Círculo de Fogo
Círculo de Fogo, é um nome que já se encontra entranhado na história do movimento underground português. Com o primeiro aparecimento em 1995 através do programa de rádio, tem sido utilizado todos os meios para a divulgação da música que se faz no nosso país, sendo de destacar as e-compilações e do qual todos deverão visitar o bandcamp para efectuar o download deste material. Melhor dito, visitem tudo o que esteja relacionado com o Círculo de Fogo!
Mas não há nada melhor do que ter uma conversa com o mentor deste excelente trabalho, o Luís Filipe Neves.
Viva Luis! É com prazer que assistimos aos 20 anos do Círculo de Fogo, que começou pela divulgação do metal em 1995 através do programa de rádio com o mesmo nome, mas também passando após isso pela divulgação que fazes através da net e pelas e-compilações. Começando quase pelo fim qual a receita para este sucesso de 20 anos? De onde surge o nome Círculo de Fogo?
Saudações, Marco e leitores da Ode Lusitana!
No início, diz-se que é por “amor à camisola” ou “carolice”, mas talvez a divulgação de música seja uns dos meus karmas. Desde a infância que me sinto atraído pelas sonoridades mais rockadas e pesadas, as quais partilhava com os amigos mais chegados, alguns familiares e colegas de escola. Enquanto houver gente ativa, seja a compor, produzir, editar, organizar eventos, etc, que matéria-prima para divulgar não falta.
A primeira vez que vi círculos de fogo na grande tela foi no filme “Dracula de Bram Stoker“, porém o nome surgiu em leituras e transcende a música, até porque as variadas temáticas líricas abordadas no Metal incitam-nos para outras áreas de interesse.
O teu início está muito relacionado à rádio, com alguns programas antes do “Círculo de Fogo”, como o “Barreira de Som” e outro de Hard n’ Heavy. Como era trabalhar nestes programas? Como era realizada a preparação dos programas? Existia uma boa resposta por parte das pessoas da zona de Viseu?
O Barreira de Som foi um projeto apresentado em ’93 por mim e por Miguel Rodrigues [Sons Marginais, Red Line, Motaquarta]. A Rádio NoAr, no coração da cidade, abrigou o programa nas noites de segunda a sexta-feira (eu às terças), ao qual se juntaram Jorge Figueiredo [Metal NoAr, Metalurgia], Manuel Joaquim [Wroth Zine, Eclipse Metálico], Gonçalo Melo [banda Shiver, DJ no The Day After], entre outros realizadores, e abrangia do Hard Rock ao Death/Grind. Após a venda dessa emissora, em ’94 passei pela Rádio Viriato, onde dava airplay ao Hard n’ Heavy, no final das tardes. O Círculo de Fogo começou no Rádio Clube do Interior em 1995, até finais dos 90s. Rolavam os vinis, cassetes e CDs que tinha até então, adicionava à playlist outros discos de amigos que emprestavam e como não havia internet, consultava zines, newsletters, revistas e jornais para reciclar informação, bem como escrevia a músicos, editores, managers, promotores e media. Mantinha o hábito de sintonizar regularmente os programas underground das rádios piratas locais, bem como os radioshows de Metal, sendo o António Sérgio, Luís Filipe Barros e Gustavo Vidal algumas das minhas referências diretas. Por carta, por telefone no decorrer da emissão ou pessoalmente, havia quem se manifestasse, mas também é sabido que os programas de autor sempre suscitaram mais fidelidade por parte dos ouvintes, em relação aos generalistas.
Em 2003 passas a ter uma mais forte divulgação pela net através do site do Círculo de Fogo. Este trabalho ajudou-te na organização de todo o teu trabalho? Na minha opinião pelo menos ajudou-me a encontrar e informação facilmente e a saber onde tinha que procurar as novidades e os contactos! Como recolhias a informação? Tiveste a colaboração de algumas pessoas neste projecto?
O site em www.circulodefogo.inforzone.com foi criado no ano em que o Círculo de Fogo regressou à antena da Viriato FM e servia de apoio ao programa, principalmente a agenda de concertos, que era escrita, com alguns cartazes em anexo. Talvez seja a mais antiga agenda de Metal em Portugal, na internet. Cerca de 17 mil cartazes de espetáculos ao vivo encontram-se presentemente disponíveis para consulta em www.facebook.com/CirculoDeFogo.pt.
Apesar do Círculo de Fogo ser o meu alter ego na música, todos os que me contactam, por carta, e-mail ou Facebook são colaboradores neste projeto.
Desde 2007 editas as e-compilações, que são um excelente trabalho de compilação e divulgação do metal português. Como funciona o processo de criação destas compilações? Uma coisa que acho fantástica são as capas e os nomes atribuídos a cada compilação. Como surgem na tua ideia? Depois de 4 anos surge a compilação número 10 (“Regeneração”). Quando teremos as próximas?
Desde a primeira emissão do Círculo de Fogo que há espaço para a produção nacional; nos últimos anos do programa, a primeira edição de cada mês era preenchida integralmente pelas sonoridades lusas, fosse Metal, Rock, Punk, Hardcore, Gótico ou Progressivo. A primeira compilação foi editada um mês depois do programa de rádio acabar e é uma continuidade na difusão da diversificada música portuguesa.
As capas são da autoria do pintor gestual Pedro Albuquerque (www.facebook.com/AlbuQpedroalbuquerque), natural de Viseu, o qual se destaca igualmente na escultura, heráldica e pergaminhos. Entre outras estórias, menciono a ilustração da compilação #1 que é um excerto de um trabalho, posteriormente reconhecido internacionalmente, o qual se encontra desde 2009 num museu em New York – “capital do mundo”. Quando a #10 “Regeneração” foi idealizada, o objetivo seria incluir maioritariamente bandas jovens na cena, independentemente do background dos músicos, sendo o baterista Tiago dos Sangue Lusitano o mais novo a participar, com 13 anos.
A #11 será editada a 21 de setembro do corrente ano, intitular-se-á “Viseu” e incluirá bandas e solistas naturais e/ou residentes no distrito de Viseu, nos universos do Metal n’ Rock. Sendo alojada em www.circulodefogo.bandcamp.com, será uma coletânea digital em aberto, com possibilidade de serem adicionados outros grupos. É feita a pensar no legado musical viseense, desconhecido de muita gente, mesmo entre conterrâneos, é elaborada para apoiar os músicos no/do presente e deixa a porta aberta para futuros projetos musicais que surjam na região. Incluirá biografias redigidas em português.
O Círculo de Fogo tem passado estes 20 anos pelos altos e baixos da nossa cena underground nacional. Como tens visto a situação nestes anos todos? O aparecimento das novas tecnologias tem dado um maior facilitismo de divulgação às bandas, diminuindo o número de pessoas que se dedicam à divulgação através de webzines, fanzines? Qual o caminho que está a seguir o nosso metal?
Quando a internet, como é conhecida, não existia ou ainda era uma miragem, as bandas e editoras recorriam aos meios de divulgação para dar a conhecer o seu trabalho. As novas tecnologias impulsionaram a auto-promoção, graças ao aparecimento dos sites, depois impôs-se o MySpace e, mais recentemente, o Facebook, não obstante continua a haver mass media no suporte. Baseando-me, por exemplo, em cartazes de eventos que vou publicando, têm surgido imensas bandas ultimamente; nunca deixou de haver promotores e palcos de norte a sul do país, e verifico que há cada vez mais seguidores e interessados em acompanhar o nosso underground. O “Boom” do Metal nacional ocorreu em meados dos 90s, com algumas bandas a criar um movimento pós-“The Birth of a Tragedy“, não obstante atualmente temos muitas centenas de bandas no ativo, para todos os gostos e feitios, muitas delas em nada ficam atrás das congéneres estrangeiras.
Os estudos científicos comprovam que a aprendizagem de um instrumento musical estimula o cérebro, a coordenação motora, a sociabilidade, entre outros benefícios. Nos dias que correm, uma guitarra clássica de iniciação fica mais ou menos pelo preço de um jogo PlayStation, além da formação musical que está mais acessível, seja em escolas públicas e privadas de música, na catequese, na internet,… Fico curioso pelo próximo caminho do Metal. Música é arte e cultura!”
E assim terminamos esta entrevista. Muito obrigado por tudo! O Círculo de Fogo faz um excelente trabalho na divulgação do metal nacional e esse é um dos seus principais objectivos. Podes deixar umas últimas palavras para encerrar esta entrevista.
– Apoiem, motivem e incentivem os músicos e todos aqueles que dão o seu contributo na cena musical portuguesa, enquanto cá andam. Depois de encerrarem atividades, de pouco adianta lamentar o seu fim.
Obrigado, Marco e muita força para a Ode Lusitana!
Depois desta entrevista e neste dia especial de 21 de setembro surge a compilação Nº 11 dedicada a Viseu com vários artistas naturais e/ou residentes no Distrito de Viseu. Faz o download desta e de outras compilações em Círculo de Fogo bandcamp.
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