Baktheria
Há bandas que nos deixam com um sorriso no rosto quando colocamos um CD na aparelhagem e os Baktheria são um exemplo extraordinário!
Provenientes de Lisboa e formados em 2013 juntam o que há de melhor no death, thrash e punk, tocando esta mistura a abrir. Em Maio deste ano editam o seu primeiro trabalho “System Sickness” com 13 temas, onde pontificam Rui Vieira (voz/guitarra), Rui Marujo (baixo) e Alex Zander (bateria).
Foi com o Rui Vieira que falamos e nos explica o mundo desta banda.
Viva Rui! Bem-vindo à Ode Lusitana! Vamos começar por um pouco da tua história inicial com o Metal. Ainda te lembras quando é que se dá o teu início nestas audições metaleiras? Quem é que te iniciou nestas sonoridades? Tinhas algum grupo de amigos que se reunia para ouvir música e falar das bandas? Que bandas é que te cativaram?
Viva Marco, obrigado pelo teu convite e desde já uma saudação pelo teu interesse e contributo para a divulgação do underground e Metal em geral. Lembro-me perfeitamente do início. Digamos que foram duas fases que se interligaram. A primeira foi com Scorpions e Europe, pelo único acesso que existia ao rock naquela altura. Era isso que passava insistentemente na televisão, na RTP 1. Lembro-me da “Still Loving You” (Scorpions) e da “The Final Countdown” (Europe) estarem meses a fio no primeiro lugar do top. É claro que aquilo começou a mexer com a minha cabeça. Por volta de 86/87, e aqui dá-se a segunda fase, um amigo empresta-me a cassete que viria a revolucionar a minha vida. Tinha no seu interior, a bíblia, ou seja, “Live After Death” dos Iron Maiden, e também Metallica, Venom, Helloween e The Exploited, daí o meu gosto pelo Punk, que sempre andou de mãos dadas com o Metal. Entretanto, quando fui morar para Arruda dos Vinhos, conheci algumas pessoas que também partilhavam da religião metálica, como o Helder Rodrigues ou o Nuno Mariano, ambos actuais membros dos Machinergy. Nós tínhamos um ritual engraçado, isto por 88/89. Íamos à noite para o jardim municipal de Arruda curtir um sonoro com um rádio gigante da Sanyo, mas antes passávamos na padaria para comprar pão quente! Levávamos Coca-Cola e manteiga (!!!) e era a loucura! Entretanto, chegaria às nossas vidas o “Lança-Chamas” do António Sérgio e o “Rock Em Stock” do Luís Filipe Barros que revolucionou tudo e abriram as portas que faltavam.
Devem ter sido horas e horas de volta de uma aparelhagem até que te tornas músico e até começas a cantar. Como se deu esse interesse pela via instrumental?
Cisne Negro, Bicéfalo, Miss Cadaver, Machinergy, é sinal que tens vários interesses. O que procuras numa banda que inicias ou da qual fazes parte?
Sem dúvida, foram horas infinitas a ouvir o “Somewhere In Time” e a ver todos aqueles pormenores da capa, a tentar descobrir novos detalhes (ocultos)! O click para começar a criar música foi com o “Beneath the Remains”, foi ali que a necessidade de passar à composição surgiu. Isto porque os Sepultura, na minha opinião, para além de revolucionar, vieram também democratizar o Metal, mais concretamente o Thrash. Eram do Brasil, ou seja, não eram de nenhuma potência americana, britânica ou alemã, logo era possível vingar fora desse eixo metálico, desse triunvirato dominador, eram jovens com ar desportivo e cativante, a escrita era profundamente simples, embora acutilante, a música era de outro mundo, também ela, simples, a meu ver. Estes vários projectos/bandas em que estou envolvido são o reflexo do meu gosto vasto pela música pesada e pela música no geral. Eu consumo tudo e quero fazer um pouco de tudo enquanto cá estiver. A música que fizer é o que irá perdurar da minha memória, e é com essa permissa que eu me tento desdobrar em várias vertentes. E daí serem tudo projectos fundados ou co-fundados por mim. Não me vejo a integrar uma banda estabelecida, isso não me satisfaz. Cisne Negro será o próximo rebento. Aguardem!
A 16 de setembro de 2013 surgem os Baktheria. Pelos vistos a data ficou na memória! Como surge esta reunião entre tu, o Alex Zander e o Rui Marujo? Já os conhecias de há longa data? O humor e a boa disposição fazem parte da vossa atitude. É um requisito essencial nos Baktheria?
O requisito essencial é não tornar esta banda séria! Tem de ser/continuar simples, sarcástica, trabalhadora mas descontraída, sem grandes planos e/ou esquemas. Conheci o Alex através de um anúncio que coloquei no Metalunderground. Nessa altura, procurava baterista para Miss Cadaver e ainda ensaiámos algumas malhas mas a coisa ficou por ali até porque pouco tempo depois formei, com o Marujo (que já conhecia há algum tempo) e outro baterista, os Crustifiction, mas este projecto teve vida curta. É a seguir que nos juntamos os três e nascem os Baktheria com o objectivo de fazer barulho e berraria. Nos nossos concertos é onde essa faceta “humorística” se nota mais, essa forma descontraída com que nos apresentamos já faz parte do espectáculo. Afinal, um concerto é uma comunhão e boa disposição. É ainda melhor quando o Marujo está “quentinho”!
Em Maio deste ano editam o vosso álbum de estreia “System Sickness”. É uma chapada na cara quando se coloca a ouvir! Sei que vais falar bem do teu trabalho (e é verdade!), mas que achas destas críticas positivas que tem recebido? Houve alguma coisa engraçada que tenham comentado acerca do álbum?
Desde que começámos a compor, senti que algo fixe pudesse vir a acontecer. Penso que ao iniciar um projecto com o objectivo de ser simples, sem “rodriguinhos”, nos deixou logo sem aquela responsabilidade, aquele peso de ter que ser isto ou aquilo, de cumprir com regras. Não queremos saber, Baktheria é mandar tudo para o caralho, ponto. Acho que este trabalho, dentro da sua simplicidade, está bem conseguido, da música ao artwork e o que Baktheria encerra em si. As críticas têm sido muito agradáveis mas também não foram muitas até porque não estamos numa de andar a melgar o pessoal para fazer reviews e isso. Até nisso não nos levamos muito a sério… A review do Arte Metal do Brasil tem uma expressão engraçada e que resume bem Baktheria, qualquer coisa como “não estão aqui para enrolar…”. É isso mesmo!
Uma das coisas que vemos neste trabalho é a crueza do vosso som simples e directo. Como é que surgiram estes temas nos vossos ensaios? Quem é o principal compositor? A temática das vossa letras está em perfeita sintonia com o vosso som. É uma fórmula para manter ou querem experimentar coisas novas?
Os Baktheria nasceram com o propósito de ser uma banda simples e virada para o “vivo” e são como que um tributo a Ratos de Porão ou Extreme Noise Terror, não tenho problemas em assumir isso, nenhuns. Foi tudo muito rápido embora planeado. Eu e o Alex, compusemos, em pouco mais de dois meses, uns 10 ou 11 temas. Entretanto, o Rui Marujo (baixo) entrou e contribui com ideias para cerca de três temas. As letras, bem como toda a imagem e essência de Baktheria, é o mal, basicamente. Mas não é um mal fictício, é um mal bem terrestre. E esse conteúdo tem de ser traduzido em pura agressão musical! A fórmula é para manter, simples e eficaz. O que queremos mesmo no próximo trabalho é engrossar ainda mais o som, queremos um peso mesmo fodido!!!
Quando estás num concerto em que os Baktheria participam, és dos que se encostam ao bar a beber cerveja ou dos que estão atentos às bandas? Ou ambas as coisas? Que achas desta mistura em concertos de bandas novas, com o pessoal que já anda na estrada aos anos? Que conselhos darias a este pessoal mais novo?
A minha postura, normalmente, é de observação com uma cerveja na mão! Mas depois de tocar, só apetece é cair na cama, sair. Há uma grande descarga de adrenalina, fico seco, pensativo. Comigo é assim. Mas por respeito e também para curtir as outras bandas e estar com o pessoal, bebem-se umas cervejas, põe-se a conversa em dia, etc. Quanto à mistura que referes, acho muito bem. Por mim, qualquer coisa serve, o que importa é o respeito e humildade, boa onda entre as bandas, pessoal da organização, etc. O resto é lirismo. O conselho aplica-se a novos e velhos.
É tudo, Rui. Muito obrigado pelas tuas respostas e por esta tua participação. Podes deixar algumas palavras aos nossos leitores e aos vossos fãs!
Obrigado Marco pela entrevista e boa sorte para a Ode Lusitana e os teus projectos. Baktheria é banda de “vivo”, portanto, quando passarmos por onde vocês moram, apareçam que vão levar com uma descarga de barulho e cenas parvas, mas vão curtir.
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