Divulgação do metal português

Basalto

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   Basalto, banda de Viseu fundada em Fevereiro de 2015 praticam uma mistura de stoner / doom / metal, onde no meio deste caldeirão de influências proporcionam-nos uma viagem fantástica transmitida pelas sonoridades que podemos ouvir no primeiro trabalho divulgado em Abril deste ano.

   Banda constituída por António Baptista (guitarra), Nuno Mendonça (baixo) e João Lugatte (bateria), foi com o Nuno que partimos à descoberta de uma das revelações deste ano no nosso panorama nacional.

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Viva Nuno! Muito obrigado por teres aceite este convite para uma entrevista na Ode Lusitana. Foi com muito agrado que ao adquirir o vosso trabalho, me deparei com uma edição muito sólida e que faz jus ao nome da banda.
Como se deu o início da vossa banda no final do ano passado e como foi o teu contacto com os restantes elementos, o António Baptista e o João Lugatte? Como os conheces ou já é uma ligação que vem de longe? A ideia desta sonoridade muito característica é uma paixão que une vocês os três?

A banda começou em Fevereiro de 2015 e nasce, como sempre, da vontade de tocar. A ideia de fazer qualquer coisa já existia há algum tempo. Eu já conhecia o Tó (António Baptista) há alguns anos e costumávamos falar dessa ideia mas sempre em tom de brincadeira! Ele é que conhecia o João e decidiu falar com ele. Depois foi uma questão de combinar um ensaio e no fim ficamos realmente com a sensação que a coisa poderia resultar!
A nossa sonoridade foi algo que foi aparecendo de forma natural. Julgo que resulta do facto de termos influências e gostos muito abrangentes e diversificados mas que acabam sempre por se encontrar em algum momento. Nunca tivemos aquela ideia de tocar um estilo e não sair daí! Se o som final é mais para o Stoner ou para o Doom é resultado disso mesmo!

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Do surgimento da banda ao vosso primeiro registo foi um passo muito rápido. Qual tinha sido a vossa experiência musical antes dos Basalto? A captação, gravação, mistura, masterização e tudo o mais foi feito por vocês, tendo as gravações decorrido no Villa “L Dourado” Resort. Como funcionou este contacto, assim como com a editora Fuck Off And Do It Yourself, do qual vocês foram o primeiro lançamento? Como se pode resumir estas sessões de trabalho no estúdio para o lançamento do álbum?

Sim, do nascimento da banda à gravação do primeiro registo demoramos um ano. Mas não foi algo forçado, as 6 músicas que gravámos já estavam prontas e ensaiadas e a decisão do momento da gravação foi unânime e consciente.
Anteriormente a Basalto todos nós tivemos projectos e bandas mais sérios ou não e o João ainda continua activo em outras bandas como os Amaterazu. Eu já estava parado e afastado de bandas há muito tempo e o Tó também não tocava a sério desde o final dos Angriff, por isso a vontade era mesmo muita!
A escolha do local para a captação e gravação (Villa “L Dourado” Resort) também foi simples e natural, uma vez que é onde sempre criamos e ensaiamos. A decisão de fazermos tudo nós deveu-se principalmente ao facto de o Tó se interessar muito por essa vertente do trabalho de estúdio. Ele e o João fizeram a captação e a gravação das seis faixas e posteriormente o Tó fez a mistura e a masterização nos seus Fuck Off and Die Studios. Por isso foi juntar o útil ao agradável, poupamos algum dinheiro e ele teve a possibilidade de explorar mais esse mundo e pôr em prática os conhecimentos que vinha adquirindo! E honestamente fiquei plenamente satisfeito com o resultado final… aquilo é Basalto. Relativamente à editora, foi uma necessidade. Não tínhamos grande vontade ou interesse em andar à procura e/ou à espera de editoras. O álbum estava gravado como queríamos, com o som que queríamos, com o design que queríamos e o passo seguinte foi o Tó criar a editora (Fuck Off And Do It Yourself Records).

 

Uma das particularidades é a ausência de vocalista que independentemente das opiniões não tem um impacto menos bom na vossa sonoridade. Foi uma opção vossa, nenhum de vocês tinha jeito para cantar (desculpem o apontamento! ah!!), ou podem rever futuramente esta situação?

Essa é de facto a questão que mais nos colocam! Mas na verdade nunca sentimos a necessidade ou a obrigação de ter vocalista. Para nós nunca foi realmente uma questão. Começamos a criar sem voz e sempre nos sentimos bem assim. Chegamos a tentar integrar uma vocalista e até soava bem, mas não complementava a música da forma que entendemos ser útil.
Eu sinceramente nunca poderia cantar porque esse sim, seria um passo de gigante para a ruina imediata da banda! O João também não é bem a área dele e o Tó… pode ser que ainda cante alguma vez! Mas repito, não temos isso como um objectivo ou uma obrigação, se alguma vez acontecer, aconteceu. Terá sempre de ser natural. Neste momento, as 6 músicas que gravamos soam-nos bem assim e não alterávamos nada!

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Como dizem no press release podemos ouvir vários elementos na vossa sonoridade que vão do “Thrash ao Stoner, do Psicadélico ao D-Beat”, mas temos uma componente stoner bastante musculada no vosso som decididamente marcado pelos riffs de guitarra, o baixo verdadeiramente ritmado e a acompanhar a bateria pujante. É um estilo que te atraí pela mistura de vários estilos que podemos aqui encontrar? Quais as bandas de stoner que te marcaram profundamente?

Se eu for 100% honesto tenho de admitir que o Stoner nunca foi um som que eu consumisse muito! Claro que existem aquelas bandas incontornáveis que gosto e já conhecia… Orange Goblin, Kyuss, Spiritual Beggars, Corrosion Of Conformity, etc. Mas muito sinceramente acho que o nosso som embora vá claramente beber influências aí, foge também muito para outras sonoridades um pouco diferentes. E é aí que nos sentimos realmente bem, nessa mistura de estilos e influências.

 

Com horizontes alargados a nível musical, como se deu o início da tua paixão pelo metal? Ainda te lembras dos primeiros álbuns que adquiriste? A descoberta de novas bandas eram feitas através dos teus amigos ou sempre procuraste descobrir por ti?

A paixão começou sem dúvida muito por influência do meu irmão! Era bastante novinho, não me recordo bem, mas talvez com Iron Maiden, Halloween, AC/DC… por aí! Lembro-me bastante bem de comprarmos 2 Lp’s em particular: o “Somewhere In Time” dos Iron Maiden e o “Epicus Doomicus Metallicus” dos Candlemass e curiosamente ainda tenho os dois!
Depois já maior ia descobrindo as bandas novas com os amigos! Através de programas de rádio e fanzines (religiosamente encomendadas por correio) descobríamos as novidades e depois era gravar nas cassetes velhinhas quando alguém tinha o que procurávamos ou então era mandar vir as tapes e os discos/cds. Comprei muita coisa sem ouvir uma única nota… era pelo nome e pela descrição!

Actualmente moras em Viseu, mas as tuas raízes são açorianas. Tens acompanhado o que se passa a nível do metal underground nos Açores? Hoje em dia não se passam as dificuldades que existiam há uns anos em chegar às novas sonoridades, mas mesmo assim acreditas que é um movimento que tem problemas para se expandir? Sei que as pessoas continuam a fazer esforços para a divulgação deste estilo e a comprovar está o “The Unborn Fest” que decorreu em Março em Angra do Heroísmo, com a participação de algumas bandas da Ilha Terceira. O que pensas que é necessário para se consolidar este género nos Açores?

Pois, efectivamente sou um orgulhoso Açoriano, mas há já algum tempo que ando um pouco desactualizado sobre o que se faz por lá! O que me tem dito é que o pessoal quase todo tem optado por integrar bandas de covers, deixando um pouco os originais para segundo plano. Mas não sei se será mesmo verdade. Agora, de uma coisa tenho a certeza, pelo menos na minha ilha (S. Miguel), não existem metade das bandas que existiam em meados dos 90’s / inicio dos 2000. Quer queiramos quer não, ter e manter uma banda numa ilha é muito mais complicado do que aqui no continente, só a nível de concertos a diferença é abismal! Felizmente que ainda existem os “teimosos” como os Morbid Death, por exemplo, que ao fim de 25 anos ainda continuam a batalhar! Agora era preciso era começarem a aparecer (ainda mais) bandas novas e malta com vontade para os acompanhar!
Relativamente ao “The Unborn Fest” na Terceira julgo que já foi a 2ª edição e este ano até tiveram bandas internacionais. É sempre bom ver que existem coisas a acontecer e que o underground não está morto! Julgo que o caminho é exactamente esse, realizar festivais, concertos e/ou concursos para tentar “criar o bichinho” na malta mais nova!

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Aqui no continente temos visto um salutar aumento de bandas e de lançamentos de álbuns, com vários locais de concertos e promotoras a fazer um excelente trabalho. Ou seja bandas não faltam, mas o que é necessário para atrair mais o público? Achas que as mentalidades mudaram assim tanto comparando com a que eu e tu por exemplo vivemos nos anos 90? Viseu e toda a zona envolvente tem tido uma efervescência enorme no meio underground nacional, como se pode ver pelos concertos organizados desde a associação “Fora de Rebanho” até as “Rocha Produções”, entre outros, com muitos espaços para eventos. Do teu ponto de vista o que pensas de todo este movimento em Viseu? Ainda há espaço para crescer mais?

Sim, actualmente existem muitas bandas dos mais variados estilos e com muitíssima qualidade, muitos discos a serem gravados e boas salas de concertos! Claramente o trabalho está a ser bem feito! Se o público é pouco ou não adere em massa… deduzo que seja muito mais interessante ir ao “Rock” in Rio! As mentalidades mudaram a todos os níveis como é normal, algumas para melhor, outras nem tanto. Nos 90 talvez não existisse tanta mediatização do “Rock” e o underground unia-se mais.
Aqui por Viseu a situação felizmente está saudável. Por exemplo, a associação Fora de Rebanho já leva 3 anos de trabalho com concertos mensais e sempre em apoio ao underground e à cultura alternativa e a “Rocha Produções” além do Mangualde HardMetal Fest que já vai com mais de 20 edições está a organizar festivais em Tondela, Penalva do Castelo ou Viseu! E são apenas dois exemplos. Julgo que o underground em Viseu está efectivamente vivo e a crescer!

 

O underground não se pode resumir só às bandas, necessitando de todo um apoio por trás desde promotores, fanzines, fotógrafos, rádios e acima de tudo público. Concordas com esta minha opinião? As novas tecnologias trouxeram muitas coisas positivas, mas actualmente existe muita informação que está dispersa. O que retiravas do espírito underground que se viveu e que podias aplicar hoje em dia?

O underground é tudo isso! As bandas sozinhas não resistiam, é necessário o publico, são necessários os promotores, as zines, os fotógrafos, as rádios, etc. Todos necessitam uns dos outros, e todos tem o seu valor, o importante é apoiarem-se mutuamente sem ninguém se achar superior!
As novas tecnologias claro que vieram ajudar em muitas coisas, hoje em dia temos a facilidade de descobrir e conhecer bandas de todos as formas e feitios. Antes, como já disse, comprava dezenas de tapes só pelo nome da banda e por uma breve descrição… agora podes ler sobre a banda, ouvir, ver vídeos e depois se não quiseres comprar podes apenas fazer um simples download! Ainda assim, também tem o lado mau, eu comprava qualquer coisa e ouvia-a até à exaustão, lia e relia os booklet’s e voltava a ouvir! Agora às vezes tenho tantas coisas novas para ouvir que acabo por não ouvir metade ou oiço com um terço da atenção que devia!
Em relação ao espírito que se vivia, acho que não devemos fazer grandes comparações, tudo mudou, por isso temos de aceitar. Mas se fosse possível, gostava que o pessoal voltasse a aderir mais aos concertos do underground.

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Assim chegamos ao final desta entrevista. Muito obrigado pelas respostas e pelo tempo dispendido. As últimas palavras são tuas para deixares o que te vai na alma e tudo o que quiseres! Até uma próxima e ficamos a aguardar novidades dos Basalto.

Eu é que agradeço em meu nome e em nome dos Basalto a disponibilidade e o apoio à banda! É um prazer ver zines como a Ode a recriarem-se e a sobreviverem na era digital!
Continuem a apoiar as bandas nacionais como puderem e a ir aos concertos! E apoiem as fanzines, porque isto dá muito trabalho!!!

E já agora… comprem o cd de Basalto se ainda não o fizeram!

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