Divulgação do metal português

Festering

10947309_715542855231427_6760100345906927088_nFestering, banda de death metal formada em 1992 em Santo António dos Cavaleiros, entra num interregno pouco após a formação, voltando em 2012 com dois trabalhos. A demo “From the Grave” e o EP “Exhumed”. Actualmente de volta de um novo registo falamos com o Koja Fernandes, uma autêntica ‘instituição’ do metal português.

 

Viva Koja! Ao pesquisar acerca dos Festering e de rever as bandas das quais já foste elemento, pergunto se ainda te lembras de como é que começaste a ouvir metal? E como é que passas a ser um intérprete musical?

Então vamos por partes. Primeiro comecei a ouvir metal, só depois me tornei “músico” de metal. Tive o primeiro contacto com a música pesada em meados dos anos 80, 1984/1985, por aí, e, foi através de um facto curioso. Um dia vinha da escola e encontrei uma cassete na rua, no chão e levei-a para casa. Essa cassete tinha várias músicas gravadas de algumas bandas, que na altura não fazia ideia quem eram, mas as quais mais tarde vim a descobrir. Bandas como Helix, Saxon, Iron Maiden, Motorhead, etc. Até à altura não tinha grande interesse por música, nem sequer tinha aparelhagem sonora para a ouvir. O que se ouvia em casa era a televisão e sobretudo rádio, através do meu pai, que tinha sempre uma “telefonia” ligada lá em casa. Não tinha aparelhagem, mas tinha um daqueles pequenos gravadores, usados para carregar os jogos de computador no saudoso ZX Spectrum 46K. O famoso gravador de cassetes da marca “Computone”. Quando pus a cassete nesse mítico gravador e comecei a ouvir aquilo, a minha vida mudou completamente. Até ali o que me interessava de música era Bryan Adams, Scorpions e alguma música que se ouvia nos anos 80, mas não tinha nada deles, cassetes ou discos. A partir daí começou a minha busca incessante por bandas de metal, comprei um gravador como deve ser (com colunas e tudo… lol…) e comecei a ouvir bandas mais pesadas como Metallica, Slayer e assim. Uma das coisas que me ajudou muito na minha entrada na música pesada, foi uma estação de televisão pirata, que surgiu nos anos 80, penso que se chamava TRL (Televisão Regional de Loures), nesse canal pirata, para além de filmes, existia um programa de Heavy Metal. Foi aí onde tive um contacto mais profundo com o mundo do Heavy Metal, através dos videoclipes que emitiam. Depois surgiram os programas de rádio, “O Mensageiro do Massacre” na Rádio Voz de Almada, o “Lança-chamas”, etc. Quando dei por mim, já pertencia à tribo dos metaleiros, onde criei amizades com vários nativos da mesma etnia.

Promo-Picture-3O tornar-me músico, veio por acréscimo. Através das amizades que criei com os meus companheiros de juventude e infância, amizades que ainda se mantêm. Conheci um pessoal nas aulas de Karaté, que frequentava nessa altura, todos de Santo António dos Cavaleiros, então no meio desse grupo de amigos surgiu a ideia de formar uma banda de Heavy Metal. Através de violas acústicas, almofadas, bancos, panelas e tampas de tachos, para se fazer uma bateria, começámos essa aventura. Depois começámos a alugar um estúdio de ensaios em Lisboa, segundo me recordo, na Rua Morais Soares. Era aí onde fazíamos o barulho mais a sério e onde os Guilhotina (o primeiro nome da banda) começaram a compor e a tocar as primeiras músicas, numa vertente mais Punk/Hard Core. Mais tardes, através das mesadas, prendas de aniversários e natais, surgiram os primeiros instrumentos. Por volta de 1989/90 a banda passou a denominar-se Extreme Unction, inicialmente com uma sonoridade mais Thrash e mais tarde Death Metal. Os ensaios passaram a alternar entre as nossas casas, a Associação de Moradores de Santo António dos Cavaleiros e um estúdio na Povoa de Santo Adrião.

Os Festering são formados em 1992 e junto com o vosso outro projecto, os Morbid Symphony editam um split. Isto tudo ao mesmo tempo que através dos Extreme Unction também editavam material. Na altura o que representava os Festering para vocês? Os Extreme Unction tiveram um papel importante nos Festering?

Extreme Unction era a nossa/minha banda, era através dela que ambicionamos viver da/para a música. Os Morbid Symphony e os Festering, bem como os Necro Terror, Benevolence ou Gritos Oleosos, eram projetos paralelos que eu tinha com alguns elementos dos E.U., ou com outro pessoal. Esses projetos reuniam outro tipo de influências musicais que não tinham espaço nos Extreme Unction. Nessa altura havia tempo para tudo, só estudávamos e tocávamos música. Sempre que surgia alguém com uma ideia para uma sonoridade diferente da banda principal, criávamos um projeto e gravávamos alguma coisa nos nossos locais de ensaio, através dos nossos meios. Os Extreme Unction eram a banda principal, para a qual investíamos o nosso dinheiro, com a qual dávamos concertos. Os Extreme Unction foram importantes para os restantes projetos, devido aos músicos que se envolviam nesses mesmos projetos e as influências diversificadas que traziam para eles.

Em 2012 apresentam a demo “From the Grave” e pouco depois editam o portentoso EP “Exhumed”. O que acharam da recepção do público a estas duas edições que servem de regresso aos Festering?

Penso que a receção foi positiva, pelas opiniões recolhidas, acho que as pessoas gostaram do trabalho. Nomeadamente da Demo-tape, pois o EP teve uma edição muito limitada, daí não dispormos de um termo de comparação. Mas penso que, duma maneira geral fomos bem recebidos, pelo que podemos aferir através do rápido escoamento do material em venda.

a3327162198_10Passados estes anos já tem prevista a edição do longa duração para breve? Como decorreram as gravações? Quais as temáticas que abordam?

Neste momento estamos em gravações de 10 novos temas, para uma possível edição, caso surjam interessados em lançar o álbum. Estas novas músicas abordam temas mais violentos, numa vertente mais “gore”, desde guerras étnicas e religiosas, genocídios históricos, a temas mais surreais ligados ao terror, ao imaginário zombie e dos velhos filmes de humor e horror como: “The Texas Chain Saw Massacre”; “Bad Taste”. Musicalmente, a sonoridade dos novos temas aproxima-se mais do Gore/Grind (Napalm Death, Carcass), embora se mantenham as influências Death Metal (Entombed, Death, Bolt Thrower, Obituary).

Está previsto também, não sei se ainda para este ano, o lançamento em CD dos dois trabalhos de 2012 (Demo + EP). Edição conjunta da Sinais produções, War Prod e Caverna Abismal.

Ao longo destes anos dentro do meio qual é a tua opinião acerca do metal feito em Portugal? As coisas estão melhores? O death metal ainda respira por cá?

Penso que duma maneira geral o Death Metal em Portugal tem subido de nível, tem acompanhado os tempos e a décalage que existia entre o que se fazia lá fora e o que se fazia em Portugal esbateu-se. Temos bandas com qualidade equiparada ao que se faz nos outros países. Penso que isso é transversal aos outros estilos de Metal. Temos excelentes bandas a lançar bons trabalhos, desde o mais pesado e extremo ao mais melódico e tradicional, como é o caso dos últimos trabalhos de Neoplasmah, Filli Nigrantium Infernalium, Ravesire, Perpetrator… existem boas bandas dentro do Death/Grind, das quais aprecio e que estão bastante ativas em Portugal, Undersave, Dementia 13, Serrabulho, Holocausto Canibal, Grog, Serrabulho, Dawn of Ruins.

Há vinte e tal anos atrás, tal como hoje, havia boas bandas. Não havia as mesmas condições logísticas, tecnológicas e técnicas, nem os músicos eram tão dotados, embora existissem alguns bons executantes. Não havia tantas condições, mas existiam músicos talentosos, criativos e com grande vontade, e, havia todo um admirável mundo novo por explorar. Pois hoje em dia, porventura, estará tudo inventado, qualquer banda que surja não deverá ter pretensões à originalidade, pois a sua música terá sempre uma base em algo já feito. Não digo que as bandas não possam ter a sua sonoridade própria, algo que os distinga dos demais, mas originalidade e inovação não me parece muito provável. A prova disso é a onda de revivalismos que ciclicamente vai surgindo em todos os quadrantes da música.

Hoje em dia existem melhores instrumentos, tecnologia altamente evoluída, mais, maior e melhor acesso ao conhecimento musical. Quer à divulgação do nosso trabalho, quer ao estudo e execução da própria música. Escolas, professores, literatura, vídeos na internet, enfim… uma panóplia de fontes de informação nos mais diversos formatos. Mas isso melhora a sonoridade da música, a qualidade técnica ajuda muito, mas se não houver criativos, bons compositores, a música não chega às pessoas, o público não se revê no que ouve. Um bom executante, com bons instrumentos e bons recursos financeiros e logísticos, não será obrigatoriamente um bom compositor. E o Death, Heavy, Power, Speed, Grind…como o jazz, blues ou a música clássica, é uma forma de arte, e os músicos são os artistas. Sendo assim, não basta haver bons executantes, é preciso a genialidade dos músicos para marcar a diferença entre o que é som e o que é música. Mas claro está… os verdadeiros juízes são o público, os ouvintes, neste caso os metaleiros.

É tudo e muito obrigado por esta colaboração. E já agora uma última palavra para os leitores.

Espero que apoiem o metal nacional e as bandas que, com grande esforço, mantêm Portugal no mapa da música pesada. Muitas vezes as bandas parece que precisam alcançar o respeito internacional, para receber o devido mérito no nosso país. Consumam o material das bandas nacionais, apareçam nos seus concertos e divulguem o nosso trabalho pelos vossos locais de socialização, físicos ou virtuais.

\m/ .. .Death Metal…The Brutal Way!!!… \m/

Para adquirir o novo trabalho “From the Grave” (2015) verifica aqui: Caverna Abismal Records

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