas é o que acontece. Vejo bandas novas acabadas de lançar o 1º trabalho, terem muitos mais apoios seja de editoras, zines, revistas ou rádios, do que Antiquus Scriptum que anda nisto desde 1998 e já vai com 5 (!) álbuns gravados, todos lançados profissionalmente no estrangeiro, apesar de não tocar ao vivo, uma completa vergonha!… Agora respondendo directamente à tua questão, sim, lembro-me bastante bem de quando entrei no Heavy Metal, foi em 1987, com o Thrash e claro, fazias-mos tape-trading, sim. As memórias desses tempos são douradas, foram tempos mágicos da nossa juventude! Trocava-mos k7s, discos de vinil, e os primeiros CDs que começaram a aparecer 1 ano antes e mais tarde, em 1992, fiz a minha 1ª banda de Thrash, os Anesthesia, e aí o pessoal das bandas começou também contactar-se por carta e a fazer tape-trading via correio… As coisas foram evoluindo, nós também fomos evoluindo como músicos, veio o Death Metal, depois, o Doom, o Black Metal e cá estou eu quase 30 anos depois ainda a batalhar pela música, com um projecto formado e consolidado e apesar da Net e dos downloads, ainda a fazer tape & cd-trading, muito por causa da minha distribuidora, a Eye Of Horus Distribution

12083734_787012504743721_120313212_n-2Decides enveredar pela via de músico e fazes parte de várias bandas, como Firstborn Evil / The Firstborn, Psycoma ou The Invertebrate e vocalista de sessão de Sistematic Collision. Ou seja, géneros bastante variados. Tinhas curiosidade em experimentar várias sonoridades? Como surgiram estas participações nestas bandas?

Sim, eu sou uma pessoa muito polivalente musicalmente e isso nota-se bem até em Antiquus Scriptum, quem conhece bem o projecto pode ver isso com nitidez… Gosto de quase todos os géneros de Metal (até ao Black Metal!), Punk e Hardcore (antigo!), Rock e Hard-Rock, do bom, (que no fundo são os pais do Heavy Metal), e oiço música variada mesmo fora do Metal, como Folklore de qualquer parte do mundo, música ambiental, música clássica e até gosto de música Pop dos anos 80. Como te disse comecei a tocar em bandas com os Anesthesia em 1992, como baixista & vocalista. Nunca gravamos nada, mas demos uns quantos concertos ao vivo e já serviu de rampa para o que viria a seguir. Em 1994 formei os Psycoma, banda de Punk / Crossover que cantava em português e onde desempenhava funções de baixista. Ao mesmo tempo, durante 94, eu e o Vítor Mendes que toca actualmente em Neoplasmah, fizemos um projecto de Grindcore, os The Invertebrate, onde eu era baixista & vocalista, para desanuviarmos do Punk, mas não era nada sério. Ainda gravamos 2 demo tapes, mas morreu tudo na praia quando em 1995 Psycoma acabou e eu formei os Firstborn Evil com o Bruno Fernandes, que ainda continua com The Firstborn, o Paulo Vieira, que continuou durante uns anos com The Firstborn, também, e que já passou por inúmeros projectos de Punk e Metal e é hoje guitarrista de Perpetratör, e o seu irmão Gustavo Vieira, que continuou igualmente em The Firstborn, por uns anos e me acompanhou em Antiquus Scriptum como teclista convidado até 2013, ano em que saiu o “Ars Longa, Vita Brevis…“, o último trabalho com ele. Fiz também de vocalista de sessão, como disseste, para Sistematic Collision, que eram os pre-Neoplasmah, quando saí dos Firstborn Evil, em 1998, mas esta experiência durou pouco tempo, pois tinha ideias já para um projecto de Pagan Black / Viking Metal (os meus estilos de Metal preferidos, juntamente com o Thrash), no que se revelou ser Antiquus Scriptum.

Em 1998 decides sair dos Firstborn Evil e formar Antiquus Scriptum junto com o Vítor Mendes e o Dário Duarte. Já tinhas uma boa definição do que querias para a banda? Como funcionavam os vossos ensaios e gravações?

Sim, em 1998 saio dos Firstborn Evil, mesmo nas vésperas da gravação do seu 1º álbum, “Rebirth Of Evil“, sendo até tão em cima da hora que foi o Paulão a gravar o baixo, pois não tinham tempo para integrar um baixista substituto… Formo os Antiquus Scriptum ainda nesse ano, com o Vítor Mendes (Asmodeus), que já vinha de Psycoma e The Invertebrate, como referi, e com o Dário Duarte (Drakonem Drakul), mas mesmo ensaiando e dando um único concerto ao vivo, em Almada, (o único até hoje do projecto, pois nunca mais toquei ao vivo), a participação deles era meio de músicos convidados, já, apesar dos ensaios. Tinha tão boa definição do que queria fazer, que a nossa “união” não durou sequer um ano e depressa os “despedi” da banda e continuei com o projecto a solo, depois de 1999, convidando como já disse o Gustavo Vieira (Helskir) para me ajudar nos teclados de estúdio e com a ajuda também do Paulo Vieira (Nyx Sludgedweller), que começou inicialmente por me gravar e produzir os trabalhos de estúdio, feito que perdura até hoje, e mais tarde, a partir do 1º álbum, “Abi In Malam Pestem“, também a participar na guitarra solo, em algumas baterias, coros e etc… Com o Dario e com o Vítor, as coisas não funcionavam muito bem, por isso os “despedi” e decidi continuar a solo. O Dario não tocava um caralho de bateria e o Vítor, apesar de bom músico, que ainda hoje o é, e da já nossa longa cumplicidade como músicos, não se encaixava muito bem no espírito BM de Antiquus Scriptum e além disso sempre foi uma pessoa muito fechada consigo mesmo e difícil de contar para certas coisas, ou de até simplesmente sair à rua para conviver ou beber um copo… Fartei-me, decidi que nunca mais iria ter bandas na minha vida, nunca mais iria tocar ao vivo e continuei com Antiquus Scriptum como uma one man band até hoje, embora já tenham passado inúmeros músicos convidados pelo projecto durante estes 17 anos de existência.

12076992_787012848077020_1877757632_n-2Que te fez formar uma one man band? Fala-nos um pouco do teu interesse por estes tipos de projectos e de alguns que não sendo one man band te atraíram bastante em termos de conceito, como por exemplo os Bathory?

Acho que já respondi mais ou menos ao que me fez formar uma one man band na resposta anterior. O que me fez despertar o interesse por ter uma one man band, foi o Boom de Black Metal nórdico, que chegou cá em 1994, 95, e o facto de muitos dos projectos que vinham do norte da Europa serem constituídos por 1 ou 2 elementos apenas. Não foi só Bathory e Burzum que me influenciaram por serem one man bands, mas também Satyricon, em termos de conceito, Emperor, Darkthrone, Enslaved, Gorgoroth, Dark Funeral, Dissection, Mörk Gryning, Master’s Hammer, e claro, Mayhem, entre tantos, tantos outros… Rendi-me simplesmente a esse conceito muito forte que vinha lá de cima, o de 1 ou 2 gajos fazerem tudo nas bandas e decidi que seria este o meu caminho futuramente. Em Portugal não é um conceito muito utilizado usualmente, o das one man bands, mas no norte da Europa e hoje em dia não só na Escandinávia, como na Rússia, Ucrânia, Polónia, França, etc, e diria até um pouco por todo o globo no que toca a Black Metal e derivados, é um conceito muito utilizado e escusado será de dizer que a maior parte das one man bands espalhadas por esse mundo fora não tocam ao vivo.

Começas com as edições e fazes um hiato devido a vários problemas pessoais entre 2002 e 2008, retornando nesse ano de 2008 com o segundo longa duração “Immortalis Factus“, voltando em grande com uma dedicação enorme e que se tem visto nos últimos anos. “Ars Longa, Vita Brevis…“, álbum de originais de 2013, fazes um álbum fantástico e variado de covers “Recovering The Throne (Tribute Album)” e já para início de 2016 tens o lançamento do duplo CD, que é um Best Of, intitulado “… Outrora, Quando As Águas Choravam…“. Fala-nos um pouco então desse teu retorno feito e destes últimos trabalhos?

O hiato foi sim entre 2003 e 2007, devido a uns problemas pessoais, e sim, voltei em 2008 com o 2º longa duração, “Immortalis Factus“, que saiu na altura por uma editora norte americana, a Ophiucus Records, em formato profissional, mas limitadíssimo a 100 cópias, apenas… A dedicação é sempre a mesma ao longo dos anos, só tenho pena realmente do projecto não ter mais reconhecimento, principalmente cá em Portugal, depois de um histórico tão rico e tão vasto como é o de Antiquus Scriptum. No geral os álbuns têm sido bem recebidos pelo público, apesar do pobre apoio das zines, revistas e rádios na divulgação dos mesmos, mas apesar de tudo tenho um público muito fiel e que me apoia bastante e não me posso mesmo assim queixar das vendas do merch do projecto. O processo de evolução tem sido normal como acontece com todas as bandas, para melhor, acho eu, e Antiquus Scriptum tem vindo a vincar a sua sonoridade que é, na minha suspeita opinião, muito peculiar, e a traçar a sua marca no Underground, não só com inúmeros trabalhos editados, mas principalmente com a qualidade e profissionalismo que caracterizam o projecto. O “… Outrora, Quando As Águas Choravam…“, vai ser um Duplo CD, que será lançado em Janeiro de 2016 pela alemã Pesttanz Klangschmiede e pela espanhola Negra Nit Distro, limitado a 666 cópias e que será uma retrospectiva destes longos 17 anos de projecto, reunindo os melhores temas de Antiquus Scriptum desde a 1ª demo de estúdio, “In Pulverem Reverteris“, até ao último álbum de originais, o “Ars Longa, Vita Brevis…“, incluíndo já alguns temas novos que temos feito até então e que ainda não foram editados. Espero que seja bem recebido também e que seja mais uma pedra na já sólida muralha que é Antiquus Scriptum!

Ao mesmo tempo estás a preparar um novo trabalho. Como estão a decorrer as composições para o próximo álbum459142-2Imaginarium“? Podias explicar o teu método de trabalho? Ultimamente existem sempre duas presenças habituais nas tuas edições, que é a do Paulo Vieira (Paulão), que te tem ajudado a vários níveis e a editora alemã Pesttanz Klangschmiede. Como surgiram estas amizades e como trabalhas com eles?

Bom, as coisas com o “Imaginarium” (próximo álbum de originais), estão a decorrer normalmente e as composições vão fluindo naturalmente sem grandes esforços. Já sou um músico batido, podemos dizer, sei bem o que quero fazer em cada trabalho e não me preocupo muito com tecnicismos ou exuberâncias, deixando sempre o feeling falar mais alto e deixando as coisas fluírem naturalmente. Começo por escolher um título, e começo por fazer os riffs de guitarra e a bateria ao mesmo tempo, podendo ou não, depende dos casos, ir escrevendo logo a letra também e a faixa vai saindo naturalmente. Depois do esqueleto feito, vêm naturalmente os arranjos e melhoramentos e pronto, o tema fica pronto. Depois em estúdio gravo tudo da minha parte, ou seja, guitarras, bateria, baixo e vozes e aí é que é composto o teclado, sempre com a minha supervisão, acrescentados os solos, coros e todos os instrumentos que não me cabem a mim gravar. Sim, o Paulão, além de produtor, como já tinha dito, é sempre presença assídua na guitarra solo e coros e até já me tem feito algumas baterias e etc, tal como foi assídua a presença do seu irmão Gustavo Viera entre 2000 e 2013, substituído após a sua saída pelo seu irmão mais novo, o Ricardo Viera, que passou a fazer os teclados a partir daí; digamos que tenho a participação musical da família Vieira em peso em Antiquus Scriptum 🙂 São velhas amizades, já conheço este pessoal há 20 anos, toco com eles desde os Firstborn Evil, como já referi, e faz todo o sentido estar rodeado por músicos e amigos assim ao longo dos anos, mesmo não sendo membros efectivos. Sobre a Pesttanz Klangschmiede, foi uma editora que apareceu no início de 2013, depois de lançar toneladas de edições mais pequenas, muitas das vezes em formatos Pro CDr, e não profissional, por outras labels e foi uma editora que me lançou nesse ano o álbum “Ars Longa, Vita Brevis…“, limitado a 1.000 cópias em formato profissional jewel case + 100 cópias em formato deluxe digipack e fez isto com toda a discografia do projecto, não só com os álbuns subsequentes, mas também com os trabalhos antigos, lançando todos, 1 por 1, em formato jewel cases limitados a 1.000 cópias e em formato digipack, limitados a 100 cópias. É uma editora, que apesar de pequena, se esforça arduamente no que toca a promoção e divulgação do projecto, (esta sim!), e se tem desfeito em esforços para levar não só Antiquus Scriptum, como as restantes bandas da editora mais longe e só lhe tenho a agradecer por tudo e tenho muito orgulho em estar na germânica Pesttanz Klangschmiede!

Também tens a tua distribuidora “Eye Of Horus Distribution“. Como surgiu esta ideia e quais os planos futuros?

Bom, a Eye Of Horus Distribution nasceu em 2013 da minha necessidade de escoar os CDs de Antiquus Scriptum que provêm das royalties que as editoras me dão, sempre que sai um disco novo, ou uma reedição. Por exemplo, trabalho a 20% com a Pesttanz, no caso dos jewel cases e a 18% se forem digipacks, vinis ou t-shirts, o que dá 200 CDs para mim dos 1.000 fabricados, ou 18 digipacks ou t-shirts, de uma tiragem de 100 exemplares. Claro, que por mais que venda, nunca consigo vender 200 CDs de Antiquus Scriptum de uma virada só e como tenho já 5 álbuns editados, o stock começou-se a acumular aqui em casa… Como queria também ajudar na divulgação dos álbuns, resolvi criar a Eye Of Horus e comecei a fazer trade com várias editoras um pouco por todo o mundo, do material de Antiquus Scriptum, pelos lançamentos deles e não só. Depressa constituí um catálogo bem variado, como sabes, e comecei a ter, para além dos títulos de Antiquus Scriptum, items de outras bandas, não só de projectos de BM / Viking Metal, semelhantes a Antiquus Scriptum, como lançamentos também de Death Metal, Doom, Thrash ou whatever… Comecei a anunciar mensalmente essas listas de material no Facebook e comecei a ter muito bom feedback de algum pessoal, que começou a adquirir regularmente títulos da minha distro, apesar da crise que o mundo da música atravessa na venda de material físico. Assim, para além de ajudar a espalhar o material do meu projecto um pouco por todo o lado, ajudando a Pesttanz e a mim mesmo, consigo ter sempre um catálogo Underground variado e sempre vou vendendo alguma coisa. No fim, vendo bem as cenas, acabo por vender os 200 CDs que à partida eram de Antiquus Scriptum, mas que se transformaram em outros títulos e assim consigo não só escoar o meu merch do projecto, como ainda facturar alguma coisinha para ajudar a pagar os estúdios e todos os encargos financeiros que o projecto acarreta. Planos para o futuro com a distro não são muitos, deixa-me dizer-te… Poderia fazer um site, um blog ou uma página Facebook para a Eye Of Horus, mas sinceramente acho que isso não é necessário, pois tenho a minha clientela fiel através da minha página do meu FB pessoal e safo-me bem assim. Talvez um dia possa crescer e ter um site todo pipi para a Eye Of Horus, mas isso implicaria ter 1º um site profissional de Antiquus Scriptum, pois ainda não tenho, só tenho um blog que é o “Antiquarium“, para ajudar a promover o projecto na Net, aparte do FB. De momento estou bem assim, unicamente utilizando apenas a minha página pessoal do FB para anunciar mensalmente as novidades da Eye Of Horus. De futuro quiçá se não poderei alargar os horizontes e ter um site profissional, tanto para Antiquus Scriptum, como para a Eye Of Horus Distribution, mas por agora safo-me bem assim.

12006092_310973312360345_5612376906546437226_n-2Que achas do nosso panorama nacional e que dicas podes dar às pessoas que estão agora a entrar neste meio, desde as bandas até aos que divulgam estas nossas sonoridades?

Desculpa a rispidez, mas não irei nomear quaisquer bandas nem editoras nacionais, simplesmente porque nunca vi Antiquus Scriptum ser referenciado por nenhuma banda e a nível de editoras, o apoio ao meu projecto, cá dentro, ser de rigorosamente ZERO! Como já disse na 1ª questão, são sempre os mesmos a ser referenciados e apoiados, parecendo que Antiquus Scriptum é um projecto de Categoria B, simplesmente porque não toca ao vivo… Vivemos num país mesquinho, de gente mesquinha e o Underground infelizmente não foge à regra. São só apoiadas nas zines, nas resvistas, nas rádios e mesmo pelas editoras, somente as bandas dos amigos dos amigos e vivemos num circulo completamente viciado, onde são sempre os mesmos a serem entrevistados ou a merecer uma review… Os media, seja mass, seja a nível Underground, estão podres e completamente viciados! Só se safam as bandas que têm cunhas e a mim particularmente, parece-me que as editoras cada vez têm mais mau gosto naquilo que editam e promovem, pois cada vez vejo mais palha, para não dizer merda, ser idolatrada e vangloriada logo ao 1º registo, muitas das vezes, enquanto cá andam pessoas e bandas nisto há uma vida inteira a esforçarem-se arduamente para manter os seus projectos activos, como é o caso de Antiquus Scriptum, projectos esses muitas das vezes com uma qualidade muito superior a essa trampa a que eles chamam de “revelação do ano” e coisas assim… Como nunca vi banda alguma referenciar Antiquus Scriptum como um projecto a seguir e como nunca tive apoio algum por parte de editoras credíveis cá em Portugal, as minhas referências são ZERO! No entanto poderei dizer aos mais novos, que apesar das toneladas de lixo que parecem crescer nos esgotos e ter o triplo da visibilidade de muitos projectos veteranos com qualidade duplamente superior, apoiem as bandas que gostam, comprem o merch das bandas e não se fiquem pelos downloads. Há sempre boas bandas a surgir em todos os estilos, (também não sou nenhum quadrado), e essas bandas ou projectos precisam do vosso apoio para sobreviver. Vão aos concertos, comprem um t-shirtzinha, o EP ou o álbum da banda e apoiem também aquelas editoras que se esforçam para lançar bandas de qualidade, e não merda que não trás nada de novo ao Underground e são uma réplica completa de tudo o que já foi feito… Apoiem principalmente os projectos antigos, pois eles mais que ninguém merecem ser apoiados por vós, pois já andam nisto há muitos Invernos e mais que ninguém, pelos seus currículos e empenho de décadas, merecem ser apoiados não só por vocês, como de deveriam acima de tudo ser apoiados pelos media, zines, rádios e todos os demais ligados ao Underground Metálico. Tenho dito!

Muito obrigado pelas tuas respostas e as últimas palavras são tuas.

Obrigado eu, mais uma vez pela oportunidade, Marco. As minhas últimas palavras resumir-se-iam ao que disse na resposta anterior, ou seja, pedir ao pessoal para apoiarem os projectos pequenos, não só nacionais como estrangeiros também, com a compra de merch e indo aos concertos das bandas que gostam. Não se resumam aos downloads, uma banda ou um álbum tem muito mais magia quando é ouvido no formato original e não apoiem nem comprem só Iron Maiden, ou Metallica, há milhões de bandas credíveis que precisam e merecem o vosso apoio incondicional, com a venda do seu diverso merchandise. Apoiem as editoras pequenas, não só as grandes majors, que se esforçam arduamente para comercializar e divulgar projectos de valor do nosso Underground e apoiem as poucas zines que ainda existem, como é o caso da “Ode Lusitana” e oiçam os poucos programas de rádio de Metal, muitos deles piratas ou através de Net-Radios, mas esforcem-se por usar aquela t-shirtzinha da banda que gostam e de promover e apoiar de alguma maneira essas bandas, não se limitando a ir a um blog e sacar a discografia a Mp3 e já está… As bandas, as editoras, as distros, as zines, as rádios, todas elas passam por grandes dificuldades para sobreviver, hoje em dia, devido à decadência do Metal e da queda das vendas de material físico, por isso lembrem-se, se aquela banda que gostam lançou uma demo, um EP ou um álbum novo, se tem uma t-shirt de qualidade que vos fique bem, porque não contactar a banda e encomendar este material, ou em vez de se estar a gastar rios de dinheiro em CDrs para reproduzir em casa, porque não comprar aquela tape que muitas vezes só custa 3 ou 4€, aquele vinilzinho precioso, ou aquele CD profissional que vai fazer as delicias das audições futuras lá em casa e tem de longe muito mais valor que uma pasta convertida em Mp3, que não tem valor emocional algum e só serve, (deveria ser assim), para promover o álbum e o projecto em causa e não é de maneira nenhuma alternativa ao CD, vinil, ou tapes originais! Tenho dito. Obrigado a ti, Marco, mais uma vez pela oportunidade e a todos os que lêem estas linhas e de algum modo apoiam o Underground, adquirindo o diverso material original. Força & Honra e abraço a todos!


Som do Rock

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Com formação em julho de 2014 nasce Som do Rock com o objectivo de divulgar os sons mais pesados através de vários meios. Desde a página do facebook até ao site, conta também desde novembro de 2014 com a edição da e-zine Som do Rock Magazine e tem lançado já várias compilações com nomes da cena nacional.

Com uma equipa recheada de vários colaboradores falamos com o Paulo Teixeira, responsável por todo este trabalho e que nos mostra a sua paixão por esta nobre causa.

11997202_826392307481732_997892801_nViva Paulo! É um prazer contar com a tua presença neste número da Ode Lusitana, por todo o trabalho que tens feito na divulgação do Metal e para começar queria perguntar-te como nasceu esta tua paixão pelo Metal? Tinhas lojas (ou as chamadas discotecas, que na altura vendiam discos!) que costumavas frequentar para conhecer novas sonoridades? O que ouvias com o teu grupo de amigos?

Antes de começar gostava de agradecer esta oportunidade.

O meu gosto pelo Metal nasceu tinha eu entre os doze e os treze anos, um dia ouvi na casa de um amigo um vinyl que o pai dele tinha e o som era bastante diferente daquele que estava habituado a ouvir em casa, aquilo mexia comigo era agradável.

Estavamos em 1979 hoje conto com 48 anos de idade.

Descobri que era Ozzy Osbourne, dai eu dizer sempre que o culpado por eu gostar de Metal é o Ozzy. Depois comecei a procurar mais e ia a lojas procurar e descobrir mais, lembro-me de uma que havia numa escadas junto à Rua do Carmo na Baixa de Lisboa, como o dinheiro era pouco e eu ainda um garoto limitava-me a ver e a ouvir.

O meu grupo de amigos não eram muito virados para este genero músical, foi ai que descobri com pena minha que ser Metaleiro em Portugal nessa altura era pouco recomendável. Lembro-me de uma vez à saida do liceu a mãe de um colega ter dito “ Não quero que andes com este tipo de pessoas, são má influência”, nunca mais me esqueci desta frase.

Em que altura começas a ter interesse pela parte escrita e de divulgação? Eras um consumidor de revistas / fanzines / newsletters? Quais os pontos positivos que estas publicações tinham e o que apreciavas mais dessas edições? Em que trabalhos de escrita participaste?

Uns anos mais tarde quando o só ir às lojas já não chegava passei a procurar por mais conhecimento, mas não era fácil encontrar publicações em Portugal, não devemos de esquecer que estávamos no início dos anos 80. Havia uma revista que comprava regularmente, era alemã e chamava-se POP CORN. Tinha muito que ler sobre o que se passava na Europa do norte, só era pena ser escrita em Alemão.

Com o passar dos anos começou a haver mais informação disponível mas só em 2011 comecei a participar de forma activa na escrita no site Metal em Portugal.

O que te levou a erguer o Som do Rock em Julho do ano passado? Como já comentei contigo é de louvar este teu projeto que tomou dimensões muito interessantes, mas até que ponto pensas fazer crescer este Som do Rock? Consegues explicar porque é que em Portugal a divulgação do Metal através dos vários meios de comunicação praticamente que desapareceu, estando aos poucos a voltar a erguer-se?

O Som do Rock foi criado para dar uma maior divulgação ao que se faz em terras lusas e além fronteiras, com segui estabelecer várias parcerias com outros sites e editoras em especial no Brasil e Finlândia. O Som do Rock vai crescer até onde for possivel com os meios existentes, está em estudo uma tornar o site mais interacticvo e com novas funcionalidades bem como a criação de app para andriod que já está em testes.

A explicação que encontro para que o Metal não seja divulgado para além dos meios que existem no nosso underground é o facto de ainda haver alguma resistência por parte do público em geral, logo as noticias de Metal não vendem por isso não haver divulgação, um exemplo recente foi o facto do Som do Rock ser Média Partner do PAX JULIA METAL FEST 2015 ter enviado informação para vários canais tais como a RTP, SIC RADICAL e não ter tido qualquer resposta.

Uma das coincidências fantásticas foi que o número zero da Ode Lusitana e o número zero da Som do Rock Magazine são editadas na mesma altura em Novembro de 2014! O que te levou a decidires criar uma magazine? Deves ter a mesma opinião do que eu, mas qual a importância da edição e distribuição (gratuita) desta magazine, facilitando a descarga em .pdf para quem estiver interessado? Qual a tua opinião de sermos um dos países europeus onde devemos ter o menor número de fanzines/magazines dedicadas ao Metal?

Verdade sem qualquer forma de termos combinado ambos os números zero sairam no mesmo mês.

A Som do Rock Magazine nasceu da necessidade de complementar o site, para além de partilharem alguma informação a Magazine tem seções únicas que não se encontram no site tais como o Correio dos leitores e em especial a Coluna mensal do Dico que é exclusiva da Magazine.

A edição e distribuição gratuita é importante pois é uma maneira de chegar a mais leitores e para quem gosta de ler em papel pode de forma gratuita descarregar e imprimir. Fica aqui uma dica de que houver os apoios necessário podemos passar a formato físico com edição em papel, tamanho pokect (A5)

De facto Portugal continua à margem do resto da Europa, temos uma grande comunidade mas poucos meios e informação, a internet é actualmente o melhor meio de comunicação.

a3043527267_10-2Som do Rock, além do site, da página do facebook e da magazine, também se tem dedicado à divulgação de bandas nacionais através de compilações. Como tem sido a receptividade por parte das bandas e do público para estas edições? Já tens mais alguma planeada?

Esse é outro projecto que complementa o trabalho da equipa, achamos que todo o resto só fazia sentido com as compilações.

As Bandas desde o inicio tem aplaudido o projecto que já tem duas compilações, a “13 Bandas 13 Temas” e a “SunSet Metal 2015” esta última tembém com uma novidade que penso nunca ter sido feita em Portugal é em dois Volumes o primeiro com Bandas e o segundo com um set de DJ em que só é usados temas de Bandas Portuguesas é portanto o primeiro “CD” de DJ de Metal.

O público tem aderido bem, o número de downloads é optimista para o futuro.

Em relação a novos trabalhos pretendo lançar em Dezembro o “13 Bandas 13 Temas 2015” e no Verão o “SunSet Metal 2016”. Serão sempre em formato digital e gratuitos, se apoios houve-se era possivel passar a formato fisico.

Depois deste tempo todo o que achas do panorama actual do Metal nacional desde o público até às bandas? O que é necessário para tirar algumas pessoas do sofá e levá-las a um bar onde estão a tocar 3 bandas de metal e pagas 5 € por umas horas bem passadas? E ao mesmo tempo o que achas de ver gente tão nova a começar a aparecer nos concertos?

O Metal Nacional está bem vivo e recomenda-se, em relação às Bandas temos muitas já consagradas em terras lusas que já tem um cuidado na sua sonoridade que em nada fica a dever ao que se faz lá fora. Não sou contra o publico dar 40,00 ou 50,00 Euro para ver uma grande Banda internacional, mas não devem de esquecer que os 5,00 Euro dados para poderem ver tres ou mais Bandas Nacionais valem muito para quem dedica o seu tempo por com muito sacrifício pessoal e serve de incentivo à continuação do seu trabalho. Temos que apoiar mais o Metal Português merece a pena e não se vão arrepender, disso tenho a convicção.

E são com estas palavras que terminamos esta entrevista e queria agradecer-te por teres participado. As últimas palavras são tuas!  

Mais uma vez queria agradecer a oportunidade e desejar à Ode Lusitana uma continuação do bom trabalho que faz em prole do nosso Metal.

Peço a todos os Metaleiros que apoiem o de bom que se faz no nosso País, as Bandas merecem tal como todos os que não estando na linha da frente também fazem o seu papel.


Baktheria

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Há bandas que nos deixam com um sorriso no rosto quando colocamos um CD na aparelhagem e os Baktheria são um exemplo extraordinário!

Provenientes de Lisboa e formados em 2013 juntam o que há de melhor no death, thrash e punk, tocando esta mistura a abrir. Em Maio deste ano editam o seu primeiro trabalho “System Sickness” com 13 temas, onde pontificam Rui Vieira (voz/guitarra), Rui Marujo (baixo) e Alex Zander (bateria).  

Foi com o Rui Vieira que falamos e nos explica o mundo desta banda.

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Viva Rui! Bem-vindo à Ode Lusitana! Vamos começar por um pouco da tua história inicial com o Metal. Ainda te lembras quando é que se dá o teu início nestas audições metaleiras? Quem é que te iniciou nestas sonoridades? Tinhas algum grupo de amigos que se reunia para ouvir música e falar das bandas? Que bandas é que te cativaram?

Viva Marco, obrigado pelo teu convite e desde já uma saudação pelo teu interesse e contributo para a divulgação do underground e Metal em geral. Lembro-me perfeitamente do início. Digamos que foram duas fases que se interligaram. A primeira foi com Scorpions e Europe, pelo único acesso que existia ao rock naquela altura. Era isso que passava insistentemente na televisão, na RTP 1. Lembro-me da “Still Loving You” (Scorpions) e da “The Final Countdown” (Europe) estarem meses a fio no primeiro lugar do top. É claro que aquilo começou a mexer com a minha cabeça. Por volta de 86/87, e aqui dá-se a segunda fase, um amigo empresta-me a cassete que viria a revolucionar a minha vida. Tinha no seu interior, a bíblia, ou seja, “Live After Death” dos Iron Maiden, e também Metallica, Venom, Helloween e The Exploited, daí o meu gosto pelo Punk, que sempre andou de mãos dadas com o Metal. Entretanto, quando fui morar para Arruda dos Vinhos, conheci algumas pessoas que também partilhavam da religião metálica, como o Helder Rodrigues ou o Nuno Mariano, ambos actuais membros dos Machinergy. Nós tínhamos um ritual engraçado, isto por 88/89. Íamos à noite para o jardim municipal de Arruda curtir um sonoro com um rádio gigante da Sanyo, mas antes passávamos na padaria para comprar pão quente! Levávamos Coca-Cola e manteiga (!!!) e era a loucura! Entretanto, chegaria às nossas vidas o “Lança-Chamas” do António Sérgio e o “Rock Em Stock” do Luís Filipe Barros que revolucionou tudo e abriram as portas que faltavam.

Devem ter sido horas e horas de volta de uma aparelhagem até que te tornas músico e até começas a cantar. Como se deu esse interesse pela via instrumental?

Cisne Negro, Bicéfalo, Miss Cadaver, Machinergy, é sinal que tens vários interesses. O que procuras numa banda que inicias ou da qual fazes parte?

Sem dúvida, foram horas infinitas a ouvir o “Somewhere In Time” e a ver todos aqueles pormenores da capa, a tentar descobrir novos detalhes (ocultos)! O click para começar a criar música foi com o “Beneath the Remains”, foi ali que a necessidade de passar à composição surgiu. Isto porque os Sepultura, na minha opinião, para além de revolucionar, vieram também democratizar o Metal, mais concretamente o Thrash. Eram do Brasil, ou seja, não eram de nenhuma potência americana, britânica ou alemã, logo era possível vingar fora desse eixo metálico, desse triunvirato dominador, eram jovens com ar desportivo e cativante, a escrita era profundamente simples, embora acutilante, a música era de outro mundo, também ela, simples, a meu ver. Estes vários projectos/bandas em que estou envolvido são o reflexo do meu gosto vasto pela música pesada e pela música no geral. Eu consumo tudo e quero fazer um pouco de tudo enquanto cá estiver. A música que fizer é o que irá perdurar da minha memória, e é com essa permissa que eu me tento desdobrar em várias vertentes. E daí serem tudo projectos fundados ou co-fundados por mim. Não me vejo a integrar uma banda estabelecida, isso não me satisfaz. Cisne Negro será o próximo rebento. Aguardem!

10986565_384066841793040_5064017038685466890_n-3A 16 de setembro de 2013 surgem os Baktheria. Pelos vistos a data ficou na memória! Como surge esta reunião entre tu, o Alex Zander e o Rui Marujo? Já os conhecias de há longa data? O humor e a boa disposição fazem parte da vossa atitude. É um requisito essencial nos Baktheria?

O requisito essencial é não tornar esta banda séria! Tem de ser/continuar simples, sarcástica, trabalhadora mas descontraída, sem grandes planos e/ou esquemas. Conheci o Alex através de um anúncio que coloquei no Metalunderground. Nessa altura, procurava baterista para Miss Cadaver e ainda ensaiámos algumas malhas mas a coisa ficou por ali até porque pouco tempo depois formei, com o Marujo (que já conhecia há algum tempo) e outro baterista, os Crustifiction, mas este projecto teve vida curta. É a seguir que nos juntamos os três e nascem os Baktheria com o objectivo de fazer barulho e berraria. Nos nossos concertos é onde essa faceta “humorística” se nota mais, essa forma descontraída com que nos apresentamos já faz parte do espectáculo. Afinal, um concerto é uma comunhão e boa disposição. É ainda melhor quando o Marujo está “quentinho”!

Em Maio deste ano editam o vosso álbum de estreia “System Sickness”. É uma chapada na cara quando se coloca a ouvir! Sei que vais falar bem do teu trabalho (e é verdade!), mas que achas destas críticas positivas que tem recebido? Houve alguma coisa engraçada que tenham comentado acerca do álbum?

Desde que começámos a compor, senti que algo fixe pudesse vir a acontecer. Penso que ao iniciar um projecto com o objectivo de ser simples, sem “rodriguinhos”, nos deixou logo sem aquela responsabilidade, aquele peso de ter que ser isto ou aquilo, de cumprir com regras. Não queremos saber, Baktheria é mandar tudo para o caralho, ponto. Acho que este trabalho, dentro da sua simplicidade, está bem conseguido, da música ao artwork e o que Baktheria encerra em si. As críticas têm sido muito agradáveis mas também não foram muitas até porque não estamos numa de andar a melgar o pessoal para fazer reviews e isso. Até nisso não nos levamos muito a sério… A review do Arte Metal do Brasil tem uma expressão engraçada e que resume bem Baktheria, qualquer coisa como “não estão aqui para enrolar…”. É isso mesmo!

11822760_394405487425842_5339045189317188111_n-2Uma das coisas que vemos neste trabalho é a crueza do vosso som simples e directo. Como é que surgiram estes temas nos vossos ensaios? Quem é o principal compositor? A temática das vossa letras está em perfeita sintonia com o vosso som. É uma fórmula para manter ou querem experimentar coisas novas?

Os Baktheria nasceram com o propósito de ser uma banda simples e virada para o “vivo” e são como que um tributo a Ratos de Porão ou Extreme Noise Terror, não tenho problemas em assumir isso, nenhuns. Foi tudo muito rápido embora planeado. Eu e o Alex, compusemos, em pouco mais de dois meses, uns 10 ou 11 temas. Entretanto, o Rui Marujo (baixo) entrou e contribui com ideias para cerca de três temas. As letras, bem como toda a imagem e essência de Baktheria, é o mal, basicamente. Mas não é um mal fictício, é um mal bem terrestre. E esse conteúdo tem de ser traduzido em pura agressão musical! A fórmula é para manter, simples e eficaz. O que queremos mesmo no próximo trabalho é engrossar ainda mais o som, queremos um peso mesmo fodido!!!

Quando estás num concerto em que os Baktheria participam, és dos que se encostam ao bar a beber cerveja ou dos que estão atentos às bandas? Ou ambas as coisas? Que achas desta mistura em concertos de bandas novas, com o pessoal que já anda na estrada aos anos? Que conselhos darias a este pessoal mais novo?

A minha postura, normalmente, é de observação com uma cerveja na mão! Mas depois de tocar, só apetece é cair na cama, sair. Há uma grande descarga de adrenalina, fico seco, pensativo. Comigo é assim. Mas por respeito e também para curtir as outras bandas e estar com o pessoal, bebem-se umas cervejas, põe-se a conversa em dia, etc. Quanto à mistura que referes, acho muito bem. Por mim, qualquer coisa serve, o que importa é o respeito e humildade, boa onda entre as bandas, pessoal da organização, etc. O resto é lirismo. O conselho aplica-se a novos e velhos.

É tudo, Rui. Muito obrigado pelas tuas respostas e por esta tua participação. Podes deixar algumas palavras aos nossos leitores e aos vossos fãs!

Obrigado Marco pela entrevista e boa sorte para a Ode Lusitana e os teus projectos. Baktheria é banda de “vivo”, portanto, quando passarmos por onde vocês moram, apareçam que vão levar com uma descarga de barulho e cenas parvas, mas vão curtir.

 


Shell From Oceanic

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Shell From Oceanic, banda do Porto formada em 2010, abalou a cena nacional do metal progressivo com o seu álbum de estreia “Ambivalence” editado em dezembro do ano passado.

Captura de ecrã 2015-09-26, às 16.42.53Formados por César Ramos (guitarra), Cláudio Frank (guitarra), Luís Correia (baixo) e Luis Neto (bateria/percussão) segue a entrevista para ficarem a conhecer melhor a banda e se ainda não tiveram a oportunidade de ouvir o álbum, procurem e fiquem atentos ao som deles.

 

Para começar tenho que vos agradecer por terem aceite responder a estas perguntas da Ode Lusitana e é um prazer ter uma das bandas mais inovadoras do metal progressivo português nas nossas páginas. E a primeira pergunta é como nasce Shell From Oceanic no Porto, corria o ano de 2010? Já todos se conheciam? O Luís Correia (baixo) entra para a banda em Maio do ano passado. Como foi esta integração?

Obrigado pelo interesse e pela entrevista! Muito resumidamente, poucos meses depois do início do projecto, o César (Guitarra/Teclados) falou com o Luís (bateria) através de um anúncio num fórum online, visto que muitas bandas de referência/influência eram um ponto em comum para os dois. A partir daí, marcou-se um ensaio com os restantes membros fundadores do grupo, que já não fazem parte da formação, e começámos a compor algumas músicas. Após várias mudanças de membros, chegamos no final de 2013 à formação com a qual iríamos gravar o álbum de estreia. Cláudio Frank e César Ramos nas guitarras, Ricardo Mendes no baixo, e Luís Neto na bateria.

Após a conclusão das músicas, contactámos o Paulo Lopes do estúdio Soundvision, e começámos as gravações para o álbum, que intitulamos de “Ambivalence”. Já quase no fim das gravações, as circunstâncias levaram a uma mudança de baixista, tendo entrado o atual, Luís Correia, que ainda gravou duas das músicas do álbum (“Hope”, e “Into Arid Seas”).

10361598_761628130524314_6247202019737902490_n-2Durante muito tempo andaram à procura de vocalista, mas optaram por deixar este espaço vago no seio da banda. Foi a necessidade que vos levou a optar por serem uma banda instrumental, ou a voz poderá não se coadunar com o vosso som? A banda instrumental é para manter?

No início, sim, a falta de vocalistas compatíveis com o nosso som foi a grande culpada. Sempre pensámos em ter um vocalista, até porque, originalmente, a nossa sonoridade era mais agressiva, e virada para o death metal. Logo, não viamos muito sentido em sermos uma banda instrumental. Chegaram a passar vocalistas pela formação, e algumas das músicas presentes no álbum tinham já letras e linhas de voz escritas, mas quando fechamos a formação pré-álbum decidimos que fazia sentido pôr os vocais de lado, porque queríamos seguir uma vertente estilística mais virada para sonoridades progressivas e com influências de jazz fusão e música eletrónica. Isto também porque queríamos ter mais liberdade expressiva, num sentido de poder ter estruturas não convencionais e passagens complexas sem termos de nos preocupar com a presença de um vocalista.

Em relação à última pergunta; a ideia é continuarmos uma banda instrumental, mas não vamos fechar portas a mudanças futuras, porque apesar de termos já 5 anos de existência, apenas recentemente consideramos que nos tornamos numa banda completa, e ainda temos imenso para explorar. Este álbum é o produto de 4 anos de composição, mudanças de membros e alguma turbulência, por isso esperamos no futuro poder fazer algo mais ponderado e com mais maturidade.

1619417_717851431568651_1808559948_nEm dezembro do ano passado lançam o vosso primeiro longa duração de nome “Ambivalence”. Como funcionou este longo processo de gravações? Na minha opinião este é um álbum que mostrou uma excelência dentro deste estilo. Qual a opinião que receberam acerca deste trabalho?

A composição do álbum foi iniciada em meados de 2011 e terminada um pouco antes da entrada em estúdio, em Dezembro de 2013. Decidimos trabalhar com o Paulo Lopes (Crushing Sun) no Soundvision Studios, por ser uma referência em produção neste genero de música. Houve sempre um grande interesse em lançar algo com uma atenção especial à qualidade, acabando por demorar algo mais com estas preparações.

As opiniões que recebemos do álbum ultrapassaram as nossas expectativas, havendo boas criticas em blogs internacionais e por parte do público nacional, um grande interesse em levar a banda aos palcos.

Está nos vossos objectivos não tocar ao vivo e apenas fazer gravações de estúdio? Qual a próxima novidade dos Shell From Oceanic e o que podemos esperar?  

Não, de todo! Ainda não pudemos tocar ao vivo por razões logísticas, devido ao facto de sermos todos estudantes/trabalhadores. Tencionamos começar os concertos no último trimestre deste ano, por isso sim, teremos novidades em breve.

Falamos do presente, mas também queremos saber o vosso passado. Como se interessaram pelos sons mais pesados e quais foram os primeiros álbuns que ouviram?

Foi uma transição natural de ouvir outras coisas, não sabemos bem responder. Ficam aqui algumas das bandas que serviram como ponto de referência para irmos de encontro uns aos outros musicalmente:

Opeth, Scale the Summit, Between the Buried and Me, Cynic, Mastodon, Intronaut, Devin Townsend, Death, Extol.

 

10356315_769214939765633_6506839037980647873_n-2Que trabalhos de metal progressivo actuais e a nível mundial acompanham? Qual é a vossa opinião em relação à recepção que este estilo tem nos headbangers nacionais?

Não somos grandes fãs do panorama do metal progressivo atual, e ouvimos muito mais música fora do género, mas achamos bastante positiva a boa reação do público português a este mesmo, porque mesmo quando lançámos o álbum não faziamos ideia do que esperar, e tivemos uma excelente recepção dos headbangers nacionais e não só, maioritariamente por ser um trabalho algo diferente do que tem andado por aí, o que nos deixa, obviamente, bastante satisfeitos.

E com isto terminamos esta entrevista e da qual agradecemos novamente, esperando novidades em breve. Estas últimas linhas são vossas para deixarem umas palavras aos nossos leitores.

Obrigado mais uma vez, e estejam atentos à nossa página de Facebook, que as novidades estão para breve!

Visita o facebook e o bandcamp de Shell From Oceanic!


Círculo de Fogo

269901_125305980887139_6623290_n-2Círculo de Fogo, é um nome que já se encontra entranhado na história do movimento underground português. Com o primeiro aparecimento em 1995 através do programa de rádio, tem sido utilizado todos os meios para a divulgação da música que se faz no nosso país, sendo de destacar as e-compilações e do qual todos deverão visitar o bandcamp para efectuar o download deste material. Melhor dito, visitem tudo o que esteja relacionado com o Círculo de Fogo!

Mas não há nada melhor do que ter uma conversa com o mentor deste excelente trabalho, o Luís Filipe Neves.

Viva Luis! É com prazer que assistimos aos 20 anos do Círculo de Fogo, que começou pela divulgação do metal em 1995 através do programa de rádio com o mesmo nome, mas também passando após isso pela divulgação que fazes através da net e pelas e-compilações. Começando quase pelo fim qual a receita para este sucesso de 20 anos? De onde surge o nome Círculo de Fogo?

Saudações, Marco e leitores da Ode Lusitana!

No início, diz-se que é por “amor à camisola” ou “carolice”, mas talvez a divulgação de música seja uns dos meus karmas. Desde a infância que me sinto atraído pelas sonoridades mais rockadas e pesadas, as quais partilhava com os amigos mais chegados, alguns familiares e colegas de escola. Enquanto houver gente ativa, seja a compor, produzir, editar, organizar eventos, etc, que matéria-prima para divulgar não falta.

A primeira vez que vi círculos de fogo na grande tela foi no filme “Dracula de Bram Stoker“, porém o nome surgiu em leituras e transcende a música, até porque as variadas temáticas líricas abordadas no Metal incitam-nos para outras áreas de interesse.

O teu início está muito relacionado à rádio, com alguns programas antes do “Círculo de Fogo”, como o “Barreira de Som” e outro de Hard n’ Heavy. Como era trabalhar nestes programas? Como era realizada a preparação dos programas? Existia uma boa resposta por parte das pessoas da zona de Viseu?

O Barreira de Som foi um projeto apresentado em ’93 por mim e por Miguel Rodrigues [Sons Marginais, Red Line, Motaquarta]. A Rádio NoAr, no coração da cidade, abrigou o programa nas noites de segunda a sexta-feira (eu às terças), ao qual se juntaram Jorge Figueiredo [Metal NoAr, Metalurgia], Manuel Joaquim [Wroth Zine, Eclipse Metálico], Gonçalo Melo [banda Shiver, DJ no The Day After], entre outros realizadores, e abrangia do Hard Rock ao Death/Grind. Após a venda dessa emissora, em ’94 passei pela Rádio Viriato, onde dava airplay ao Hard n’ Heavy, no final das tardes. O Círculo de Fogo começou no Rádio Clube do Interior em 1995, até finais dos 90s. Rolavam os vinis, cassetes e CDs que tinha até então, adicionava à playlist outros discos de amigos que emprestavam e como não havia internet, consultava zines, newsletters, revistas e jornais para reciclar informação, bem como escrevia a músicos, editores, managers, promotores e media. Mantinha o hábito de sintonizar regularmente os programas underground das rádios piratas locais, bem como os radioshows de Metal, sendo o António Sérgio, Luís Filipe Barros e Gustavo Vidal algumas das minhas referências diretas. Por carta, por telefone no decorrer da emissão ou pessoalmente, havia quem se manifestasse, mas também é sabido que os programas de autor sempre suscitaram mais fidelidade por parte dos ouvintes, em relação aos generalistas.

11720044_10204705586826710_460654960_n-2Em 2003 passas a ter uma mais forte divulgação pela net através do site do Círculo de Fogo. Este trabalho ajudou-te na organização de todo o teu trabalho? Na minha opinião pelo menos ajudou-me a encontrar e informação facilmente e a saber onde tinha que procurar as novidades e os contactos! Como recolhias a informação? Tiveste a colaboração de algumas pessoas neste projecto?

O site em www.circulodefogo.inforzone.com foi criado no ano em que o Círculo de Fogo regressou à antena da Viriato FM e servia de apoio ao programa, principalmente a agenda de concertos, que era escrita, com alguns cartazes em anexo. Talvez seja a mais antiga agenda de Metal em Portugal, na internet. Cerca de 17 mil cartazes de espetáculos ao vivo encontram-se presentemente disponíveis para consulta em www.facebook.com/CirculoDeFogo.pt.

Apesar do Círculo de Fogo ser o meu alter ego na música, todos os que me contactam, por carta, e-mail ou Facebook são colaboradores neste projeto.

Desde 2007 editas as e-compilações, que são um excelente trabalho de compilação e divulgação do metal português. Como funciona o processo de criação destas compilações? Uma coisa que acho fantástica são as capas e os nomes atribuídos a cada compilação. Como surgem na tua ideia? Depois de 4 anos surge a compilação número 10 (“Regeneração”). Quando teremos as próximas?

Desde a primeira emissão do Círculo de Fogo que há espaço para a produção nacional; nos últimos anos do programa, a primeira edição de cada mês era preenchida integralmente pelas sonoridades lusas, fosse Metal, Rock, Punk, Hardcore, Gótico ou Progressivo. A primeira compilação foi editada um mês depois do programa de rádio acabar e é uma continuidade na difusão da diversificada música portuguesa.

10897819_10203496475799690_6389228319717696903_nAs capas são da autoria do pintor gestual Pedro Albuquerque (www.facebook.com/AlbuQpedroalbuquerque), natural de Viseu, o qual se destaca igualmente na escultura, heráldica e pergaminhos. Entre outras estórias, menciono a ilustração da compilação #1 que é um excerto de um trabalho, posteriormente reconhecido internacionalmente, o qual se encontra desde 2009 num museu em New York – “capital do mundo”. Quando a #10 “Regeneração” foi idealizada, o objetivo seria incluir maioritariamente bandas jovens na cena, independentemente do background dos músicos, sendo o baterista Tiago dos Sangue Lusitano o mais novo a participar, com 13 anos.

A #11 será editada a 21 de setembro do corrente ano, intitular-se-á “Viseu” e incluirá bandas e solistas naturais e/ou residentes no distrito de Viseu, nos universos do Metal n’ Rock. Sendo alojada em www.circulodefogo.bandcamp.com, será uma coletânea digital em aberto, com possibilidade de serem adicionados outros grupos. É feita a pensar no legado musical viseense, desconhecido de muita gente, mesmo entre conterrâneos, é elaborada para apoiar os músicos no/do presente e deixa a porta aberta para futuros projetos musicais que surjam na região. Incluirá biografias redigidas em português.

O Círculo de Fogo tem passado estes 20 anos pelos altos e baixos da nossa cena underground nacional. Como tens visto a situação nestes anos todos? O aparecimento das novas tecnologias tem dado um maior facilitismo de divulgação às bandas, diminuindo o número de pessoas que se dedicam à divulgação através de webzines, fanzines? Qual o caminho que está a seguir o nosso metal?

Quando a internet, como é conhecida, não existia ou ainda era uma miragem, as bandas e editoras recorriam aos meios de divulgação para dar a conhecer o seu trabalho. As novas tecnologias impulsionaram a auto-promoção, graças ao aparecimento dos sites, depois impôs-se o MySpace e, mais recentemente, o Facebook, não obstante continua a haver mass media no suporte. Baseando-me, por exemplo, em cartazes de eventos que vou publicando, têm surgido imensas bandas ultimamente; nunca deixou de haver promotores e palcos de norte a sul do país, e verifico que há cada vez mais seguidores e interessados em acompanhar o nosso underground. O “Boom” do Metal nacional ocorreu em meados dos 90s, com algumas bandas a criar um movimento pós-“The Birth of a Tragedy“, não obstante atualmente temos muitas centenas de bandas no ativo, para todos os gostos e feitios, muitas delas em nada ficam atrás das congéneres estrangeiras.

Os estudos científicos comprovam que a aprendizagem de um instrumento musical estimula o cérebro, a coordenação motora, a sociabilidade, entre outros benefícios. Nos dias que correm, uma guitarra clássica de iniciação fica mais ou menos pelo preço de um jogo PlayStation, além da formação musical que está mais acessível, seja em escolas públicas e privadas de música, na catequese, na internet,… Fico curioso pelo próximo caminho do Metal. Música é arte e cultura!”

E assim terminamos esta entrevista. Muito obrigado por tudo! O Círculo de Fogo faz um excelente trabalho na divulgação do metal nacional e esse é um dos seus principais objectivos. Podes deixar umas últimas palavras para encerrar esta entrevista.

– Apoiem, motivem e incentivem os músicos e todos aqueles que dão o seu contributo na cena musical portuguesa, enquanto cá andam. Depois de encerrarem atividades, de pouco adianta lamentar o seu fim.

Obrigado, Marco e muita força para a Ode Lusitana!

Depois desta entrevista e neste dia especial de 21 de setembro surge a compilação Nº 11 dedicada a Viseu com vários artistas naturais e/ou residentes no Distrito de Viseu. Faz o download desta e de outras compilações em Círculo de Fogo bandcamp.

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Dead Silent

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Dead Silent, banda do Funchal, teve as suas origens no início de 2006, após alguns dos elementos terem cessado com o anterior projecto de nome Blue Sound Traffic. Todos os elementos são conhecedores e participam no meio underground da Madeira e lançam em 2007 o EP de 3 temas. Em 2014 é divulgado o single “Disarray” que faz parte do trabalho a lançar em breve e de nome “The Island”. Banda composta pelo Dário Abreu (voz/baixo), Saúl Caires (guitarra), Eurico Santos (guitarra) e Jorgeu Abreu (bateria).

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Estivemos à conversa com o Dário e que nos apresenta o mundo dos Dead Silent.

Viva Dário e bem-vindo à Ode Lusitana! Para começar, ainda te lembras como começou este teu interesse pelo metal? Tinhas um grupo de amigos que se reunia para ouvir as novidades? Ouvias de tudo um pouco, ou já tinhas interesse por uma sonoridade mais específica?

Boas! E desde já obrigado por esta entrevista. Basicamente acho que já nasci Metalhead e não sabia, depois quando o meu irmão pôs as mãos numa K7 de AC/DC foi sempre a abrir, Dio, Black Sabbath, Dokken, W.A.S.P., Iron Maiden, Venom, Death, Overkill, gravávamos tudo o que apanhávamos, fossem as cenas que o pessoal arranjava (que se tornavam uma espécie de propriedade da comunidade) ou do programa de Rádio da altura aqui na ilha (Dança do Fogo). comprávamos discos e K7s com o pouco dinheiro que houvesse. Lembro-me por exemplo de trocar K7s e encomendar com o pessoal as cenas, nomeadamente os Cd’s e t-shirts do catálogo, na altura uma fotocopia mal tirada a verde e preto, da hoje enorme Nuclear Blast.

Sempre ouvi dentro do METAL de tudo um pouco e hoje em dia do hard Rock mais lamechas ao noisecore mais barulhento do mais antigo ao mais moderno vou ouvindo de tudo um pouco.

11072199_881419651900811_9027145652901562166_nQuando é que deixas de ser um ouvinte e passas a um executante? Era um interesse que já tinhas dento de ti? Ainda te lembras do teu primeiro instrumento?

Nem sei se posso ser considerado executante, nem me considero um músico. Sou apenas um gajo que gosta de METAL e se diverte a fazer umas coisas sem se preocupar muito com o que os outros possam pensar, pois se for esse o objectivo nº1 nem vale a pena ser feito pois com certeza que hás-de falhar…. ahhaha….

Foi um interesse que nasceu pois senti que era algo exequível. O Metal tem, ou pelo menos tinha, essa vantagem. Não havia aquela pressão para seres fantástico, apenas tinhas que ser duro e convicto pra seres respeitado, e alem de ser uma forma de expressão era também uma forma de convivência. No fundo penso que todo o gajo que um dia fez air guitar já pensou em formar uma banda…uns cometem a loucura de o fazer… de qualquer modo hoje em dia já anda aí um monte de gajos que pensam que ou és tecnicista ou não és ninguém eu como não sou ninguém tenho que rebater esse argumento … de qualquer forma anda aí muita cena tecnicista que eu aprecio e muito.

O meu primeiro instrumento foram umas violas acústicas do meu pai com a qual, eu e o meu irmão, o Jorge (baterista da banda), interpretávamos algo parecido a speed fado ou fado metal, o que, e tendo em conta que o meu irmão tocava bateria nas almofadas, até era bastante chique, a 1ª guitarra a serio foi uma Mason emprestada e depois gastei um salário na aquisição da Ibanez, com a qual tenho uma relação que dura até hoje. Por curiosidade o baixo que uso neste momento é também é um Ibanez.

Passas por várias bandas, como Reincarnation, Insania, Outerskin. Que lembranças guardas?

Lembranças? acima de tudo andar com material ás costas que esta gente não sabe viver ao pé da estrada…ahha. Depois os concertos são sempre uma experiência á parte ainda que por cá não existam muitos, mas os que há são memoráveis pelas melhores ou piores razões. Lembro-me por exemplo, com Outerskin, no Caniçal de um palco suspenso a uns 3 metros de altura, em andaimes que balançava muito e quando pisei terra firme as pernas começaram a tremer… ahahha. ….

Em dezembro de 2007 entras para os Dead Silent como baixista. Como surgiu essa oportunidade? Já conhecias o pessoal de outras andanças?

Os Dead Silent? Sim já nos conhecíamos há muito, até porque eu já tinha tocado com o Eurico na fase final de Insania e o meu Irmão e o Saúl eram dos Drawned in Tears e já nos conhecíamos até dos tempos em que faltávamos, pontualmente, ás aulas e em que o pessoal ainda temia “os metálicos”. Alem disso ensaiavam na minha casa, e apesar de eu estar nessa altura em Outerskin, os dias de ensaio não eram coincidentes, e precisavam de um baixista, a mim alem de me agradar o som e o pessoal, parecia-me melhor me juntar a eles do que ficar a ouvir o barulho …ehheh…

E surge também a oportunidade de seres vocalista! Como está a ser a experiência?11121784_890560067653436_7961361888241017894_n

.. pois, posso dizer que definitivamente nem estava nos planos, até porque já tinha tido a experiência em Insania e tinha decidido que o meu futuro não passaria por mais que algumas back vocals ocasionais … Mas perante o facto de termos chegado a um ponto em que tínhamos tudo gravado e não havia voz, achámos que era uma solução exequível, e entre todos lá reconstruimos a parte lírica e vocal dos temas o que nos levou mais uma carrada de tempo mas valeu a pena porque entre todos conseguimos resolver bem a questão (O Jorge e o Eurico também fizeram vozes)… A experiencia tem sido interessante, mas o facto é que estou na fase em que estou começando a juntar as duas funções, e se calhar até não me importava de ceder uma dessas posições de forma a poder desfrutar ao máximo e também ganhar alguma eficiência.

Dead Silent tornam-se uma banda que todos sentem curiosidade em ouvir, especialmente depois de lançarem o single “Disarray” e já no mês de Maio deste ano disponibilizam o tema “The Island”. Mas para quando a edição do álbum “The Island”?

A edição do álbum será o mais brevemente possível, mas seja pela nossa auto-exigência pessoal , ou por outros factores isto tudo tem levado algum tempo, depois de termos lançado o tema titulo, já era até pra estar disponível no Bandcamp, mas depois surgiram outras possibilidades que estão em estudo. E, por essa falha nos timings peço desde já desculpa a todos, sendo que seja em que formato for esperamos ter a cena cá fora o mais brevemente possível para quem quiser ouvir. Posso vos garantir que é um verdadeiro trabalho de equipa, honesto e dedicado feito por quatro gajos de trinta e tal anos pelo simples amor ao Rock e METAL, uma vez que não fazemos planos de ficar ricos com isto…

1455931_948959628480146_800532496942067744_nO que representa esta ilha?

A ilha no fundo pode ser qualquer coisa… desde a nossa realidade diária como banda, de certa forma enclausurada numa Ilha, ou aquela do “nenhum homem é uma ilha” sendo que nessa versão eu até penso que ver o Homem como a própria ilha até tem um peso dramático que me agrada.

Com este tempo de espera já tem ideias para o próximo álbum?

De momento ainda não chegámos a essa fase de pensar no futuro, até porque entre as responsabilidades e horários laborais de cada um temos que fazer as coisas devagar e com os pés bem assentes no chão, por exemplo se nos encontramos para decidir qualquer coisa por vezes já não dá pra ensaiar. O próprio álbum foi gravado, e misturado, em horário de ensaio, e é assim que vamos passando as quartas e sábados sempre que possível, e infelizmente nem sempre é possível…

A insularidade da Madeira tem prós e contras. O confinamento do território pode levar a uma cena unida, mas ao mesmo tempo pode trazer dificuldades na divulgação, especialmente fora da ilha. O que achas desta situação?    

Quanto a isso da ilha ser limitativa acho que depende de como lidas com o assunto, podes ficar num canto a chorar ou podes lidar com isso ou até, se a ilha te limita tanto, podes criar um par de tomates e nadar ou voar daqui pra fora…

Como está a cena metaleira na Madeira?

A cena diria que está como sempre, a diferença é que agora começam mais novos e se calhar de certa forma tocam melhor.

Aqui no continente tem havido uma forte divulgação a nível de bandas e eventos. As bandas daí conseguem apresentar publicamente os seus trabalhos?

Há fases em que há muitos concertos e depois fases mais calmas como agora, ainda assim as bandas vão fazendo o que têm a fazer sem pensar se dão muitos ou poucos concertos e temos assistido a bons trabalhos de bandas novas e velhas como os Exercium, Calamity Islet, Karnak Seti, Requiem Laus, Raiva e por aí a fora …

Há tempos estive no Funchal na Zona Velha, quando passa por mim um miúdo, com uma t-shirt dos Slayer e guitarra ao ombro, que me deixou com um sorriso de orelha a orelha, porque é sinal que o movimento não está morto. Que concelhos darias a este pessoal que quer começar com uma banda?

Ao pessoal que quer começar diria que devem faze-lo por amor á camisola e não para obter reconhecimento fácil pois assim estarão sempre frustrados. Diria também que o contrário do que muitos pensam o METAL não garante miúdas, dinheiro, fama ou fortuna a ninguém até pelo contrário gasta-se imenso dinheiro e tempo, mas pelo menos volta e meia lá ficamos com a miúda… ahhaha…

11080453_881419091900867_2566967762218703770_oO que falta para a Madeira voltar a ter um ambiente forte a nível do Metal?

Não sei se a Madeira alguma vez vai ser muito forte a nível de metal…mas também penso que a cena não vai morrer, já não temos os Incognita ou os Drawned in Tears, mas ainda temos uma porrada de gente nova e velha a fazer Rock e METAL mesmo que no anonimato. Também era bom conseguir mais intercâmbio de bandas nos vários sentidos, sejam bandas exteriores a vir cá tocar ou pessoal de cá a ir e voltar.

E assim chegamos ao fim da entrevista e queria agradecer-te pelo tempo dispendido em responder às questões. Vamos continuar atentos aos Dead Silent e para finalizar podes deixar umas palavras aos nossos leitores.  

Desde já obrigado a todos pela atenção, e espero que gostem do nosso trabalho, ou que pelo menos o oiçam para poderem dizer mal com conhecimento de causa… hahaha…. Agora a sério, acima de tudo desfrutem da cena e continuem a ouvir bom METAL seja de bandas gigantes ou quase desconhecidas que a cena precisa de todos. ROCK ON!

Segue, ouve e adquire o último trabalho trabalho dos Dead Silent no seu bandcamp Dead Silent!


Humanart

574450_418562381505301_1117754563_nHumanart, banda proveniente de Santo Tirso, edita o seu primeiro trabalho, a demo “Fossil” a 15 anos atrás. Praticantes de uma sonoridade black metal bastante convincente editam em 2014 o seu primeiro longa duração “Lightbringer” que os marca como uma das bandas mais interessantes dentro do panorama nacional. Formados pelo Sathronus (voz), JJ e Fareal (guitarras), Ram (baixo) e Izmit (bateria).

Foi com o guitarrista e mentor JJ que estivemos à conversa.

 

Viva JJ! Os Humanart formaram-se em setembro de 1998 em Santo Tirso, mas conta-nos um pouco de como chegaste a este projecto, num concelho onde rareavam os adeptos desta sonoridade. Como foi a tua evolução como ouvinte até chegar a este género? O black metal português da altura já te despertava também alguma curiosidade?

Boa noite Marco e leitores em geral, o que posso dizer é que nessa altura já eu ouvia metal à uma boa meia dúzia de anos e tinha tido uma banda de garagem quando soube de um grupo de amigos mais novos e sem experiência estavam com a mesma ideia que eu vinha a amadurecer desde à tempos, a de formar uma banda do meu estilo de metal favorito, o Black metal. Assim, com essa primeira formação gravamos o MCD “Fossil” (2000) que teve bastante aceitação no underground nacional e em algumas publicações estrangeiras pois fomos reconhecidos pela qualidade e originalidade num meio ainda pouco explorado e onde reinava a semelhança entre projectos.

Captura de ecrã 2015-09-1, às 20.14.47Os Humanart durante algum tempo foram um projecto apenas teu devido às várias mudanças na formação, mas com a entrada de novos elementos, evoluiram a nível sonoro. Como é o vosso processo de criação de novos temas? Os concertos ao vivo são sempre o vosso meio predilecto de transmitir o vosso som?

A substituição de elementos foi acentuada durante estes 16 anos de banda, eu resumo este percurso em três grandes formações: a que gravou o “Fossil”, a que gravou o “Hymn Obscura” e a actual que gravou a Tape “X Years of Black Crusade” e o álbum “Lightbringer” que estamos a promover. O som foi evoluindo assim como acontece com os gostos pessoais, o que começou com uma guitarra/teclas passou a duas guitarras assim que o Black metal com apontamentos sinfónicos deixou de fazer sentido para nós.

Por norma eu esboço o esqueleto de uma nova música em que depois todo o pessoal trabalha até se atingir resultados que nos satisfaçam, e sim, somos uma banda que adora tocar ao vivo com toda a interacção que isso possibilita. 

Numa entrevista tua dizes que o “black metal é música carregada de raiva, inconformismo e reflexão, associados ao lado obscuro do Ser Humano”. Consegues explicar este lado obscuro do Homem e de tudo o que o rodeia? Os vossos temas giram à volta deste conceito? Que achas desta vaga actual de bandas post-black metal que vão aparecendo lá por fora? Pode ser polémico, mas estas bandas estão a desvirtuar o estilo?

O lado obscuro é toda aquela parte do ser que se encontra aprisionada pelos dogmas embebidos na sociedade actual principalmente através da religião organizada, gostamos de explorar os limites mesmo que para isso tenhamos de fugir ao politicamente correcto.

Não ouço nada dessa coisa do Post-bm nem acho que se enquadrem no mesmo universo ao qual sou fiel à duas décadas, simplesmente ignoro.

11072532_1037299142964952_4483586767220727822_nLightbringer” o vosso primeiro longa duração editado em 2014, foi um dos melhores registos portugueses do ano. Ao final deste tempo como olhas para o álbum? Os temas encaixaram bem, mesmo alguns deles já terem sido escritos a algum tempo? Vamos esperar mais tempo por um novo álbum?

Com este álbum tem acontecido algo que é inédito, após vários meses dou comigo a ouvi-lo regularmente e com imenso prazer sem sentir aquela necessidade de me afastar um pouco do material como é comum, adoro ouvi-lo e toca-lo, os temas fluem bastante bem já que a organização dos mesmos foi pensada com um fio condutor e uma coerência que não sendo conceptual é completamente intencional.

O sucesso deste trabalho só não teve para já mais eco no nosso país porque “forças estranhas” tentaram abafa-lo e denegri-lo mas estamos satisfeitos com as excelentes críticas que nos chegam dos media estrangeiros, alguns nacionais e muitos fãs de todo o lado aos quais agradecemos todo o apoio no meio desta podridão, podem continuar a contar com as nossas denúncias e exposições de situações incorrectas pois não devemos nada a ninguém nem temos qualquer tipo de contemplação com meia dúzia de imberbes que minam a cena toda.

Quanto a novo álbum ainda é bastante cedo para falar nisso pois vamos estar na estrada com “Lightbringer” por mais um ano pelo menos. Estamos a compor novo material mas que vai permanecer na obscuridade nos próximos tempos.

 Ainda tens a noção que o underground português podia estar mais unido? É de realçar a enorme quantidade de bandas que existem actualmente e os vários sítios que existem para concertos, mesmo assim o que podíamos melhorar ainda mais? Os meios de divulgação (facebook, programas de rádio, webzines, fanzines) tem contribuído para o crescimento da nossa cena?

Tenho e cada vez mais, o underground nacional está disperso e desestruturado pelos factores que mencionei anteriormente e mais alguns, e nem me vou por com saudosismos do tempo das zines de papel (que vou matar agora!!!) e grandes eventos a que todos acorriam em massa pelo prazer de apoiar o underground, as coisas mudam e há que tentarmo-nos adaptar mas a desilusão passa por outros factores, dou-vos o exemplo do ridículo de não nos convidarem para a participação em determinados festivais pois não nos viram nas últimas edições dos mesmos no público (quando já comparecemos a inúmeras edições de alguns e mesmo que não o tivéssemos feito qual era o problema???), é disto que se faz o nosso underground, ter de levar com isto além de tocar de borla ou quase. Ou toda a gente saber que há publicações que só publicitam e dão relevo às bandas dos amiguinhos e aos estilos post-qualquererva que ouvem dizendo-se generalistas e isentos como os jornalistas de verdade. A nossa cena resume-se a duas ou três dezenas de boas bandas, meia dúzia de promotores sérios e umas tantas publicações de net e rádios, só.

 Obrigado JJ pela tua participação e desejamos também que os Humanart sigam no bom caminho. Algumas palavras finais.

O nosso obrigado e parabéns à Ode Lusitana pelo seu arranque promissor! Os agradecimentos extendem-se a todos os leitores que de uma maneira ou de outra apoiam o metal nacional.

Visita o bandcamp dos Humanart em Humanart Bandcamp


Firecum Records

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A Firecum Records tem como porta estandarte a divulgação/distribuição de demos clássicas do underground português. Criados este ano, já editaram trabalhos dos Deification, Downthroat e Firstborn Evil. Ficamos um pouco à conversa com o Vasco Reigota e o Peter Junker.

 

Viva pessoal! É um prazer ter-vos neste número da Ode Lusitana e para começar nada melhor de perguntar-vos se vocês ainda se lembram como é que ambos se conheceram?

Peter: Honestamente já não me recordo bem mas penso que começou por termos alguns amigos em comum naquele eixo Aveiro/Ílhavo em torno do heavy metal que ligava o pessoal naquela altura, mas começamos a conviver mais frequentemente após o Vasco organizar o primeiro festival de heavy metal de Ílhavo no qual eu participei com os Booby Trap.
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O movimento na década de 90 em Aveiro/Ílhavo e arredores era bastante forte, com muita coisa a acontecer a todos os níveis. Foi uma época excelente para o metal na região? O parricídio feito pelo Tó Jó (Agonizing Terror) em 1999, abalou fortemente a cena local?

Vasco: Os anos noventa foram produtivos na nossa zona, é um facto! Como sou de Ílhavo começo por cá. Em Ílhavo nunca houve muita gente a fazer alguma coisa. Eu tive alguns projectos, A Prophetical Fanzine, a Lustful Records, etc…. Nessa altura, adolescente e sem dinheiro nenhum, organizei dois concertos onde actuaram bandas como Moonspell, Xharathorn, Disgorged… actualmente Heavenhood, Malevolence, Deification… a minha banda, Agonizing Terror, e os Booby Trap do Peter Junker entre outras. Tirando isso, existiu uma newsletter e uma distro do amigo Adão Jr… a Mishantropic; da qual também fiz parte. Além disso tivemos a Adrenaline Prod do amigo Francis Cole, que embora mais virada para o gótico, também organizou eventos com bandas de Metal. O pessoal dos Agonizing Terror tambem cá trouxe bandas como Grog, Shiver, Aberration e Autopsia. Actualmente só o Blindagem organiza aqui alguma coisa. E claro… temos o Vagos Open Air aqui ao lado. Sobre o parricídio não vou comentar, apenas posso dizer que os tempos seguintes não foram nada fáceis aqui em Ílhavo. A cena em Ílhavo acabou.
Peter: Em Aveiro também não foi muito diferente, recordo saudosamente os anos 90 em que havia praticamente uma banda a ensaiar em cada esquina, infelizmente essa força morreu com a entrada no novo milénio, mesmo os poucos espaços que ainda realizavam concertos acabaram por fechar, hoje não temos um espaço em Aveiro dedicado exclusivamente às sonoridades mais pesadas, quase não há lugar onde possamos realizar um concerto, mas em contrapartida as bandas estão cada vez a aparecer mais e mais fortes, não só as da velha guarda mas também esta nova geração de miúdos que sabem bem o que querem… espero que pelo menos nesse aspecto, assim continue….

11930744_895658773848172_5676918175503871630_oCom a passagem dos anos o movimento voltou a dar sinais de vida e ultimamente aparece a Firecum Records. Qual a ideia por trás deste vosso projecto?

Peter: Era uma ideia que eu já andava a magicar há um bocado na minha cabeça mas por falta de tempo, apoio e alguém para partilhar esta aventura comigo, nunca passou do papel, entretanto calhou em conversa com o Vasco em como ele gostava de reeditar a demo da sua antiga banda, Deification com alguns melhoramentos ao nível de som e num formato mais actual do que a velhinha e original cassete, a partir dai as coisas aconteceram em catadupa; tratar de remasterização, do artwork, de definirmos o que seria a imagem de marca da editora e em menos de um mês tínhamos o CUM001 na rua….
Certo é que a Firecum Records foi criada com o intuito de disponibilizar em formato CD demos clássicas do underground nacional, se possível remasterizadas e com temas extras inéditos que possam enriquecer a edição original mas também é verdade que ambicionamos, mais cedo ou mais tarde dar o passo seguinte que passa por editar novas bandas…

Sei que as próximas edições estão no segredo dos deuses, mas já entraram em contacto com mais alguém? Como é que as pessoas reagem aos vossos contactos? Qual a recepção que está a haver por parte do público?                                

Vasco: Nem os Deuses sabem de nada! Sim, claro que foram feitos contactos. A Firecum é um tributo ao underground nacional como vocês podem comprovar com os nossos lançamentos. Gostamos de dizer que trazemos recordações ao pessoal mais antigo e novidades antigas aos mais novos. Trabalhamos com bandas que achamos que merecem ser trazidas á tona por diversos e variados motivos. A reação das bandas convidadas têm sido simplesmente espectacular! Trata-se de pessoal old school, com o Metal no coração. Nós não temos lucros que nos possibilitem recompensar dignamente as bandas mas até agora nunca houve problemas com isso e as bandas aceitam o convide com agrado e orgulho. Orgulho do qual partilhamos! A reacção do público tem sido bastante boa! Temos já pessoal a colecionar as nossas edições o que demonstra interesse. Deification já esgotou e Downthroat e Firstborn Evil vão a caminho.

1538897_808496219231095_4954423206778396439_nQual a vossa opinião acerca do panorama em Portugal, desde as bandas até ao público e passando por toda a máquina que envolve o meio?

Vasco: O que dizer? Temos bandas espectaculares, concertos e festivais aos pontapés. Bandas a editar trabalhos regularmente. Temos algum reconhecimento internacional. Era isto que queríamos quando éramos putos há 25 anos atrás! Temos variedade e qualidade de escolha, não há desculpas para queixumes. O público está lá sempre que possível, somos um pais pequeno não se esqueçam disso porque é isso que nos torna grandes!

Últimas palavras para os leitores da Ode Lusitana.

Vasco: Obrigado por todo o apoio que nos têm dado. Esperamos estar cá muito tempo com todos vocês do nosso lado. Obrigado Marco pelo apoio e que faças e bom trabalho com a Ode Lusitana e que ela perdure. Muito obrigado e respeito a todos!
Peter: É importante que projetos como a Firecum e a tua Ode Lusitana continuem a alimentar o underground, é isto que distingue o heavy metal de todos os outros géneros, a dedicação a este género musical tão único e apaixonante…go and spread the word…
WE CUM FOR YOU ALL!!!

Ouve aqui alguns dos lançamentos da Firecum Records: Soundcloud Firecum Records


Festering

10947309_715542855231427_6760100345906927088_nFestering, banda de death metal formada em 1992 em Santo António dos Cavaleiros, entra num interregno pouco após a formação, voltando em 2012 com dois trabalhos. A demo “From the Grave” e o EP “Exhumed”. Actualmente de volta de um novo registo falamos com o Koja Fernandes, uma autêntica ‘instituição’ do metal português.

 

Viva Koja! Ao pesquisar acerca dos Festering e de rever as bandas das quais já foste elemento, pergunto se ainda te lembras de como é que começaste a ouvir metal? E como é que passas a ser um intérprete musical?

Então vamos por partes. Primeiro comecei a ouvir metal, só depois me tornei “músico” de metal. Tive o primeiro contacto com a música pesada em meados dos anos 80, 1984/1985, por aí, e, foi através de um facto curioso. Um dia vinha da escola e encontrei uma cassete na rua, no chão e levei-a para casa. Essa cassete tinha várias músicas gravadas de algumas bandas, que na altura não fazia ideia quem eram, mas as quais mais tarde vim a descobrir. Bandas como Helix, Saxon, Iron Maiden, Motorhead, etc. Até à altura não tinha grande interesse por música, nem sequer tinha aparelhagem sonora para a ouvir. O que se ouvia em casa era a televisão e sobretudo rádio, através do meu pai, que tinha sempre uma “telefonia” ligada lá em casa. Não tinha aparelhagem, mas tinha um daqueles pequenos gravadores, usados para carregar os jogos de computador no saudoso ZX Spectrum 46K. O famoso gravador de cassetes da marca “Computone”. Quando pus a cassete nesse mítico gravador e comecei a ouvir aquilo, a minha vida mudou completamente. Até ali o que me interessava de música era Bryan Adams, Scorpions e alguma música que se ouvia nos anos 80, mas não tinha nada deles, cassetes ou discos. A partir daí começou a minha busca incessante por bandas de metal, comprei um gravador como deve ser (com colunas e tudo… lol…) e comecei a ouvir bandas mais pesadas como Metallica, Slayer e assim. Uma das coisas que me ajudou muito na minha entrada na música pesada, foi uma estação de televisão pirata, que surgiu nos anos 80, penso que se chamava TRL (Televisão Regional de Loures), nesse canal pirata, para além de filmes, existia um programa de Heavy Metal. Foi aí onde tive um contacto mais profundo com o mundo do Heavy Metal, através dos videoclipes que emitiam. Depois surgiram os programas de rádio, “O Mensageiro do Massacre” na Rádio Voz de Almada, o “Lança-chamas”, etc. Quando dei por mim, já pertencia à tribo dos metaleiros, onde criei amizades com vários nativos da mesma etnia.

Promo-Picture-3O tornar-me músico, veio por acréscimo. Através das amizades que criei com os meus companheiros de juventude e infância, amizades que ainda se mantêm. Conheci um pessoal nas aulas de Karaté, que frequentava nessa altura, todos de Santo António dos Cavaleiros, então no meio desse grupo de amigos surgiu a ideia de formar uma banda de Heavy Metal. Através de violas acústicas, almofadas, bancos, panelas e tampas de tachos, para se fazer uma bateria, começámos essa aventura. Depois começámos a alugar um estúdio de ensaios em Lisboa, segundo me recordo, na Rua Morais Soares. Era aí onde fazíamos o barulho mais a sério e onde os Guilhotina (o primeiro nome da banda) começaram a compor e a tocar as primeiras músicas, numa vertente mais Punk/Hard Core. Mais tardes, através das mesadas, prendas de aniversários e natais, surgiram os primeiros instrumentos. Por volta de 1989/90 a banda passou a denominar-se Extreme Unction, inicialmente com uma sonoridade mais Thrash e mais tarde Death Metal. Os ensaios passaram a alternar entre as nossas casas, a Associação de Moradores de Santo António dos Cavaleiros e um estúdio na Povoa de Santo Adrião.

Os Festering são formados em 1992 e junto com o vosso outro projecto, os Morbid Symphony editam um split. Isto tudo ao mesmo tempo que através dos Extreme Unction também editavam material. Na altura o que representava os Festering para vocês? Os Extreme Unction tiveram um papel importante nos Festering?

Extreme Unction era a nossa/minha banda, era através dela que ambicionamos viver da/para a música. Os Morbid Symphony e os Festering, bem como os Necro Terror, Benevolence ou Gritos Oleosos, eram projetos paralelos que eu tinha com alguns elementos dos E.U., ou com outro pessoal. Esses projetos reuniam outro tipo de influências musicais que não tinham espaço nos Extreme Unction. Nessa altura havia tempo para tudo, só estudávamos e tocávamos música. Sempre que surgia alguém com uma ideia para uma sonoridade diferente da banda principal, criávamos um projeto e gravávamos alguma coisa nos nossos locais de ensaio, através dos nossos meios. Os Extreme Unction eram a banda principal, para a qual investíamos o nosso dinheiro, com a qual dávamos concertos. Os Extreme Unction foram importantes para os restantes projetos, devido aos músicos que se envolviam nesses mesmos projetos e as influências diversificadas que traziam para eles.

Em 2012 apresentam a demo “From the Grave” e pouco depois editam o portentoso EP “Exhumed”. O que acharam da recepção do público a estas duas edições que servem de regresso aos Festering?

Penso que a receção foi positiva, pelas opiniões recolhidas, acho que as pessoas gostaram do trabalho. Nomeadamente da Demo-tape, pois o EP teve uma edição muito limitada, daí não dispormos de um termo de comparação. Mas penso que, duma maneira geral fomos bem recebidos, pelo que podemos aferir através do rápido escoamento do material em venda.

a3327162198_10Passados estes anos já tem prevista a edição do longa duração para breve? Como decorreram as gravações? Quais as temáticas que abordam?

Neste momento estamos em gravações de 10 novos temas, para uma possível edição, caso surjam interessados em lançar o álbum. Estas novas músicas abordam temas mais violentos, numa vertente mais “gore”, desde guerras étnicas e religiosas, genocídios históricos, a temas mais surreais ligados ao terror, ao imaginário zombie e dos velhos filmes de humor e horror como: “The Texas Chain Saw Massacre”; “Bad Taste”. Musicalmente, a sonoridade dos novos temas aproxima-se mais do Gore/Grind (Napalm Death, Carcass), embora se mantenham as influências Death Metal (Entombed, Death, Bolt Thrower, Obituary).

Está previsto também, não sei se ainda para este ano, o lançamento em CD dos dois trabalhos de 2012 (Demo + EP). Edição conjunta da Sinais produções, War Prod e Caverna Abismal.

Ao longo destes anos dentro do meio qual é a tua opinião acerca do metal feito em Portugal? As coisas estão melhores? O death metal ainda respira por cá?

Penso que duma maneira geral o Death Metal em Portugal tem subido de nível, tem acompanhado os tempos e a décalage que existia entre o que se fazia lá fora e o que se fazia em Portugal esbateu-se. Temos bandas com qualidade equiparada ao que se faz nos outros países. Penso que isso é transversal aos outros estilos de Metal. Temos excelentes bandas a lançar bons trabalhos, desde o mais pesado e extremo ao mais melódico e tradicional, como é o caso dos últimos trabalhos de Neoplasmah, Filli Nigrantium Infernalium, Ravesire, Perpetrator… existem boas bandas dentro do Death/Grind, das quais aprecio e que estão bastante ativas em Portugal, Undersave, Dementia 13, Serrabulho, Holocausto Canibal, Grog, Serrabulho, Dawn of Ruins.

Há vinte e tal anos atrás, tal como hoje, havia boas bandas. Não havia as mesmas condições logísticas, tecnológicas e técnicas, nem os músicos eram tão dotados, embora existissem alguns bons executantes. Não havia tantas condições, mas existiam músicos talentosos, criativos e com grande vontade, e, havia todo um admirável mundo novo por explorar. Pois hoje em dia, porventura, estará tudo inventado, qualquer banda que surja não deverá ter pretensões à originalidade, pois a sua música terá sempre uma base em algo já feito. Não digo que as bandas não possam ter a sua sonoridade própria, algo que os distinga dos demais, mas originalidade e inovação não me parece muito provável. A prova disso é a onda de revivalismos que ciclicamente vai surgindo em todos os quadrantes da música.

Hoje em dia existem melhores instrumentos, tecnologia altamente evoluída, mais, maior e melhor acesso ao conhecimento musical. Quer à divulgação do nosso trabalho, quer ao estudo e execução da própria música. Escolas, professores, literatura, vídeos na internet, enfim… uma panóplia de fontes de informação nos mais diversos formatos. Mas isso melhora a sonoridade da música, a qualidade técnica ajuda muito, mas se não houver criativos, bons compositores, a música não chega às pessoas, o público não se revê no que ouve. Um bom executante, com bons instrumentos e bons recursos financeiros e logísticos, não será obrigatoriamente um bom compositor. E o Death, Heavy, Power, Speed, Grind…como o jazz, blues ou a música clássica, é uma forma de arte, e os músicos são os artistas. Sendo assim, não basta haver bons executantes, é preciso a genialidade dos músicos para marcar a diferença entre o que é som e o que é música. Mas claro está… os verdadeiros juízes são o público, os ouvintes, neste caso os metaleiros.

É tudo e muito obrigado por esta colaboração. E já agora uma última palavra para os leitores.

Espero que apoiem o metal nacional e as bandas que, com grande esforço, mantêm Portugal no mapa da música pesada. Muitas vezes as bandas parece que precisam alcançar o respeito internacional, para receber o devido mérito no nosso país. Consumam o material das bandas nacionais, apareçam nos seus concertos e divulguem o nosso trabalho pelos vossos locais de socialização, físicos ou virtuais.

\m/ .. .Death Metal…The Brutal Way!!!… \m/

Para adquirir o novo trabalho “From the Grave” (2015) verifica aqui: Caverna Abismal Records