Metal Soldiers Records
Metal Soldiers Records é uma editora / distribuidora do Fernando Roberto, um grande apaixonado pelas sonoridades mais pesadas e que se dedica a divulgar uma grande quantidade de bandas e não só, através do seu vasto catálogo.
Mas vamos à entrevista, onde ficamos a conhecer todo o seu trabalho, as suas ideias e os seus próximos desafios.
Viva Fernando! Antes de tudo é um prazer teres aceite este meu repto para responderes a umas perguntas acerca da Metal Soldiers Records e dos teus trabalhos, já que és uma das pessoas com uma história fantástica no apoio e divulgação do Metal no nosso país. Ainda para mais quando ao longo destes anos ainda continuas nesta tua grande cruzada! O primeiro contacto que tive com um dos teus trabalhos, foi a aquisição do número 3 da tua fanzine Hallucination ‘Zine de 1994 que tinha a particularidade de ser uma split fanzine, juntamente com o número 3 da Dark Oath Magazine do João Carlos Monteiro e que excelentes leituras e novas bandas me presenteou durante a leitura. Mas vamos à Metal Soldiers Records! Qual o momento em que decides avançar com este teu projecto e qual era a tua ideia inicial? Tiveste o apoio de mais alguém neste início? Já tinhas vários contactos de bandas e editoras, nas quais tinhas tido conversas acerca deste teu trabalho?
Olá amigo Marco Santos, tudo bem? Espero que sim. Obrigado pelas tuas palavras e pelo teu reconhecimento. Tal como tu sabes o “bichinho” de fazer algo em prol do Heavy Metal esteve e estará sempre presente na minha mente e após alguns anos de silêncio, decidi começar este meu projeto em meados de 2009, no qual decidi chamar-lhe simplesmente Metal Soldiers. Inicialmente seria uma espécie de Fan Club 100% dedicado à edição e reedição de bandas antigas da década de 70 e 80 ou seja a ideia seria lançar sob o nome de Metal Soldiers Fan Club alguns LP’s & CD’s e tornar-me assim o órgão oficial de algumas bandas que me solicitassem apoio tanto na divulgação como na distribuição. Nessa altura contactei algumas bandas e as respostas não foram nada agradáveis porque a maioria das bandas (já para não dizer a sua totalidade) não concordou e nem compreenderam essa minha ideia… um Fan Club?!?! Uns acharam que isso iria gerar confusão porque seria o Fan Club de um “monte” de bandas, outros mencionaram o facto de necessitarem de uma entidade tipo editora porque daria maior projeção às bandas, etc, etc, ou seja perante tantas reações negativas eu vi-me obrigado a alterar o nome e a modalidade que ainda está em vigor ou seja Metal Soldiers Records.
No inicio faltavam-me alguns contactos, principalmente de fábricas e nessa área tive a ajuda do meu grande amigo Xico da Blood & Iron Records, editora inclusive com a qual efetuei várias parcerias.
Sim, antes de iniciar estas atividades eu falei com muita gente, tanto de editoras como de bandas e o “feedback” foi muito positivo. Aliás, uma das pessoas com quem troquei mais ideias até foi o Stefan Riermaier da editora alemã Karthago Records ou seja esta foi a editora que eu tomei como exemplo para iniciar as atividades. Claro que o Stefan disse logo que me ajudava no que fosse necessário.
A Metal Soldiers Records tem um enorme catálogo onde se inclui uma vasta gama de produtos desde CD, vinil, fanzines (da qual sou um cliente habitual destas pérolas escritas, adquirindo grande parte do material disponível!), material em segunda mão e muitos trabalhos sob o nome da Metal Soldiers. Como funcionam as parcerias para teres este material no teu catálogo, incluindo autênticas relíquias discográficas? Também é de salientar e louvar uma forte gama de bandas brasileiras, havendo uma estreita ligação com o que se faz do outro lado do Atlântico. Como surgiu esta colaboração com o Brasil e com quem estás ligado a nível de trabalho e divulgação?
Eu confesso que para fazer este tipo de lançamentos ou melhor como tu lhe chamas-te estas “pérolas escritas” é necessário ter muito gosto e acima de tudo muita paciência porque ao contrário do que as pessoas pensam nem sempre as bandas possuem em seu poder as suas próprias músicas, repara eu contactei algumas bandas que … após falar com todos os elementos da banda eles não tinham os originais dos seus próprios LP’s, … contactei bandas que nada me entregaram porque nada tinham e quando isso acontece é desesperante porque uma pessoa tem que se movimentar por outros lados. Bandas Brasileiras que tiveram que recorrer ao Mercado Livre para comprarem uma cópia em 2ª mão do seu próprio álbum, parece incrível mas é verdade! Outro dos grandes obstáculos neste tipo de lançamentos é também a dificuldade em localizar grande parte ou a totalidade dos membros de cada banda para que me possam autorizar o lançamento dos seus trabalhos. Já agora relembro que sempre que eu faço um lançamento eu tenho o cuidado de contactar todos os elementos da banda. Depois de localizados é necessário que todos os elementos estejam de acordo com o proposto o que (infelizmente!) nem sempre acontece, daí já me ter acontecido situações bastante constrangedoras como foi o caso de músicos que proíbem a publicação de suas fotos nos lançamentos…(aconteceu no lançamento por exemplo dos Metal Pesado) no qual tive que cortar a maioria das fotos porque o vocalista proibiu a sua publicação no CD ou no caso dos Inquisição que um baterista (músico convidado que nem pertencia ao line-up da banda) “simplesmente” proibiu a utilização das músicas de uma demo de 87. Mas muitas outras situações constrangedoras também aconteceram como no caso dos Raven onde a banda contactou a editora para me enviar os artworks originais dos dois álbuns e a própria editora, a SPV Records, respondeu que já não possuía os trabalhos originais ou seja pura “filha da put**se” e estamos a falar de uma grande editora. Como podes ver este tipo de lançamentos não são fáceis de conseguir.
Falando um pouco das parcerias e do material que distribuo, nos primeiros anos da editora eu necessitei ganhar nome no mercado e como tal vi-me obrigado a funcionar muito à base de trocas aceitando quase todas as propostas ou as contrapropostas que me chegavam. Claro que isso me permitiu criar um catálogo com muito material, aumentando assim a oferta de bandas para todos os meus clientes.
Bem, quanto à colaboração com o Brasil, a minha paixão pelo Metal Brasileiro já vem desde os longínquos anos 80, altura em que comecei a “devorar” as primeiras bandas Brasileiras, nessa altura fazia muito “tape trading” com os países da América do Sul, em especial os Brasileiros. Sempre mantive contacto com muita gente no Brasil por isso é que ainda hoje tenho lá excelentes colaboradores. Curiosamente, neste momento o meu principal distribuidor no Brasil é Português ou seja é o meu grande amigo João Pedro Sousa da Editora Your Poison Records / Route 55 Records que se mudou para lá há meia dúzia de anos.
Apresentas um catálogo bastante completo, mas ainda estás a planear mais algo para a Metal Soldiers Records? O objectivo será cimentar cada vez mais esta tua distribuidora, mas passa também por diversificares mais a tua oferta? Como sentes o interesse de todas as pessoas que entram em contacto contigo para a compra de material? Além do pessoal da denominada ‘velha guarda’ há o interesse por parte dos mais novos em adquirir e conhecer novo material?
Sim, eu tenho sempre algo mais para acrescentar às minhas atividades, em relação à Metal Soldiers Records, eu estou a pensar e vou fazer algumas alterações para breve e a mais significativa é a divisão da editora consoante os estilos das bandas a lançar ou seja irei subdividi-la em Rock Soldiers Records, Metal Soldiers Records (atual nome), Thrash Metal Soldiers e Death Metal Soldiers e depois logo se vê se ficará só com estas subdivisões. Não me parece correto estar a encaixar bandas tão diferentes na mesma etiqueta, daí as subdivisões que já não é uma inovação uma vez que outras editoras também já o fizeram no passado como é o caso da editora alemã Pure Steel Records que é mais uma das editoras com quem trabalho e com quem tenho laços de grande amizade. É uma das minhas grandes referências. Outra das grandes novidades é que eu vou querer começar a apostar no Rock’n’Roll até porque existem muitas bandas, incluindo bandas Portuguesas que merecem ver os seus trabalhos reeditados, grupos antigos que foram muito importantes para todo o nosso movimento Rock’n’Heavy.
Os clientes que eu tenho são “poucos mas bons”, neste momento tenho pouco mais de 250 clientes ou seja eu costumo dizer em tons de brincadeira que isto é um pequeno núcleo de fans (aqui está outra vez a tal palavra Fan por isso é que eu inicialmente idealizei um Fan Club) que mantem todo este projeto vivo e (felizmente!) de perfeita saúde. A maioria (para não dizer a totalidade) é malta da “velha guarda” com a “velha escola” dos nossos anos 80 por isso fazem compras com muita paixão à base de bandas antigas e álbuns antigos. O interesse dos mais novos é quase “nulo”, ZERO.
Além da Metal Soldiers Records, também tens a NBQ Records, que se estreou o ano passado com o álbum “System Sickness” dos Baktheria, até ao mais recente “Overloaded” dos Booby Trap, passando entre outros pelos Buried Alive, Shivan e até pelos brasileiros Atacke Nuclear. Qual o conceito por trás da NBQ Records e qual o ideia com que foi criada? Tens mais algumas edições em vista e que possas já divulgar? Já agora, o que querem dizer as iniciais NBQ?
A decisão de fundar a NBQ Records foi como se diz em bom Português uma editora “a pedido de muitas famílias” ou seja foram imensas as bandas que me contactaram e que não se enquadravam nos moldes da Metal Soldiers Records, muitas delas com muita qualidade para serem lançadas. A criação de uma nova editora veio assim ao encontro dessa necessidade. É mais uma aposta ganha até porque está a crescer de vente em popa, alias outra coisa não seria de esperar porque é um projeto que mexe com bandas que estão 100% no ativo, tudo bandas com músicos novos que têm “sangue na guelra” e como tal o sucesso está a ser garantido.
Quanto a novos lançamentos, irei lançar já no inicio de 2017 os novos álbuns dos Portugueses Veinless – “IX” (NBQR008) e o Miss Cadaver – “Mänifestvm Raivus” (NBQR009).
As iniciais NBQR querem dizer Nuclear Biológico Químico Radiológico.
No início fiz referência ao teu trabalho como editor da Hallucination ‘Zine, em que na década de 90 se fazia uma grande divulgação através destas publicações, onde tomávamos conhecimentos de outras bandas, de fanzines, do que se fazia nos outros países, assim como as bandas portuguesas que iam aparecendo e marcando o seu cunho na nossa história. Hoje em dia as fanzines praticamente que desapareceram no nosso país, sendo a divulgação das bandas feita em alguns blogs, mas principalmente através do Facebook, o que por vezes torna a informação tão fragmentada, tornando difícil ter conhecimento do que se vai fazendo. Como explicas o desaparecimento destas publicações, quando no resto do mundo ainda dão cartas, adaptando-se às novas realidades? De tanta coisa que temos o que nos faz falta em Portugal para fazer crescer ainda mais o nosso movimento? E já agora como sentes o pulso do que se vai fazendo por cá, seja a nível de concertos, programas de rádio, salas de espectáculos, editoras, distribuidoras, gravadoras e até mesmo o público?
Bem uma coisa é certa, o papel escrito já dura há gerações e irá durar mais algumas gerações. Sabes que tudo é cíclico. Portugal nem sempre é dos melhores exemplos porque nós portugueses começámos por enterrar os gravadores de fitas áudio, depois enterra-mo o gira-discos e por fim enterrámos as publicações em suporte físico porque tudo isto dá trabalho. Noutros países mais desenvolvidos tudo isso ainda funciona e isso sim é maravilhoso por isso é que eu não compreendo a mentalidade da maioria dos Portugueses. Em Portugal faz falta acima de tudo profissionalismo, somos muito amadores e é por isso que estamos na cauda dos países da Europa, não é por acaso que andamos na boca do mundo ao lado de países como a Grécia ou a Itália até porque a nível de “trafulhice” somos países muito semelhantes. Repara eu tenho tido imensos problemas com editoras e distribuidoras que tentam injetar material da Metal Soldiers no mercado ao preço da “uva mijona” e adivinha qual é a nacionalidade desses “crápulas”??? Esses 3 países que já mencionei entre outros de quinto mundo como é o caso da Ucrania e da Russia. Felizmente existem algumas pessoas que lutam por um movimento mais forte mas não é fácil quando a maioria da malta “rema” para o outro lado ou até mesmo em sentido contrário. Há que acreditar e é por isso que eu tento sempre dar mais e melhor.
Na tua área tens um grande contacto de trabalhos de bandas, o que na actualidade se torna bastante difícil absorver tudo o que é lançado. Falo por mim que aproveito as viagens de carro para o trabalho para ir ouvindo as novidades, assim como o algum tempo disponível em casa para pesquisar o que se vai fazendo. Ainda continuas atento ao que se vai fazendo, ou gastas algum tempo para recordar/relembrar álbuns que te marcaram durante este teu envolvimento no Metal? Como foi descobrir estas bandas em meados da década de 80, onde qualquer lançamento trazia sempre novidades? Que bandas mais te cativaram na altura?
Sabes que eu costumo dizer em tons de brincadeira que parei no tempo dai eu ter criado a Metal Soldiers porque tudo o que gosto e tudo o que oiço remonta àquela gloriosa década de 80. Tento manter-me atento ao que se vai fazendo aqui e ali, mas cada vez é mais difícil surpreender-me com novas bandas ou novos projetos. Os clássicos das bandas dos anos 80 estão sempre a rodar tanto no carro, como no serviço bem como na aparelhagem lá de casa ou no computador. Bem foram muitas as bandas que me marcaram nessa década de 80 mas as mais sonantes foram os Kiss, Meat Loaf, Judas Priest, Anthrax, Megadeth, Testament, Sepultura, Necrodeath, Bathory, Voivod, Death entre outras…
E agora uma pergunta difícil, em que por vezes os entrevistados partem a cabeça para conseguir responder, mas do qual ouvimos sempre histórias fantásticas. Quais os teus cinco álbuns favoritos, que mais te marcaram e porquê?
É sempre difícil a escolha até porque vou ter que deixar de fora alguns bons álbuns mas aqui vai:
Judas Priest – “Ram It Down” (1988) um álbum e uma banda que passou muitas vezes no Rock’n’Stock, programa esse que eu seguia assiduamente. Os Judas Priest sempre foram o “patinho feio” do Heavy Metal ou seja a maioria do pessoal nos anos 80 detestava esta banda mas eu sempre gostei e sempre acreditei no som deles e hoje em dia, passados tantos anos ainda os vemos a crescer.
Sepultura – “Schizophrenia” (1987) com as fitas das gravações do “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” quase gastas, qual foi o meu espanto quando numa bela final de uma manhã de sábado, vinha eu da Feira da Ladra e numa das rotineiras visitas à Bimotor dou de caras com este grande abum, acabadinho de chegar a Portugal, foi compra certa! Uma das grandes pérolas de todos os tempos.
Bathory – “Blood Fire Death” (1988) … gostaria aqui de relembrar muita gente que nos anos 80 eram muitos poucos os seguidores que existiam dos Bathory, os discos passavam meses e meses nas discotecas a ganhar pó, porque ninguém os comprava só que depois deu-se o “boom” do Black Metal e pronto passou toda a gente a gostar ser fan de Venom, Celtic Frost, Hellhammer, etc, etc….a malta tem memória curta mas eu não…lembro-me de tudo ao pormenor, como se fosse hoje. Eu fui um dos fundadores da 1ª Editora em Portugal de música “obscura”, a antiga Dark Records (R.I.P.) no qual ainda efetuei vários lançamentos dos quais destaco o 7” dos Decayed – “The Seven Seals” (Um abraço para o meu primo Zé!!! Saudações primo!).
Death – “Leprosy” (1988) é um marco da música pesada, grande banda e grande álbum. Influenciou inúmeras bandas dentro do som mais pesado.
Megadeth – “Rust in Peace” (1990) este é para mim o melhor álbum de Heavy Metal de todos os tempos ou seja se me tens dito para escolher apenas um esta seria a minha escolha.
E assim chegamos ao fim da entrevista. Queria agradecer-te novamente pela tua participação, assim como quero dar-te os parabéns pelo teu trabalho e que se inicie uma ligação forte e interessante entre a Metal Soldiers Records e a Ode Lusitana. Estas últimas linhas são tuas para dizeres o que te vai na alma.
Eu é que agradeço. Tal como tu sabes eu sou um grande fan deste tipo de publicações e como tal irei querer sempre dar-te o meu contributo. Podes sempre contar comigo. Um grande abraço.
This entry was posted on 20 de Dezembro de 2016 by Marco Santos. It was filed under Entrevistas and was tagged with Metal Soldiers Records.
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